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La insignia
4 de fevereiro de 2005


Resistência cultural no carnaval


Luciano Siqueira (*)
La Insignia. Brasil, fevereiro de 2005.


Há cidades que têm um jeito próprio, um modo de ser, uma cultura. Um estilo. As pessoas e o lugar se identificam. Olinda é assim. Com os que a habitam e com os visitantes, que recebe sempre de braços abertos, carinhosamente.

Carinhosa, a cidade de Olinda. Porém guerreira quando necessário. Tem sido assim ao longo da história. Mãe do Recife, arengou com a cidade-filha pelos idos de 1710 a 1715, enciumada por vê-la elevada à categoria de vila e pólo influente dos comerciantes em ascensão que se contrapunham à aristocracia açucareira olindense. Foi a Guerra dos Mascates - sangrenta, terrível. E assim tem sido, ao longo da História: meiga, cativante, sedutora; altiva, corajosa, guerreira. Berço do movimento republicano, palco de muitas outras pelejas libertárias e progressistas.

Agora é carnaval. E Olinda trava uma guerra particular, desencadeada desde 2001, quando assumiu a chefia do governo local a prefeita Luciana Santos, do PCdoB. Uma luta tenaz, em defesa de nossos valores e de nossas raízes. Pela preservação de nossa cultura.

Trata-se da interdição do som eletrônico acima de 70 decibéis. Para evitar que aconteça como antes, quando alguns abastados alugavam residências no sítio histórico - pólo principal da festa que atrai para a cidade cerca de um milhão de foliões -, instalavam aparelhos de som a alturas insuportáveis e ocupavam trechos inteiros das ruas estreitas e sinuosas impedindo que transitassem as agremiações carnavalescas. Maracatus, caboclinhos, troças, bonecos gigantes e blocos se viam impedidos de desfilarem a sua beleza, o seu encanto e a sua irreverência. Um abuso inaceitável.

O mérito já se justifica por si mesmo. Bastava baixar a norma, publicá-la no Diário Oficial e através dos meios de comunicação. Mas em Olinda é diferente. A prefeita, encarnando o jeito de ser da cidade e do seu povo, mescla firmeza com habilidade. Não impõe, convence - conquista a adesão consciente.

Como ocorre todo ano, desde a segunda feira, 31, cerca de 30 procuradores do município estão visitando as casas para entregar uma carta assinada pela prefeita justificando a Lei Municipal nº 5.306/2001 e orientando aqueles que cedem seus imóveis a incluírem no contrato do aluguel uma cláusula proibindo o aumento do som acima do volume permitido. Sob pena de uma multa, a ser paga pelo inquilino, de R$ 7mil, e R$ 14 mil em caso de reincidência. A própria prefeita participa do porta-a-porta.

Assim, mais uma vez, a cidade experimentará a liberdade e o encanto exaltados nos versos de Clídio Nigro e Clóvis Vieira, no hino do Elefante: "Olinda, este meu canto/Foi inspirado em teu louvor,/Entre confetes, serpentinas/Venho te oferecer com alegria o meu amor./...Faz vibrar meu coração de amor/a sonhar, minha Olinda sem igual,/Salve o teu Carnaval!"


(*)Vice-Prefeito da Cidade do Recife (Pernambuco).



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