Mapa del sitio | Portada | Redacción | Colabora | Enlaces | Buscador | Correo |
4 de março de 2005 |
Envolverde/IPS. Brasil, março de 2005.
George W. Bush não é uma águia, mas deve-se reconhecer sua notável sagacidade propagandista. Em poucas semanas convenceu todo o mundo (isto é, o Ocidente, a única parte do planeta que, embora trabalhosamente, entra em seu horizonte) de que é o vencedor das eleições no Iraque e que havia con-vencido os aliados europeus de sua boa disposição em relação a eles (depois de tê-los esbofeteado brutalmente durante seu primeiro mandato presidencial). De fato, com sua habitual submissão, o Coro Midiático "independente" Mundial (CMIM) comunicou ao planeta no dia 31 de janeiro que no Iraque haviam votado 8,5 milhões de iraquianos que, desafiando o terrorismo, escolheram a democracia levada pelos Estados Unidos.
A partir desse momento, para o CMIM a guerra iraquiana havia terminado, missão cumprida e democracia finalmente instalada no país árabe. E fez cair o pano sobre os resultados eleitorais, a contagem dos votos e a modalidade como será formado o governo, tarefa que estará a cargo da embaixada norte-americana e da Comissão Eleitoral "independente" responsável por presidir a celebração da vitória contra o terrorismo dos sunitas e da Al Qaeda. Resta saber como Washington e seus acólitos iraquianos conseguirão subtrair dos xiitas do sul a vitória eleitoral que conquistaram através do exercício do voto, e o que ocorrerá no norte, onde os curdos tomaram a palavra do grande pai norte-americano, que lhes havia prometido o petróleo de Kirkuk e uma grande autonomia. Mas ao mesmo tempo, o grande pai havia prometido à Turquia que não permitirá que os curdos instalem uma entidade autônoma no norte do Iraque (pois isso incitaria os curdos da Turquia a se mobilizarem para conseguir o mesmo e depois unificar-se com os curdos iraquianos). Também é preciso saber como reagirão os sunitas que, em Bagdá, Falluja, Ramada e em dezenas e dezenas de cidades do centro do Iraque, não votaram e não parecem entusiasmados com o grande triunfo da democracia. Não esqueçamos que os sunitas são cerca de cinco milhões de pessoas, bem armadas e bem organizadas. Mas o que importa tudo isto? O CMIM já definiu quais serão as informações que poderão chegar aos leitores e telespectadores do Ocidente, e o resto será relegado aos canais informativos secundários na Internet. Passadas apenas duas semanas, o CMIM realizava outra proeza, explicando a todos que entre Bush e Chirac, Bush e Schroeder, Bush e Zapatero, havia retornado a harmonia, que tudo, ou quase tudo, estava esclarecido, que as relações euro-americanas estavam restabelecidas como nos bons tempos, etc, ficando subentendido que a guerra iraquiana foi arquivada. Agora é preciso ensinar aos iraquianos como se governa um país, com se mantém a ordem pública, como se refina o petróleo, como se comercializa com o Ocidente, como se privatiza, e assim sucessivamente. E como num passe de mágica, com sorrisos e declamações de reconciliação euro-atlântica, se desvia o olhar dos problemas não resolvidos. Bush e Chirac apertam as mãos e intimam a Síria a abandonar o Líbano imediatamente. A Síria é designada bode-expiatório não casualmente depois que o ex-primeiro-ministro libanês Rafik Hariri voou pelos ares no momento oportuno. E todo o CMIM abre caminho entre as chamas da explosão para acusar a Síria por todas as iniqüidades que são cometidas no mundo árabe. Estamos assistindo a uma reconciliação geral? Creio que demorará até ficar claro que o imperador está preparando a próxima guerra. E o faz com rápida eficácia, apontando para Síria e Irã. É também uma reconciliação de prazo determinado porque a Europa assinou o Protocolo de Kyoto enquanto Washington não assinará nada que possa afetar seus interesses econômicos imediatos, que se chamam crescimento incessante do consumo. Isto, por sua vez, engrossará posteriormente o endividamento externo norte-americano, o que trará a tiracolo a debilidade do dólar, que se desvalorizará em relação ao euro, o que significará que a Europa e o Japão (mas não a China) se encarregarão de pagar a fatura da guerra no Iraque, bem como a da próxima aventura. A reconciliação também acabará quando a Europa colocar em prática seu compromisso de reduzir as subvenções aos seus agricultores porque - mesmo mal e tardiamente - compreendeu que sua segurança depende do equilíbrio das riquezas mundiais e que é melhor para todos que os camponeses da África, Ásia e América Latina possam viver decentemente. Mas os Estados Unidos não afrouxarão e manterão seus próprios subsídios à agricultura. A reconciliação enfrentará outra dura prova quando os bombardeiros norte-americanos (ou israelenses) dispararem seus mísseis sobre as instalações atômicas iranianas e a Europa terá de justificar perante seus cidadãos o estratosférico aumento do preço do petróleo, as dificuldades para encher o tanque de gasolina dos carros e até para funcionar a calefação em escolas e hospitais. Trata-se de cenários fantásticos? Apareceriam à simples vista no momento em que fossemos capazes de fazer o biombo que cotidianamente o CMIM coloca diante de nossos olhos. (*) Giulietto Chiesa é parlamentar europeu e jornalista. |
|||