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La insignia
1 de janeiro de 2007


Mortes violentas e mídias


Luís Carlos Lopes
La Insignia. Brasil, dezembro de 2006.


É trágico, que o ano de 2006 termine com tantas mortes. O signo da morte paira sobre o espetáculo midiático deste final de ano. Para além deste espetáculo, existem mortes reais. A encenação usada nas mídias, para se obter a comoção pública e os lucros decorrentes, baseia-se em fatos concretos, em corpos calcinados ou baleados de pessoas de carne e osso, compostas por sonhos e realizações. Morreram os pobres usuários do sistema de locomoção pública. Usar dos ônibus locais e interestaduais ficou algo perigoso, um risco de vida e coisa para qual não há remédio em curto prazo. Morrem os que estão nos lugares e horários errados. O acaso faz a regra, pervertendo a noção da sorte e do azar.

A morte de brasileiros também é espetáculo nas mídias de inúmeros países. Pelo menos assim, o povo brasileiro ganha as manchetes dos jornais do primeiro mundo. Ônibus queimados e a nossa miséria correm pelos canais das mídias internacionais, reforçando nossa imagem negativa, bem mais do que o filme Turistas, que simplesmente sublinha o olhar preconceituoso e exagerado de sempre. Não dá para tapar o sol com a peneira, como diziam nossos avós. É preciso enxergar que temos problemas imensos e que eles podem explodir a qualquer momento à luz do sol midiático, para o bem e para o mal.

Morre espetacularmente o ditador iraquiano, bem como, pelo menos 60 pessoas em um atentado no dia de sua execução. A morte explode na TV. Morre-se por toda parte e pelas razões as mais diversas. Tudo se funde no espectro da desilusão com a vida e suas imensas possibilidades. Os tele-audientes são levados a acreditar na inevitabilidade de seus destinos. Afinal, todos morrerão em algum dia de suas vidas. É melhor se calar aceitar que não há o que fazer. Deve-se, apenas, esperar o dia do juízo final. Morrer é inevitável, mesmo que por razões que não são calcadas no destino natural de cada ser humano.

A naturalização da morte por razões vinculadas à violência social ou política é algo preocupante. Acreditar que estas mortes são inevitáveis é atribuir às mesmas o fardo da história natural. Elas só ocorrem por razões humanas. São construtos da vida social e do contexto histórico-político onde se processam. Se a sociedade e o Estado se transformassem elas não seriam possíveis de existir. Morrer precocemente é um problema de natureza política e assim deve ser tratado. Obviamente, existem doenças incuráveis e acidentes naturais. Não foi isto o que ocorreu com o Boeing da Serra do Cachimbo e nem com os mortos do ônibus deste fim de ano. Todos morreram pelo efeito de decisões políticas ou pela ausência das mesmas.

As mortes violentas contemporâneas, que nem sempre são objetos do espetáculo das grandes mídias, não são naturais e nem mesmo inevitáveis. Ocorrem em um quadro histórico-social e político bem específico. É este quadro que precisa ser alterado. Sem que isto seja feito, outros "acidentes" aéreos e viários ocorrerão, ônibus serão incendiados com as pessoas dentro e balas "perdidas" acharão suas vítimas. Não se pode conceber que não existam responsáveis ou que estes sejam somente os diretamente envolvidos. Daqui a pouco, os mortos serão considerados culpados por seus trágicos destinos. Não raro, há quem pense assim. Afinal, porque estavam naquela hora e local...



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