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21 de novembro de 2006 |
Os filhos de Milton Friedman
Luís Nassif
A morte de Milton Friedman, o pai do chamado pensamento "monetarista", ocupou páginas econômicas dos jornais. Mas foram amplas as implicações do seu pensamento para o cidadão comum brasileiro. Friedman desenvolveu teorias relacionadas ao manejo monetário. Defendia liberdade de capitais, câmbio flexível e controle da moeda, para combater a inflação.
A partir dos anos 70, suas idéias começaram a ganhar adeptos no Brasil, de uma forma um tanto estranha. Foi criado o mercado aberto de negociação de títulos públicos. E avançou-se na idéia das expectativas racionais - se os empresários e agentes econômicos acreditam que o governo está agindo racionalmente, eles tenderão a pautar suas definições de preços pelos sinais emitidos, exigindo políticas menos drásticas para se alcançar os objetivos propostos. Lembro-me, naqueles tempos, o criador do chamado open-market (mercado aberto, onde se negociavam títulos públicos) ex-diretor do Banco Central Carlos Brandão, explicando didaticamente à distinta platéia como funcionava a nova bruxaria: se o vendedor de verduras do Ceagesp quisesse aumentar os preços, ele olharia para o Banco Central; se o BC estivesse aumentando os juros, ele deixaria de aumentar os preços. Admito que na minha supina ignorância, de jornalista econômico iniciante, entendia que o verdureiro definia preço por uma velhíssima lei, da oferta e da procura. Implantou-se o open market, passou-se a remunerar até aplicações de curtíssimo prazo das empresas, e a inflação continuava subindo. Durante os anos 70 e os anos 80, os economistas brasileiros, o chamado "establishment" econômico brasileiro, jamais se debruçou para analisar tecnicamente o fenômeno, as diferenças entre a economia americana e a brasileira, a indexação, as diferenças nas estruturas de juros entre ambas e porque o tal o open não segurava a inflação. Iludia-se a opinião pública com as chamadas hipóteses de difícil comprovação: a inflação podia estar a 200% ao ano, mas, se não fosse o BC, estaria em 400%. E tome juros. Naqueles tempos, um economista de Brasília, Dércio Garcia Munhoz, ousava investir contra o estabelecido, valendo-se de bom senso. Dizia ser inconsistente a afirmação de que havia a necessidade de juros altíssimos por aplicações de um dia, para prevenir movimentos especulativos com o caixa das empresas. As empresas não trabalham assim, dizia Dércio. Caixa é para movimentar durante o mês, para capital de giro, não para especular. Era ironizado por jovens estudantes em dia com as modernas teorias. Com o plano Real, conseguiu-se por término à inflação. Poucos antes depois, as teorias monetárias de Friedman cediam espaço a outras teorias importadas. Agora, não se focava mais a liquidez, mas o nível das taxas de juros. Com tantos sábios em sintonia com as últimas novidades do pensamento mundial, o Brasil não logrou avanços na criação de um mercado de financiamento (a não ser em bancos públicos) e de crédito, nem transformou o sistema financeiro em alavanca de desenvolvimento. |
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