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14 de julho de 2005 |
Julio Godoy
Paris.- A euforia depois da decisão de construir na França o Reator Termonuclear Experimental Internacional (ITER) parecer ter evaporado. Ficam dúvidas e temores se é factível e sobre o custo de semelhante projeto. Trata-se de um plano piloto para introduzir uma nova tecnologia nuclear. Com o ITER se tentará a fusão dos isótopos de hidrogênio (o deutério, em abundância na natureza, e o trítio, um isótopo sintético) para produzir hélio com grande liberalização de energia e assim gerar eletricidade. O projeto internacional é financiado por China, Coréia do Sul, Estados Unidos, Japão, Rússia e União Européia, com participação da Agência Internacional de Energia Atômica. Prevê-se que estará funcionando até 2016.
Uma comissão formada por estes cinco países mais a UE decidiu no mês passado que o ITER fosse construído no centro de pesquisa nuclear de Cadarache, na região sudeste francesa de Provence, a 900 quilômetros de Paris. O presidente da França, Jacques Chirac, disse que a decisão foi um "enorme êxito" para seu país, porque o projeto "abre o caminho para uma tecnologia essencial na busca de fontes alternativas de energia para enfrentar o aquecimento global". O aquecimento do planeta é causado pelas atividades humanas, segundo a grande maioria dos cientistas, sobretudo pelo efeito dos gases liberados pela combustão de petróleo, gás e carvão, sendo o dióxido de carbono o principal deles. A maioria dos jornais franceses comemorou o anúncio, e o Le Parisién afirmou que se trata de "boas notícias para a França, finalmente". No entanto, cientistas e grupos ambientalistas alertaram que o ITER poderia esgotar recursos que deveriam ser destinados ao financiamento de pesquisas na busca de melhores fontes de energia. O projeto em si, afirmaram, não garante sucesso no futuro imediato. O ex-ministro de Ciência e Tecnologia, Claude Allegre, um renomado pesquisador em geoquímica, afirmou que o ITER é apenas "outro projeto de prestígio" para o governo com "poucas possibilidades de êxito". Os estimados US$ 12 bilhões necessários para o reator desviarão recursos de outros projetos de pesquisa "sem dúvida mais urgentes do que o ITER", afirmou. Apenas a construção do complexo demandará investimento superior a US$ 5 bilhões, e a França se comprometeu a cobrir a metade destes custos. O ITER em Cadarache será apenas um teste. Se a tecnologia demonstrar ser efetiva, seria possível construir o primeiro reator termonuclear de trabalho depois de 2050. O reator necessitará de poderosa tecnologia. As autoridades disseram que a fusão na central se conseguirá somente a uma temperatura de aproximadamente 100 milhões de graus, o que produzirá 500 megawatts de energia. Atingir essa temperatura já é um problema, porque nenhum material conhecido pode resistir a esse calor. "O anúncio oficial descreve o processo de funcionamento do ITER como colocar a energia das estrelas em uma caixa. O problema é que não sabemos como construir essa caixa", disse o cientista Sébastien Balibar, professor de física nuclear na Escola Normal Superior de Paris. Balibar e seus colegas Yves Pomeau e Jacques Treioner disseram em um estudo publicado no ano passado pelo jornal Le Monde que um reator termonuclear implica três problemas técnicos: produção dos elementos que serão levados á fusão (deutério e Trítio), a resistência a essa fusão e o controle da reação. Os cientistas disseram que o projeto do ITER somente está interessado neste último problema "e ignora os outros dois, cuja solução, entretanto, é essencial". O presidente da Academia Francesa de Ciências, Edouard Brézin, afirmou que as expectativas a respeito do ITER são extremamente otimistas. "Devemos estar muito confiantes no desenvolvimento científico para acreditar que o uso industrial da fusão nuclear estará pronto em menos de 50 anos", disse à IPS. A pesquisa nessa tecnologia deve continuar, mas "os combustíveis fósseis e o aquecimento global são problemas urgentes, e não temos 50 anos para buscar soluções. Necessitamos de medidas urgentes, e o ITER não deveria roubar os recursos dessas pesquisas", acrescentou. Por sua vez, Stephane Lhomme, da organização ambientalista francesa Sortir du Nucléaire (Sair do Nuclear), disse à IPS que o reator apresenta uma tecnologia muito perigosa e sem futuro. Lhomme considera provável que o ITER nunca produza energia, o que o converteria em um novo fracasso do governo. O Estado francês investiu quase US$ 9 bilhões no reator nuclear Superphénix antes de fechá-lo em 1998 porque não chegou a gerar um único watt de energia, recordou o cientista. "Claro que o ITER estará conectado à rede francesa de eletricidade, mas apenas com o propósito de receber energia para seu funcionamento", ressaltou. |
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