30 de agosto de 2007

Portugal

Transgénicos, o debate surdo

Tiago Barbosa Ribeiro
Kontratempos / La Insignia. Portugal, agosto de 2007.

28 de agosto.- Ontem à noite, na SIC Notícias, Mário Crespo conduziu uma péssima entrevista a Gualter Barbas Baptista. Há um fio que separa a frontalidade da má educação e Mário Crespo -que considero um excelente jornalista, sublinhe-se- ultrapassou-o. Nunca pode ser bom jornalismo aquele cenário pré-estruturado em que alguém leva um convidado para o estúdio e faz dele um saco de pancada, julgando-o e fazendo perguntas que já contêm uma resposta, uma direcção, muito sorriso cínico à mistura. É aquela história das moedas, não sei se se lembram.

Naturalmente que Mário Crespo tem todo o direito à indignação e à discordância, mas tem de compreender que o jornalismo duro e frontal não se transmuta num combate de boxe. E escrevo isto completamente à vontade, sabendo da minha oposição frontal ao que se passou no Algarve. Aliás, desde o primeiro minuto que tentei chamar a atenção para isto: após aquela invasão tão boçal, todo o debate em torno dos transgénicos está e estará contaminado pela acção do Verde Eufémia.

Independentemente da postura de Mário Crespo, e incidindo sobre trabalhos com menor intensidade emocional ao longo de todos estes dias, nenhum outro meio de comunicação escreveu ou falou propriamente sobre os OGM, o princípio da precaução, nada. Como é evidente, apenas se discute a violência mascarada e o justiceirismo moral. Seria interessante saber o que o Filipe Calvão pensa sobre isso, por exemplo, mas já vi que está demasiado divertido com outras coisas. São opções no debate e, aparentemente, isso não preocupa parte da esquerda. É pena, porque pensei que o mais importante fossem mesmo os transgénicos.