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20 de setembro del 2007

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Editores que empacam, revisores que enrolam


Felipe A. P. L. Costa (*)
La Insignia. Brasil, setembro de 2007.

 

Escrever e reescrever o mesmo manuscrito várias vezes ofusca o autor. Por isso, sempre que possível, vale a pena expor versões preliminares a um ou outro colega, colhendo em seguida as sugestões. Descuidos na linguagem, por exemplo, são comuns e podem ser detectados com mais facilidade por um leitor que ainda não esteja viciado no texto. Mais tarde, leitores especializados -i.e., colegas que comumente lêem e escrevem artigos sobre assuntos semelhantes- poderão, quem sabe, detectar erros e deficiências de conteúdo, propondo então mudanças adicionais mais substantivas.

Feito isso, e tendo enviado a versão final do manuscrito para o editor chefe de algum periódico respeitável, caberia perguntar: quanto tempo teremos de esperar até ver o manuscrito publicado como artigo científico? (Admitindo, claro, que ele não seja sumariamente recusado.) A rigor, boa parte do tempo de espera depende do tamanho da fila - i.e., manuscritos enviados antes do nosso e que já foram aceitos estão agora apenas aguardando a sua vez de ir para a gráfica... Filas grandes, claro, podem ainda indicar que a revista está sendo muito procurada - em função, talvez, de alguma conjuntura favorável ou do bom conceito que usufrui na comunidade científica.

De um modo geral, diria que o autor brasileiro tem de esperar em média cerca de um ano (às vezes um pouco mais) até ver seu manuscrito publicado em alguma de nossas revistas científicas. Esse intervalo de tempo inclui, entre outras coisas, o que é gasto pelo editor até encontrar os revisores que farão uma leitura crítica e minuciosa do manuscrito. Na maior parte do tempo, entretanto, parece que os manuscritos permanecem em poder dos próprios revisores. Eis, então, o xis da questão: de quanto tempo um revisor médio precisa para fazer uma leitura crítica minuciosa?

Revisores bons e experientes talvez demorem a devolver os manuscritos por excesso de trabalho e, nesse caso, caberia ao periódico aumentar o seu quadro de revisores. Por si só, no entanto, essa medida não resolveria um outro tipo de problema: alguns manuscritos enfrentam longos e desnecessários períodos de espera simplesmente porque seus revisores foram pegos de surpresa e não sabem bem o que fazer com o material. Problemas desse tipo devem ser particularmente comuns em comunidades científicas imaturas, nas quais o senso crítico ainda é pouco desenvolvido.

Contornar ou mesmo reparar a inação de revisores que enrolam pode se converter em um problema particularmente melindroso para os editores. Em todo caso, trata-se de um problema que precisa ser enfrentado de frente, sob pena de os editores empacarem ainda mais o processo em curso. Da parte dos revisores, bastaria devolver logo aos editores aqueles manuscritos sobre os quais eles não se julgam em condições de avaliar ou emitir um parecer. Pode ser uma decisão difícil para egos inflados, mas seria uma clara e oportuna demonstração de integridade profissional.

A adoção de expedientes mais ágeis no processo de revisão, combinada com o aumento no quadro de revisores, poderia, quem sabe, alcançar simultaneamente dois objetivos: primeiro, encurtar o tempo de espera dos manuscritos que serão de fato publicados; e, segundo, elevar o nível de qualidade dos artigos que são publicados em nossas principais revistas científicas.


Nota

(*) Biólogo (meiterer@hotmail.com), autor de Ecologia evolução & o valor das pequenas coisas (2003) e A curva de Keeling e outros processos invisíveis que afetam a vida na Terra (2006). Versão algo diferente deste artigo foi originalmente publicada na edição impressa de 30/1/1998 (No. 382) do Jornal da Ciência http://www.jornaldaciencia.org.br/index2.jsp.

 

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