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4 de maio de 2007 |
Fernando Soares Campos
Primeiro nós falamos "mamãe" ou "papai", e os dois aplaudiram; um deles um tanto decepcionado, pois queria ter ouvido o seu nome pronunciado primeiro que o do outro. Depois nos tornamos uma espécie de boneco de ventríloquo nas reuniões em que papai e mamãe participavam; e todos aplaudiam as nossas palreações.
No primeiro ano escolar, apaixonados, escrevemos a primeira poesia. Inicialmente apenas a professora aplaudiu. Bom, as menininhas que estariam apaixonadas por nós pensaram que elas teriam sido as nossas musas e também aplaudiram. Mas isso não conta, pois a verdadeira musa aplaudiu primeiro. Outros aplausos aconteceram em casa; mas só papai e mamãe castigaram as palmas das mãos, timidamente, para nos incentivar. A reação dos nossos irmãozinhos foi apenas o eco das chacotas dos coleguinhas no recreio da escola.. Na pré-adolescência demos muito prejuízo ao papai e à mamãe, além de contribuirmos para a desertificação do Planeta, gastando papel, que, para ser produzido, exigiu a derrubada de inúmeras árvores. Nele escrevemos, os amassamos e jogamos na lixeira. Deve ter sido a nossa primeira atitude semancômetra. No jornalzinho do colégio, nos projetamos em cópias mimeográficas através do pensamento brechtiano; e os colegas aplaudiram Bertold Brecht usando a gente como tabela; e nós nos sentimos aplaudidos, fazendo de Brecht a nossa tabela. Entre a adolescência e a juventude adulta, rimos da nossa própria insipiência no passado, exibindo a nossa insipiência moderna, atualizada. Na meia-idade nos tornamos gênios de nós mesmos, conseguimos compreender as esquisitices do passado e dissimulamos nossas novas esquisitices, que agora se chamam excentricidades. Na idade provecta fazemos de tudo, se possível até arranjamos uma síndrome de avestruz, também conhecida como mal de alzheimer, a fim de que não nos encham o saco, nos fazendo lembrar o quanto foi inútil tudo aquilo que dissemos ou tentamos dizer. |
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