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La insignia
14 de julio del 2007


O valor da Universidade em função
do valor da formação superior


Celso Luiz Lopes Rodrigues (*)
La Insignia. Brasil, julho de 2007.


Um tema recorrente em observações de pessoas que sabem para onde vai o mundo, do jeito que as coisas estão, é o valor da formação em nível superior. Para uns, é importante que cada um tenha a oportunidade de vivenciar a experiência da Universidade, onde se situaria um foco excelente da cultura humana. Caberia discutir um tal otimismo. Porém, me parece mais necessário enfrentar a opinião oposta: a de que essa experiência estaria se tornando cada vez mais inócua, quando não deletéria. Argumentam que um curso superior, hoje, nem dá condições a um egresso de obter um emprego (seja pela fragilidade dessa formação, seja porque os empregos estão desaparecendo, numa reacomodação estrutural do capitalismo), nem o capacita para ser "empreendedor", para criar e gerir seu próprio negócio, na selva neossocialdarwinista. Nessa linha, como ilustração da falência da Universidade em seus objetivos citam o número de bacharéis em Direito que não advogam; dos professores de Letras que não ensinam nenhuma língua; dos oceanólogos que não trabalham profissionalmente com o oceano etc., apresentando, então, para o devido impacto, os detalhes anedóticos sobre o último motorista de táxi com quem se encontraram que era formado em X-logia. Em conclusão, a Universidade dita humboldtiana, da formação básica propriamente universalista, ainda que mais ou menos concentrada para uma carreira ou família de carreiras, deveria dar lugar a uma universidade dita técnica, focada na construção e atribuição de competências "concretas", valiosas para o "mercado" profissional, ergo, focada na empregabilidade ou na sustentabilidade de um empreendimento pessoal ou empresarial. Ao fim e ao cabo, na constatação do comentarista de que o taxista era formado em X-logia e não X-logava, percebe-se, não uma preocupação com o destino do rapaz, mas, isto sim, um lamento quanto ao destino dado aos vultosos recursos gastos, em vão, segundo sua ótica, na concessão a ele de uma oportunidade. "Oh! My money!"

Acontece que nesse quadro axiológico, o valor da formação em nível superior se pauta pelo ganho individual, sobre o quanto o indivíduo se vale da Universidade para alcançar uma certa ascensão social, para seu benefício próprio, enfim, desconsiderando-se possíveis e reais efeitos quanto ao benefício coletivo a ser acumulado a partir da melhoria geral do nível cognitivo e cultural de toda a população. Pior: dá valor ao ganho que o terceiro beneficiário (provavelmente um capitalista investidor) conseguirá extrair da competência do egresso, mais do que o egresso terá para si próprio. Isto é: do quanto uma classe dominante espera obter do sistema educacional na forma de "qualificação da mão-de-obra". Dessa forma, o argumento de que a Universidade não cumpre seu papel na medida mesma em que não dá empregabilidade imediata nem imediato sucesso na livre iniciativa, deriva de uma projeção rasteira do pensamento econômico, na qual o único "valor agregado" da Educação é o retorno do "investimento" aquilatado em termos de salário ou de pro-labore final, ou de lucro, mesmo, dado aos patrões que, afinal, sustentam esta nação.

No Brasil, mesmo, já existem diversos níveis de educação (superior, como os cursos de formação de tecnólogos, ou pós-médios) voltados para o "mercado", opções para quem não queira (ou não possa) seguir uma carreira "tradicional". Como professor, deparo-me, no entanto, com egressos desses cursos que buscam a Universidade. Mal ou bem, o que os motiva não é apenas a falta na parede do diploma de curso pleno, mas, também, a percepção de uma formação inconclusa, muito baseada nas receitas de procedimentos, na mera absorção de "know how". Ora, nem todos se contentam com isso. Mesmo sem se dar conta, as pessoas querem se formar em "know why". No entanto, mesmo para aqueles que buscam formalizar uma competência adquirida empiricamente (o que, muitas vezes, não é mais do que lhes dão tais cursos), revela-se difícil acompanhar os estudos universitários, pela falta de base cultural, científica e até lingüística, no que não diferem dos estudantes que vêm do ensino médio. Isto quer dizer que esses cursos "aligeirados" não conseguem "formar" as pessoas, dão-lhes apenas um paliativo, um grau de empregabilidade imediata, conforme a sanha momentânea do "mercado" de trabalho. Assim que desapareça a demanda específica, esses "profissionais" vão se encontrar perdidos. Para eles mesmos e para a sociedade.

Aí vem a segunda parte. Quem é que pode se adaptar a essas alterações conjunturais? Não é aquele que teve um belo treinamento. É aquele que teve alguma formação com valores adicionais em termos não de empregabilidade imediata, mas de uma adaptabilidade derivada da compreensão dos sistemas profissionais, sociais, técnicos e tecnológicos que o cercam. Isto só é conseguido pelo envolvimento acadêmico com a pesquisa, pelo enfrentamento das exigências maiores de um curso estruturado, e até mesmo pela vivência mais prolongada no campus (quatro ou cinco anos em vez de três ou dois) com diversos grupos. É utópico ver isto implementado de forma integral, como seria o ideal? Sim, mas, na prática, verifico ser melhor pouco em direção a isto que nada, como é a filosofia da "universidade" técnica.

E esta adaptabilidade dada pelo ensino superior em qualquer área é que permite a um matemático atuar como projetista de software, ou um professor de inglês como secretário executivo, ou uma secretária executiva como publicitária, ou um advogado como escritor de best-sellers, ou um químico como biólogo, ou um informata como "designer" industrial, ou um engenheiro como professor de informática, um biblioteconomista como museólogo, sem falar em transições mais radicais como físicos em músicos. Lembra-me a observação repetida de que "já há arquitetos demais, todos desempregados". Ora, um curso como Arquitetura (só um exemplo) dá tantas, tão múltiplas e tão vastas oportunidades de inserção cultural que um arquiteto pode se engajar numa gama enorme de trabalhos e projetos.

Logo, esta diversificação de atividades que os titulados demonstram não é o fracasso do ensino do superior. É o seu sucesso. É a prova de que não foi em vão o tempo de formação despendido. Esta identidade de curso e profissão é uma adequação econômica, de relação custo-benefício, como vista pelos investidores (seja a sociedade, seja o próprio estudante). Mas é uma visão incompleta. Formar arquitetos e esperar que só projetem edificações e desenvolvam projetos urbanísticos e de paisagismo, é que seria um desperdício. Ou seja: ao final, mesmo para os interesses de quem defende a lucratividade pura e simples de todo "empreendimento" educacional, a diversidade de formação e a imponderabilidade da vivência universitária (em vez do foco técnico-behavioralista) acabam por instrumentar de modo proveitoso os "melhores" para a vida em sociedade em todas as suas dimensões, inclusive, e não só, econômica e profissional.

Numa visão mais radical, que é a minha, sim, a formação completa em nível superior deve propiciar a experiência do aprendizado, mais do que a qualificação técnica. E nesse sentido, é direito de todos. Não só de quem vá exercer exatamente a profissão associada com um certo curso, com demanda identificada.

A formação "profissional" na Universidade é, até certo ponto, ainda, um pretexto para manter a formação paralela, esta, sim, mais importante, a qual, se fôssemos um pouco adiante, veríamos ser cada vez mais execrada justamente pelos gerentes do mundo, que não são exatamente aqueles que querem o bem da juventude.

No momento em que os operários da "Nova Era" forem todos conformados nas máquinas de fabricar autômatos humanos de alta especificidade, via "cursos" aligeirados ou treinamentos de alta performance cognitiva e assim por diante, finalmente a Universidade simplesmente não terá mais razão de existir. Pelo menos, não mais sustentará a tão sagrada razão custo-benefício. Nessa matriz, não terá mais valor nenhum.


(*) Mestre em Ciência da Computação, professor assistente, Fundação Universidade Federal do Rio Grande, Rio Grande - RS, Brasil.



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