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19 de fevereiro de 2007 |
Passando da hora
Luís Nassif
Recentemente, o Departamento Econômico do Bradesco fez pesquisa com cerca de 1.200 empresas sobre como enfrentam o atual nível de câmbio. A conclusão é que estariam modificando profundamente seu processo produtivo, investindo em adaptações para sobreviver aos novos tempos.
Octávio de Barros, o diretor do Departamento, é daqueles economistas minuciosos, uma usina de levantamento de indicadores, mas dos que costumam permanecer na superfície dos grandes agregados (dos números finais) sem mergulhar na sua lógica. Provavelmente se entrasse na natureza das modificações, constataria que grande parte do parque industrial brasileiro está passando a recorrer cada vez mais a insumos importados. As empresas sobrevivem, mas na condição de meras "maquiiladoras" de produtos, seguindo o modelo da suave decadência do México. Especialmente setores com maior conteúdo tecnológico irão importar cada vez mais componentes eletrônicos de outros países, abrindo mão do desenvolvimento tecnológico, da melhoria do nível e da qualidade do emprego. O fator câmbio é crucial. Na sexta-feira passada, entrevistei o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para o livro que estou preparando sobre o Plano Real. Ele admitiu os desastres do câmbio. Mas disse que, em 1996, como o mercado estava tranqüilo, ninguém pressionava por mudanças. E sem pressão, não há ação. Sustentou também que a quebradeira das empresas poderia se enquadrar no processo que Schumpeter chamava de "destruição criativa". O termo se aplica a processos de rápida mudança tecnológica, em que setores velhos não resistem, desaparecem e são substituídos pelos novos. Em períodos como no seu primeiro governo, como agora, em que as empresas nacionais são submetidas a desafios cruciais de mudanças de processo, mudanças tecnológicas, profundas transformações na economia mundial, jogar uma carga adicional de um câmbio tão desequilibrado como o atual, é condenar o parque industrial brasileiro à morte. É a "destruição estéril". Por isso mesmo, não dá para esperar. Lula tem que acordar o mais rápido possível, pelo bem do país e seu próprio: essa bomba irá explodir, mais cedo ou mais tarde no seu colo. Quanto mais tempo demorar a explodir o câmbio, maiores serão os estragos que provocará. A proposta do economista Michal Gartenkraut criação de um imposto sobre exportações de commodities que tiveram seus preços valorizados excessivamente é um caminho a ser pensado. O que Michal disse já vem sendo discutido por muitos economistas. Ele aprimora a proposta sugerindo a possibilidade da constituição de fundos que receberiam esses impostos, e que seriam utilizados especificamente para financiar a capacidade exportadora nacional. Acrescentaria: e também a recuperação daqueles setores que estão sendo massacrados por essa nova onda de destruição estéril. Esse combate ao excesso de dólares precisa vir acompanhado de medidas que coíbam o ingresso de capital especulativo através dos fundos "off-shore", medidas que reduzam as operações de arbitragem financeira dos exportadores, ou o financiamento de importações por prazos longos. Gol e Varig Se a Gol adquirir a Varig, confirmará o erro estratégico fatal da TAM, ao abandonar o diferencial de qualidade e tentar se aproximar do modelo de aviação de baixo custo. Consolidada nesse segmento, a Gol poderá transformar a Varig no seu braço de aviação para clientes corporativos. ATAM ficará espremida, sem conseguir ser uma companhia de baixo custo pura, e sem os diferenciais de imagem que abandonou. Dívidas da Globo A Rede Globo aproveitou a queda do dólar e já quitou seus passivos externos. Mantém algumas dívidas escriturais meramente como estratégia fiscal. Setores da Receita desconfiam que o pedido de falência do grupo, em uma corte de Nova York, teve intuito apenas de legitimar operações que vinham sendo questionadas pelo Fisco. Tão surpreendentemente como o pedido apareceu, o credor desistiu, e não se ouviu mais falar do assunto. CVM e vazamentos Aliás, um dos casos mais clamorosos de vazamento de informações envolve alto dirigente da CVM. No caso Telemar, ele soltou um e-mail para alguns escritórios, provavelmente atrás de opiniões sobre como proceder, que permitiu o vazamento de informações sobre a operação. Depois, se tentou jogar a responsabilidade sobre outro diretor da CVM. O caso está em banho-maria. O inquérito está sob sigilo. PSDB e PT Na entrevista que me concedeu, e que será divulgada junto com o livro "Os Cabeças de Planilha", o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso acha que a única saída política para o país será PT e PSDB esquecerem as diferenças, sentarem à mesa e negociar um projeto de país. Do lado do PSDB, a liderança será se José Serra e Aécio Neves. FHC admite que quem não tem cargo (como ele) não pode aspirar a liderar. Indicadores Assim como em Minas Gerais, o governo de São Paulo está trabalhando na criação de indicadores de gestão e de desempenho. Os Secretários terão que se comprometer com metas a serem fixadas conjuntamente. Caberá a Fundap a definição desses indicadores. Para as principais áreas, Saúde, Educação e Transportes, os indicadores são satisfatórios. Para outras, terão que ser elaborados novos indicadores. Biotecnologia O governo divulgou na semana passada a nova política para área de biotecnologia. Quer fazer do Brasil um dos cinco maiores pólos mundiais de pesquisa e geração de serviços e produtos na área de biotecnologia em um período de dez a quinze anos. Estão previstos investimentos de R$ 10 bilhões nos próximos dez anos. A política para o setor estará a cargo do futuro Comitê Nacional de Biotecnologia. O desenvolvimento de tecnologias limpas, na ordem do dia em razão da questão climática, é uma das apostas. Uma janela de oportunidades se abre para o País. É preciso pôr em pé um plano estratégico que identifique oportunidades e desenvolva tecnologias. |
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