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23 de maio de 2005 |
Felipe A. P. L. Costa (*)
Após a divulgação do artigo "Estudando comunidades de formigas", recebi mensagens de amigos(as) tratando da seguinte questão: "o que devo fazer para espantar as formigas aqui de casa?". Embora o objetivo inicial do artigo fosse divulgar uma técnica de amostragem, e não de controle populacional, aproveito para apresentar aqui alguns dos comentários que terminei discutindo com meus interlocutores.
Formigas (e outros insetos) que se estabelecem em edificações humanas usufruem casa e comida grátis; além disso, costumam desfrutar de um enorme privilégio: ausência de inimigos naturais. Trata-se de uma situação bastante favorável à livre proliferação, algo absolutamente incomum em hábitats naturais. Embora as colônias de formigas sejam por si mesmas um alvo precioso, são relativamente raros os predadores que se alimentam exclusivamente desses insetos. Uma das razões para isso é que, além de pouco atrativas, formigas adultas não representam um item alimentar muito nutritivo - ao contrário de baratas e moscas, por exemplo, que seriam itens comparativamente mais ricos em nutrientes. Dois grupos aparentados de mamíferos da fauna brasileira, os tatus e os tamanduás, estão entre os poucos animais que se alimentam de grandes quantidades de formigas [1]. Poderiam, portanto, participar como agentes de controle populacional dessas pragas urbanas. Todavia, se não podemos contar com os serviços desses animais mirmecófagos dentro de casa, devemos pensar então em alternativas simples, viáveis e, sobretudo, mais realistas [2]. Podemos começar dificultando a vida das formigas domésticas, negando acesso à comida e vedando os ninhos que porventura sejam encontrados pela casa. Essa mesma combinação de estratégias, aliás, vale para vários outros insetos encontrados em edificações humanas, como baratas, cupins, moscas, pernilongos etc. O problema costuma ser pior quando se mora em prédios, principalmente porque nesses casos a presença de formigas é uma questão que extrapola os limites de apartamentos individuais. Em casos assim, uma ação localizada pode resolver ou minorar por algum tempo as dores de cabeça de um morador em separado, mas uma solução duradoura só virá com o envolvimento de todos os moradores. É fundamental, portanto, incluir o assunto na pauta das reuniões do condomínio. Nessas horas, também não adianta empurrar o problema para o colo de terceiros. A contratação dos serviços de uma dedetizadora, por exemplo, é o tipo de medida que não deveria ser adotada com a prontidão habitual, até porque a aplicação de venenos químicos não costuma resolver o problema. E o que é pior: pode trazer riscos desnecessários à saúde dos moradores. (Em caso de dúvida sobre esta última afirmação, confira antes o estado de saúde dos funcionários responsáveis pela aplicação do veneno...) A proliferação de pragas urbanas tem muito mais a ver com uma característica (quase) universal dos seres humanos: somos relapsos com o lixo que produzimos. (E nunca produzimos tanto lixo como agora!) Se não mudarmos isso, continuaremos condenados a conviver e a pagar pelos erros grosseiros que nós próprios cometemos e cultivamos. Uma faceta irônica disso tudo é que o problema torna-se duplamente maior à medida que mais pessoas são envolvidas, como ocorre, por exemplo, em grandes condomínios. Primeiro, porque o volume total de lixo aumenta, e segundo, porque em grandes aglomerados há uma diluição no grau de responsabilidade individual. Em outras palavras, o combate às pragas domésticas tende a ser um empreendimento mais difícil em prédios de apartamentos, onde as chances de encontrar um ou outro porcossauro que não se emenda são bem maiores.... Notas (*) Biólogo meiterer@hotmail.com, autor do livro ECOLOGIA, EVOLUÇÃO & O VALOR DAS PEQUENAS COISAS (2003).
1. Sobre os hábitos alimentares de tatus e tamanduás, ver Pereira, H. R., Jr.; Jorge, W. & Babagti, E. 2003. Por que tatu? Ciência Hoje 199: 70-73; e Pough, F. H.; Janis, C. M. & Heiser, J. B. 2003. A vida dos vertebrados, 3a edição. SP, Atheneu Editora. |
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