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28 de outubro de 2008

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Internacional

A vingança de Keynes


Loretta Napoleoni
Gramsci e o Brasil / L'Unitá, outubro de 2008.

Tradução de A. Veiga Fialho

 

A América descobriu um novo autor de sucesso, Hyman Minsky, o economista neokeynesiano que nos anos setenta desenvolveu a "hipótese da instabilidade financeira", uma teoria que explica a atual crise de crédito. Seus livros vendem literalmente sem parar. Todas as redes de televisão gostariam de entrevistá-lo, mas nenhum jornalista vai conseguir. Minsky morreu em 1996, aos setenta e sete anos. Sua teoria pode ser resumida numa frase: abandonado a si mesmo, o sistema capitalista é endemicamente frágil.

A psicose dos mercados, insaciáveis apesar das injeções cotidianas e maciças de dinheiro vivo (quase três trilhões de dólares até hoje), desnuda a profunda instabilidade de um sistema já incapaz de administrar a si mesmo. Aproximamo-nos perigosamente de uma nacionalização generalizada, manobra que nem os governos nem os mercados querem. Talvez a estratégia a seguir esteja oculta precisamente nos escritos de Minsky, páginas que Gordon Brown está seguramente relendo. Foi ele quem assumiu as rédeas do plano de resgate do sistema bancário internacional, um projeto que se baseia na "hipótese da instabilidade financeira".

Para Minsky, o que torna endemicamente frágil o capitalismo é a acumulação de dívidas. Nos períodos de expansão econômica, sobe o endividamento. Quanto mais alguém se endivida, mais ganha, e, desde que a economia cresça, os bancos, por ele definidos como mercadores da dívida, estão inteiramente dispostos a conceder empréstimo. Nos Estados Unidos, até há um ano, bastava ter emprego para conseguir um empréstimo e comprar uma casa. Também nos anos vinte, o crescimento econômico foi acompanhado pela elevação da dívida. Pouco antes da crise de 1929, a taxa de crescimento do endividamento superava amplamente a de pagamento da dívida. É neste ponto que, segundo Minsky, acontece o prelúdio da crise. Em 2006, nos Estados Unidos, a taxa de crescimento de falência pessoal supera a do PIB; no entanto, só alguns poucos operadores financeiros reconheceram este sinal de alarme. De fato, poucos liquidaram os pacotes acionários antes de agosto de 2007, quando estoura a crise dos empréstimos americanos.

No entanto, hoje a atenção se concentra na criação da bolha. Segundo o economista, existem três tipos de empréstimo. O primeiro é aquele que cobre o risco: quem o contrai quita-o através do fluxo de caixa. Este é o caso de um agricultor, que, na época do plantio, faz uma opção de compra de sementes para se proteger das variações de preço no ano seguinte. Exerce a opção, paga o produto com o que obteve da venda da colheita. Em segundo lugar, existe o empréstimo especulativo, em que só se pode pagar os juros da dívida. Alguns empréstimos subprime foram estruturados deste modo: quem os contrata espera vender a moradia antes que o empréstimo atinja um preço mais alto do que o capital e assim liquidar o empréstimo.

O último grupo, aquele que mais interessa a Gordon Brown, é o chamado empréstimo Ponzi, em que não se dispõe de recursos para pagar juros e capital. É a subida de valor dos bens adquiridos ao se endividar que financia a dívida. Nos últimos anos, as corretoras adquiriram pacotes acionários graças às linhas de crédito dos bancos e, toda vez que o valor das ações subia, contraíam novas dívidas para comprar mais. O mesmo princípio levou o Lehman Brother à falência: quando o valor dos empréstimos em carteira entrou em colapso, o banco se viu com uma dívida 22 vezes maior do que o capital social.

A fragilidade descrita por Minsky está no livre acesso dos bancos ao empréstimo Ponzi. Três instituições de crédito islandesas acumulam uma dívida de cerca de 61 bilhões de dólares, doze vezes o PIB da Islândia. Como é que um país com uma população de apenas 320 mil habitantes, cerca da metade dos residentes de Las Vegas, se endividou tanto? É simples. De 2004 a 2008, o valor dos bens em carteira, entre os quais os empréstimos americanos, quintuplicou, e os bancos usaram isso para abrir novas linhas de crédito. Na euforia criada pela subida dos índices da bolsa, os operadores financeiros inflam a bolha, em vez de prevenir o colapso: endividam-se excessivamente. No ano passado, a Merril Lynch pagou bônus de 15,9 bilhões de dólares, contra perdas de 8 bilhões. Pensava-se poder cobrir o prejuízo com lucros recordes no ano seguinte!

A fragilidade do sistema está na gestão; eis por que a proposta de Gordon Brown penaliza gestores e acionistas. Nada de dividendos nem bônus biliardários, enquanto a dívida com o Estado não for toda paga. Mas há resistência, e muitos liquidam as carteiras e vão para o outro lado do oceano, onde as regras são menos rígidas. Para que o plano funcione, todos devem aplicar a linha dura que seguramente vai acalmar também a ira do contribuinte. Como dizia Keynes: o bom banqueiro não é o que evita a bancarrota, mas o que, quando se dá o caso, arruína-se com seus clientes, de modo que ninguém lhe possa atribuir a responsabilidade pelo ocorrido.

 

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