Mapa del sitio | Portada | Redacción | Colabora | Enlaces | Buscador | Correo |
26 de agosto de 2005 |
Tito Drago
Queimar florestas, prolongar os incêndios ou não tomar medidas para evitá-los é uma fonte de renda na Espanha que beneficia quem tem contratos para apagá-los, segundo denúncias de organizações ambientalistas. Este problema, que se soma aos incêndios provocados na área para se construir edifícios ou comercializar a madeira de árvores nobres protegidas por leis ambientais, leva o responsável da campanha de florestas do capítulo espanhol da organização Greenpeace, Miguel Angel Soto, a afirmar que "existe uma economia do fogo". Essa economia consiste em "provocar incêndios para assegurar os contratos de extinção do próximo ano ou prolongar os atuais, o que é uma prática antiga e longamente documentada", explica o ecologista. Os incêndios costumam se propagar quando estão sendo apagados, sem que os técnicos demonstrem ser impossível limitar sua extensão, afirmam especialistas.
A esse respeito, Francisco Cabezos, o encarregado desse assunto na Comissão Confederativa de Comissões Operárias, uma das centrais sindicais majoritárias da Espanha, recorda que em Castilla e León, por exemplo, as empresas contratadas para apagar incêndios cobram por metro quadrado apagado. Isto é, quanto maior for a área de floresta incendiada e apagada, mais altos são seus honorários, explicou. A Guarda Civil - polícia militarizada - informou que desde janeiro deteve 277 pessoas acusadas de causar incêndios florestais. Uma delas, preso em meados deste mês na comunidade autônoma de Andaluzia, é um guarda-florestal encarregado de prevenir incêndios. A Guarda Civil informou que ele é acusado de provocar um incêndio, mas nada disse sobre os motivos que o levaram a isso. No início de julho, foram detidos quatro membros de uma brigada antiincêndios na Galícia, noroeste da Espanha, também acusados de terem iniciado fogos de foco de maneira intencional nessa região. Isso é informação que preocupa, embora não tenham sido registrados casos com o ocorrido em 1994, quando houve pessoas que identificaram um pequeno avião, "Icona 73", jogando coquetel Molotov sobre florestas em uma área de Castilla-La Mancha, no centro da península Ibérica. Do começo do ano até este mês, a superfície florestal queimada aumentou 30% em relação a igual período de 1994, com perdas acima de cem milhões de euros (US$ 130 milhões), segundo cálculos do Colégio de Engenheiros de Montes, mas somando as conseqüências diretas e indiretas esse número quadruplica, como aconteceu no ano passado. Um relatório preparado pelo Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais e publicado este mês pelo Centro Conjunto de Pesquisa da Comissão Européia (o órgão executivo da União Européia), indica que 9,3% do território espanhol foram arrasados pelas chamas desde 1980. O mesmo documento indica que neste mesmo período foram queimados 12 milhões de hectares nos cinco países mediterrâneos da UE (Espanha, Portugal, França, Itália e Grécia), dos quais 4,7 milhões na Espanha e 2,7 milhões em Portugal. Estes dois países somam mais da metade do total, e neste ano sofrem incêndios ainda maiores, que no caso de Portugal levou o governo a pedir ajuda internacional para dominá-los. Só no verão atual no hemisfério norte, os incêndios destruíram na Espanha cerca de cem mil hectares de florestas, 140 mil em Portugal e 150 mil na França, segundo dados divulgados no começo deste mês. Porém, os sinistros continuam. Somando-se os hectares queimados na França, Itália e Grécia não se iguala à área queimada na península Ibérica, fato que elimina o fator climático como causa dos incêndios, já que os cinco países possuem climas semelhantes. Uma das causas de incêndios é a crescente emigração do campo para a cidade, o que deixa grandes áreas desprotegidas. A queda das explorações de ovelhas, por exemplo, faz com que os montes de grama que antes serviam de alimento para esses animais e as cabras sequem e seja presa fácil das chamas e, em conseqüência das árvores debaixo das quais crescem. Diante deste quadro, dois fatos preocupam mais os ecologistas e, em certo grau, as autoridades: os incêndios intencionais e a fragilidade das medidas preventivas adotadas pelos organismos públicos. Somente na Galícia foram mais de 180 incêndios florestais intencionais no final de semana de 20 e 21 deste mês, segundo a porta-voz do governo regional, Teresa Varela. A funcionária informou também que, uma vez apagadas, outros incêndios, próximos desses locais, foram registrados. No sábado, 20, foi preso um bombeiro na população galega de Xinzo de Limia, segundo Varela. Sobre a fraca prevenção oficial, um dos fundadores do Comitê de Defesa do Monte Gallego, Xosé Santos, destaca que quase todo o dinheiro enviado pela União Européia para defender as florestas é usado para apagar incêndios, em lugar de ser aplicado em prevenção, entre outras coisas, contratando o corte do mato. Humberto Cruz, diretor do Instituto de Estudos e Cooperação para a Bacia do Mediterrâneo e ex-diretor-geral do Instituto de Conservação da Natureza, da Espanha, reflete sobre essa imprevisão em um artigo publicado no jornal El Pais. Após apontar vários casos e reconhecer a promessa governamental de adotar medidas preventivas, Cruz termina dizendo que Deus permita que as medidas sejam tomadas, para não se ter de esperar por outra catástrofe, como a que deixou 11 mortos em julho, em Guadalajara; para que sejam reiteradas as promessas feitas por todos os governos anteriores. Porque, destacou Cruz, mais do que atender caso a caso, é preciso concentrar os esforços em estabelecer e implementar uma sólida estratégia preventiva. |
|