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La insignia
9 de fevereiro de 2005


Entrevista com Ignacio Chapela

Transgênicos a qualquer preço


Diego Cevallos (*)
Envolverde/Terramérica. Brasil, fevereiro de 2005.



México.- O cientista Ignácio Chapela, que ganhou notoriedade em 2001 por descobrir que o milho crioulo mexicano havia sido contaminado com transgênicos, anunciou ao Terramérica que passará da ofensiva na guerra que, assegura, mantêm contra ele as multinacionais da biotecnologia. Após sofrer o que descreve como "três anos de ataques e desprestígio", que o deixa a ponto de perder seu cargo de professor e pesquisador de Ecologia Microbiana na Universidade de Berkeley (EUA), o mexicano Chapela, de 45 anos, disse que apresentará uma denúncia em tribunais norte-americanos sobre seu caso.

Chapela afirma que recebeu fortes pressões e ameaças, inclusive de funcionários do governo do presidente Vicente Fox, para não publicar na revista britânica Nature um informe científico sobre a contaminação do milho local com seus parentes transgênicos, também conhecidos como organismos geneticamente modificados (OGM). A contaminação denunciada e logo reconhecida pelo governo ocorreu apesar do veto legal existente no México, centro de origem dessa gramínea, para a plantação de milho transgênico.

Chapela afirma que as multinacionais que promovem a campanha de desprestígio contra ele são as mesmas que incentivam o projeto de lei sobre biossegurança que deputados mexicanos aprovaram no ano passado e que pode se converter em norma obrigatória se o Senado fizer o mesmo nas próximas semanas. O pesquisador, que disse sentir-se "uma persona non grata" nos círculos científicos do México, conversou por telefone com o Terramérica, de seu escritório em Berkeley.


P.- O senhor denuncia que por suas posições contra os transgênicos está a ponto de perder seu trabalho na universidade de Berkeley, onde atua desde 1997. O senhor responsabiliza as empresas biotecnológicas por isso?

R.- Meu trabalho está sendo questionado, há pelo menos três anos de ataques e desprestígio. Normalmente a avaliação que solicitei em Berkeley para que me conferisse o status de professor permanente demora cerca de seis meses, mas no meu caso já dura anos e é possível que me demitam. Tudo por pressões de companhias multinacionais e de pesquisadores mexicanos favoráveis à biotecnologia, como Luis Herrera (considerado um dos pais da biotecnologia).

P.- Tudo isso ocorre porque o senhor publicou sua descoberta sobre a contaminação do milho mexicano?

R.- Há dois motivos, na realidade. Um é o de ter denunciado a presença de milho transgênico no México, fato pelo qual fui ameaçado inclusive por alguns funcionários do governo mexicano, os quais afirmavam que meu estudo prejudicaria o país; e o outro é que em 1998 me expressei contra propostas para que a empresa de biotecnologia Novartis assumisse o controle de toda nossa faculdade (de Ciências Ambientais de Berkeley).

P.- O que fará para evitar sua demissão?

R.- A batalha que travamos é através de uma querela interna na universidade e estamos por iniciar um processo legal junto aos tribunais (dos Estados Unidos) por todas as pressões e ameaças que tenho recebido. O processo será contra os reitores da universidade, mas também contra as multinacionais e alguns mexicanos. Além disso, em novembro criamos a fundação Pulso da Ciência, para discutir o papel das transnacionais.

P.- Há vários cientistas mexicanos, entre eles Luis Herrera, que não compartilham suas idéias e apóiam a pesquisa sobre transgênicos. Há interesses escusos entre esses cientistas?

R.- O que há são razões óbvias como dinheiro. Muito do dinheiro que recebem vem dessas mesmas companhias, as quais não convém gente como eu, que questione o que estão fazendo. Outra razão é que muitas dessas pessoas apostam na biotecnologia há mais de 20 anos, e querem que funcione por bem ou por mal.

P.- Na realidade, os transgênicos causam tanto mal?

R.- A biotecnologia é uma série de manipulações com muito potencial, sobre isso não há dúvida. O problema é o potencial efeito da liberação em grande escala de organismos transgênicos, o que não deveria ocorrer enquanto não estiver esclarecida a questão da segurança ambiental e não ter sido feita uma avaliação de alternativas mais baratas e aceitáveis.

P.- O que o senhor diz da lei sobre biosegurança para os transgênicos que pode entrar em vigor este ano no México?

R.- No próprio nome da lei se vê o problema, pois é uma norma que vai declarar que estes organismos são biosseguros. É uma lei que legaliza a contaminação transgênica e impede que possam ser impostas responsabilidades se houver problemas, acidentes ou desvantagens com a liberação de transgênicos no meio ambiente. Espero que no final a lei não seja aprovada.


(*) O autor é correspondente da IPS.
Artigo produzido para o Terramérica, projeto de comunicação dos Programas das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e para o Desenvolvimento (Pnud), realizado pela Inter Press Service (IPS) e distribuído pela Agência Envolverde.



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