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28 de outubro de 2008

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Cultura

Talento e sensibilidade


Gildo Marçal Brandão (*)
Gramsci e o Brasil / La Insignia, outubro de 2008.

 

É raro encontrar um analista de conjuntura do calibre de Luiz Guilherme Piva. A maioria do jornalismo econômico é pura ideologia: vive de atacar preventivamente qualquer opinião que fuja ao mainstream. Parece objetivo porque é majoritário e nessa era de restauração, perdeu o pudor de conectar opiniões econômicas e defesa aberta do status quo (não só o governamental, mas o estrutural). Em A Miséria da Economia e da Política (Barueri, SP: Editora Manole Ltda., 2008, com prefácio de Antonio Delfim Netto), Piva, ao contrário, toma a relação entre economia e política não como um dado, mas como problema. Seu ponto de partida é a constatação da virtual ausência de debate sobre alternativas estratégicas e, ao mesmo tempo, o reconhecimento de que há um amplo consenso sobre a pauta econômica que rege os destinos do Brasil desde o governo Collor. Mas não se deverá a ausência ao consenso? Não será essa virtual unanimidade burra? Seja como for, há diferenças - e Piva não esconde o juízo segundo o qual o governo Lula, ainda que labore em terreno aberto pelos outros, foi além deles.

Com sólida formação acadêmica, ele insiste em discutir estratégias. Eis a situação: dependendo dos participantes, do público e das instituições que o promovem, o debate se dá entre a longa duração e o curtíssimo prazo. No caso dos primeiros, os da esquerda e do mundo acadêmico das ciências sociais, os atores reconhecidos são as classes, o Estado, o capital, a nação, os interesses, processos e projetos. No segundo, os dos economistas e dos operadores do mercado e do governo do dia, são a taxa de câmbio, o risco país, o ajuste fiscal, o palanque, a eleição seguinte. Os dois planos não se conectam. Ao contrário disso, Luiz Guilherme Piva rejeita tanto o excesso como o vazio de categorias. A análise busca um tertium datur: a conjuntura, as exigências do dia jamais são enfocadas divorciadas do seu enquadramento mais geral que, por sua vez, ganha concretude a cada passo.

Fazer isso em artigos de jornal? É difícil, é interessantíssimo. É aqui que o talento se revela. No caso de A Miséria da Economia e da Política, não é preciso concordar com o autor, é sempre um prazer lê-lo.


(*) Professor Associado do Departamento de Ciência Política da USP e pesquisador do Cedec.

 

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