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6 de junio del 2005 |
Boutros Boutros-Ghali (*)
A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (Rio de Janeiro, 1992) significou uma virada decisiva nas relações internacionais. Demonstrou em particular, a vontade das nações de assumir um compromisso coletivo e solidário em favor do desenvolvimento sustentável, que na verdade constitui um caminho inquestionável, um vez que nossa comunidade de destino se manifesta com relação ao meio ambiente. O ar que respiramos, a água que bebemos, os recursos naturais que exploramos são, ao mesmo tempo, nossos bens comuns e nossa responsabilidade compartilhada. Desde então, a conscientização sobre os problemas ambientais do planeta, incitada pelas grandes conferências internacionais, se reforça progressivamente. Entretanto, temos de admitir que as ações concretas concebidas para salvaguardar a Terra não estão à altura das esperanças suscitadas e dos compromissos estabelecidos. As práticas gravemente poluidoras prosseguem. As desigualdades existem aos montes. E as discordâncias expressas com certa freqüência revelam as dificuldades que as nações deste mundo enfrentam para conviver, administrar e prever conjuntamente o futuro que a todos nós diz respeito. Nesse sentido, existe um campo que me parece emblemático dos desafios ambientais do século XXI: a água. O problema não é tanto a falta de água em nível mundial, mas a desigualdade de sua distribuição. Brasil, Rússia, Canadá, Estados Unidos, China, Indonésia, Índia, Colômbia e a União Européia detêm quase dois terços dos recursos hídricos mundiais. E nos países em desenvolvimento, 90% da água que utilizam necessita de tratamento sanitário. Mas a situação nos países desenvolvidos está longe de ser perfeita: a metade dos rios e lagos da Europa e dos Estados Unidos está contaminada gravemente. Além disso, são dilapidadas enormes quantidades de água (70% da água doce é atualmente empregada na irrigação agrícola) em cultivos de rendimento muito baixo, enquanto a demanda de alimentos, particularmente nas grandes cidades, cresce incessantemente. Nos países mais pobres, todos estes problemas se acumulam. Um em cada cinco habitantes do planeta carece de água potável, um em cada dois não tem acesso a um sistema de saneamento, 30 milhões de pessoas morrem a cada ano devido a doenças ligadas à água contaminada. Assim, estas enfermidades constituem um obstáculo para o desenvolvimento econômico, já que além das mortes que ocasionam, deixam incapacitadas centenas de milhões de pessoas. A água é, sem dúvida alguma, um dos grandes desafios mundiais deste século, não somente pela contaminação e desperdício, mas também porque muitos países dependem para seu uso de recursos hídricos que estão fora de seus territórios. Portanto, o desafio consiste em substituir as relações de força por relações baseadas em solidariedade, cooperação e administração coletiva. Embora alguns não queiram aceitar, todos nós somos cidadãos da mesma família humana. Por isso, a solidariedade não pode limitar-se à compaixão. Também é, sobretudo, conscientização. Tomar consciência da globalização dos destinos, tanto dentro dos Estados quanto entre eles, já que o gesto destruidor com relação ao meio ambiente faz sentir suas conseqüências para além de seu entorno e de suas fronteiras. Do mesmo modo, o gesto protetor adotado por uma cidade, uma região ou um país será ineficaz a menos que possa exceder para além das fronteiras e dos oceanos. Conscientização também da necessária interdependência entre as gerações. Pois o que seria de um mundo onde cada geração se dedicasse a satisfazer suas necessidades sem levar em conta que compromete a capacidade de atender as necessidades das gerações futuras? Desta conscientização nasce a responsabilidade individual e coletiva. A responsabilidade que temos de salvaguardar este patrimônio comum que é a Terra com seus ecossistemas, bem como a diversidade cultural de todos seus habitantes. Neste contexto de globalização tão propício às liberdades, mas ao mesmo tempo, tão carregado de perigos, favorecer o diálogo entre as culturas e as civilizações é, mais do que nunca, indispensável para a emergência de uma consciência universal e para o surgimento de um empenho coletivo em relação ao meio ambiente e ao desenvolvimento sustentável. Mas a condição prévia é estender e tornar acessível a educação, e especialmente a educação ambiental, que constitui o único conduto para suscitar a conscientização, motivar o sentido de responsabilidade e induzir ao compromisso.
(*) O autor foi secretário-geral das Nações Unidas entre 1992 e 1996.
Artigo produzido para o Terramérica, projeto de comunicação dos Programas das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e para o Desenvolvimento (Pnud), realizado pela Inter Press Service (IPS) e distribuído pela Agência Envolverde.
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