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La insignia
1 de marzo de 2007


Brasil

A manipulação dos economistas


Luís Nassif
La Insignia. Brasil, fevereiro de 2007.


Uma das grandes ferramentas de manipulação das informações econômicas são as chamadas "correlações". O que vem a ser isso? O economista quer defender determinada tese. Ele junta, então, duas linhas em um gráfico, mostrando que há uma correspondência entre ambas. A partir dessa correspondência, ele conclui que há uma relação de causa e efeito. Vamos conferir em linguagem mais acessível.

O economista quer defender o aumento das importações. Ele monta um gráfico, então, com duas linhas. Na primeira, o comportamento das contas externas; na segunda, o comportamento da poupança e do investimento interno. Quando o saldo externo aumenta (isto é, há mais exportações do que importação), o consumo e a poupança caem. A partir desse gráfico, ele tenta passar ao leitor a conclusão de que aumento do saldo comercial provoca redução do crescimento. Ou seja, de uma correlação ele tirou uma relação de causa-e-efeito, em geral falsa.

Quando o Banco Central joga a taxa de juros nas alturas (como agora) e provoca uma retração no crescimento, há uma redução nas vendas internas. A tendência será a empresa vender menos para o mercado interno, e exportar mais. Por outro lado, com o desaquecimento da economia, caem os lucros dela. A tendência será reduzir a poupança e o investimento.

Veja, então, que o que provocou a redução nos investimentos e da poupança foi o aumento nas taxas de juros do BC. E esse mesmo aumento provocou o aumento das exportações e redução do mercado interno.

Para a "correlação" ser correta, então, haveria a necessidade do economista colocar as duas linhas e mais uma terceira ou quarta, de juros do BC e de nível da atividade econômica. Aí ficaria provado que são os juros que provocam queda na atividade; e que a queda na atividade é que provoca aumento do superávit e queda na poupança interna. A análise ficaria correta, mas a tese a ser defendida ficaria prejudicada.

Outro "truque" comum é comparar o superávit comercial do Brasil, atualmente, com o que exibia em outros momentos. Como se sabe, nos últimos anos houve enorme avanço nos preços das commodities agrícolas e minerais. A natureza do superávit é totalmente diferente de outros períodos, em que havia boa presença de produtos manufaturados e semi-manufaturados.

É por isso que se cria esse nó na cabeça dos empresários, principalmente daqueles diretamente afetados pelo câmbio. É evidente que quando o real se aprecia (isto é, fica mais caro que o dólar), todos os produtos brasileiros passam a custar mais caro, em relação aos de países concorrentes. E é óbvio que, ficando mais caro, será muito mais difícil ao empresário competir.

Mas graças a essas "magias", economistas tentam inventar a roda quadrada. Jogam com falsas "correlações", para tentar provar que os problemas não existem ou são passageiros.

Uma empresa sua sangue para conseguir derrubar seus custos em 5, 10%. Nos últimos anos, o real se apreciou (isto é, ficou mais caro) em mais de 40%. Não há aumento de eficiência que consiga superar esse nível.

Por isso mesmo, a cada volta no parafuso do câmbio, mais empresas fecham, mais setores desaparecem.


SDE e competição

Recentemente, a Secretaria de Direito Econômico (SDE), resolveu se insurgir contra decisões do MDIC (Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior), de estabelecer barreiras à produção de importados. Alegou que prejudicava a concorrência. Defesa da produção nacional, em caso de flagrante distorção econômica (como é a apreciação do câmbio) é estratégica nacional. Há uma interferência indevida na questão.

Soluço chinês 1

Ontem a Bolsa de Valores da China sofreu uma queda de 8%, influindo em várias bolsas do mundo. Apesar do soluço, não há nada de mais grave nisso. A Bolsa chinesa tem pouca relevância para a economia chinesa. E o solavanco foi em função do boato de que as autoridades chinesas irão tributar o excesso de ganho dos investidores. No ano passado, a Bolsa proporcionou lucros de mais de mil por cento.

Soluço chinês 2

A posição do presidente do Banco Central Henrique Meirelles, de que o soluço chinês obrigará o Banco Central a ser mais cauteloso na política de juros, é oportunismo. Alguns dos maiores bancos estrangeiros no país minimizaram o episódio. A troco de quê o presidente do BC tenta dramatizá-lo? Enquanto isto, o próprio mercado sinaliza para a necessidade de uma queda maior na taxa Selic.

OPEP do biocombustível

A criação de uma comissão mista entre Brasil e Uruguai, para discutir questões de energia, pode ser o início da constituição de uma futura OPEP do biocombustível. Usineiros brasileiros há tempos estão de olho em terras da Bolívia, norte da Argentina e Uruguai-Paraguai. E há também quem pense em chegar ao norte da África. O próximo passo será a visita de George W. Bush ao Brasil.

O homem do clima

A consagração de Al Gore, na cerimônia do Oscar, pode mudar o destino dos EUA e do mundo. Al Gore foi vice de Bill Clinton. Sempre foi considerado mais brilhante e preparado. Perdeu as eleições para George W. Bush por manipulação de votos, e pela postura considerada prepotente pelo eleitor médio. Mas é um visionário que coloca o próprio Clinton no chinelo. E possui enorme prestígio no Partido Democrata.

O homem da telemática

Aliás, enquanto vice de Clinton, Al Gore foi o primeiro a identificar as infinitas possibilidades trazidas pelas vias digitais. Foi um grande estimulador da expansão da Internet nos Estados Unidos, da inclusão digital. Sua eventual eleição para a presidência dos Estados Unidos, poderia devolver ao país uma responsabilidade para com o mundo perdida há muitas décadas, praticamente desde a era Kennedy.



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