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31 de julho de 2007 |
Luís Nassif
A celebração do feito de Hugo Hoyama no tênis de mesa me trouxe de volta boas lembranças dos tempos em que praticava o esporte, que sempre teve ídolos de primeira. O maior deles foi Biriba.
Pelé foi gênio aos 17 anos. Aos 13, apenas Biriba no tênis de mesa e Mequinho no xadrez. A bem da verdade, naqueles anos 50 e 60, em que apareceram as primeiras glórias do esporte nacional, o tênis de mesa não chegava a ser atividade nobre. Havia o boxe, com Luizão, Fernando Barreto e, principalmente, Éder Jofre; o futebol, com a geração de 58; o salto triplo de Ademar Ferreira da Silva, o atletismo múltiplo do grande José Telles da Conceição e o tênis feminino de Maria Esther Bueno, no final dos anos 50. Já na década de 60, Thomaz Kock surgia como o grande nome do tênis masculino brasileiro, mas provocava uma implicância danada da imprensa. Para alguns, o craque brasileiro era Ronald Barnes, que se tornou professor de tênis nos Estados Unidos. Outros insistiam em Edson Mandarino, outros falavam muito de um carioca, campeão amador brasileiro, de nome Jorge Paulo Lehmann -futuro Banco Garantia. Mas quem levava os títulos era mesmo o Kock, que ainda por cima usava um rabo de cavalo à Woodstock que lhe dava um certo ar de contracultura zen. O tênis de mesa era o primo pobre do tênis de quadra. Mas foi nele que apareceria o mais precoce fenômeno do esporte brasileiro: Biriba. Lá na Associação Atlética Caldense sempre tivemos boa tradição no tênis de mesa, que remontava os anos 40. Nos anos 60, veio morar na cidade o Paulo Eugênio, ex-campeão carioca de duplas, e que era filho do Vivaldi, o grande empreendedor que transformou a Cinelândia do Rio e construiu o Quisisana em Poços -que teria sido um dos maiores hotéis cassinos do país, não fosse o fato de alguns meses após a inauguração dona Santinha ter convencido o presidente Dutra a fechar o jogo. O Paulo Eugênio era um fenômeno -pelo menos era o que a gente pensava. Tinha uma doença qualquer que atrapalhava seus movimentos, por isso quase não se movia sobre a mesa. Ficava na defensiva, com aqueles movimentos de cortes curtos para baixo na bola, que a gente chamava de nheco-nheco. A tática impedia o ataque do adversário. Era só o adversário cansar com o ataque para Paulo Eugênio desfechar um top spin mortal -aquele golpe longo na bola, com a raquete fazendo um movimento de baixo para cima, que confere um efeito em forma de elipse. As cortadas de Paulo Eugênio eram apenas colocadas. Mas ele tinha um lance qualquer, uma forma de "não" olhar a bola, que sempre jogava o adversário no lado oposto da mesa. Comecei a praticar o tênis de mesa aos 14 anos. Os mais antigos -como o Romeu Popó, o Armandinho e o Rui-diziam que o tal do top spin tinha sido ensinado ao Paulo Eugênio por coreanos que foram jogar no Rio. Eu e o Amílcar Caselli Neto, o Netinho -meu companheiro de treinos-ficávamos muito impressionados. O grande momento do tênis de mesa em Poços foi quando Paulo Eugênio convidou Biriba para uma temporada no Quisisana, com direito a treinos diários matinais. A molecada da Caldense ia toda para lá ver o Biriba cortar e o Paulo Eugênio aparar. Pois eu dizia do craque precoce. Biriba tinha 13 anos quando foi disputar o campeonato mundial, no Japão. Na segunda ou terceira rodada pegou o então campeão mundial, e o venceu. Há um lance no jogo que entrou para a história do tênis de mesa mundial. Foi quando o campeão japonês deu uma cortada forte, a bola bateu perto da rede e subiu que nem foguete. A bola passou por Biriba que, rápido como um raio, deu um salto e cortou a bola de costas, conquistando o ponto. A fotografia do lance foi aproveitado por uma fábrica japonesa para lançar a raquete Biriba, das mais prestigiadas da época. Depois disso, não havia moleque brasileiro que não sonhasse em ser como o Biriba. Tive lá meu curto período de bom jogador, cheguei a ser campeão de Poços e vice da Média Mogiana. Depois, o Tiro de Guerra acabou com meu tempo livre e disputei um campeonato mineiro em péssimas condições técnicas. Foi nesse campeonato que a glória de Paulo Eugênio atingiria o máximo. Venceu todos os campeões mineiros, um povo de Belo Horizonte que chegou em Poços achando que estava em cima da carne seca. Na decisão, destruiu o campeão Ivan em dois sets, deixando-o estatelado umas duas vezes no chão com seu estranho golpe de corpo. Voltei a me entusiasmar com o tênis de mesa no ano seguinte quando, recém chegado a São Paulo, conheci o Pedrinho, filho de iugoslavos, dono de uma banca de revistas na rua Maria Paula, integrante da Seleção Paulista de Veteranos e um gozador incorrigível. O dia em que Pedrinho ficou de me apresentar o pai de Biriba foi o mais glorioso de minha curta carreira de caipira recém-chegado a São Paulo. Saí mais cedo da faculdade só para antecipar o grande encontro. Seu Biribão tinha uma loja que vendia frangos engradados, na Vila Maria Alta. Lá, o pai coruja mostrou os álbuns com recortes de jornais sobre o filho. Depois, explicou que a carreira de Biriba começou a declinar com a idade, porque sua grande vantagem eram as pernas ágeis de menino. A conversa fluiu e perguntei de Paulo Eugênio. "Ah, o Paulinho, grande amigo nosso", disse ele. "E grande jogador, né?", arrisquei. "Não, como jogador era fraquinho" -era o velho Biribão dos frangos engradados deixando em frangalhos a reputação do nosso campeão. Tentei argumentar: "Fraco perto do seu filho, que quase foi campeão mundial". E seu Biribão, decretando a sentença de morte em minha crença de que algum dia poderia vir a me tornar um bom jogador: "Que nada. Até eu ganhava dele". Nunca contei essa história em Poços para não desiludir a minha geração de mesatenistas. Conto agora, porque acho que eles já estão em idade de absorver esse golpe. |
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