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16 de agosto de 2005 |
Sanjay Suri
Londres.- Um significativo aquecimento do clima em várias cidades da Europa parece indicar que o previsto aumento de dois graus na temperatura global pode ocorrer antes do esperado. O Fundo Mundial para a Natureza (WWF) comparou a temperatura média atual de 16 cidades européias com dados dos anos 70, e constatou aumento superior a dois graus nas principais capitais do continente. "Um aumento de dois graus pode ser determinante para a população e a natureza. Não importa o que façamos, haverá um aumento de pelo menos 0,7 graus na Europa. Entretanto, temos de reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa para garantir que as temperaturas não superem esse nível", disse à IPS Alison Wade, do WWF. As cidades estudadas são Amsterdã, Atenas, Berlim, Bruxelas, Copenhague, Dublin, Estocolmo, Helsinque, Lisboa, Londres, Luxemburgo, Madri, Paris, Roma, Varsóvia e Viena. Estudos científicos indicam que um aumento médio da temperatura do clima terrestre acima dos dois graus teria conseqüências catastróficas. "Se compararmos as temperaturas das cidades européias nos anos 70 com as registradas a partir de 2000, pode-se ver que as cidades já ficaram mais quentes", afirmou Wade. "A mudança climática, sem dúvida, tem um papel nesta elevação das temperaturas. Temos agora mais ondas de calor e mais caprichos da natureza e fenômenos extremos do que antes", acrescentou. A maioria dos cientistas concorda que o aquecimento do planeta é provocado pelas atividades humanas, sobretudo pelo efeito dos gases liberados pela queima de petróleo, gás e carvão, sendo o principal deles o dióxido de carbono. Esses gases vão se acumulando na atmosfera e, por sua grande capacidade de reter o calor dos raios solares, acentuam o chamado efeito estufa. O Protocolo de Kyoto que entrou em vigor em fevereiro, impõe aos países industrializados, que o assinaram e ratificaram, a obrigação de reduzir suas emissões desses gases a volumes 5,2% menores dos que as emissões registradas em 1990. O prazo para alcançar essas reduções vence em 2012. Os Estados Unidos são o principal emissor de gases que provocam o efeito estufa, com um quarto do total mundial. O presidente George W. Bush retirou, em 2001, a assinatura do Protocolo de Kyoto que havia sido colocada por seu antecessor, Bill Clinton (1993-2001), argumentando que o acordo afetaria a economia nacional. Continuando a tendência atual, a temperatura mundial pode aumentar dois graus dentro de 50 anos, no melhor cenário previsto por cientistas. Wade exorta no sentido de serem feitos estudos, semelhantes ao realizado pelo WWF na Europa, em todo o mundo. "Temos inundações maciças na Índia, uma onda de calor no Mar Mediterrâneo, secas na Espanha. Estes fenômenos se tornarão cada vez mais freqüentes e severos se a mudança climática não for combatida", afirmou o estudo do WWF, intitulado "A Europa Sente Calor: Clima Extremo e o Setor Energético", indica que Londres é a cidade européia onde a temperatura máxima média no verão aumentou, passando de 20,5 graus na década de 70 para 22,5 graus nos últimos cinco anos. A capital britânica é seguida por Atenas, com aumentou 1,9 grau; Varsóvia, 1,3 grau, e Berlim, 1,2. O maior aumento na temperatura média no verão foi registrado em Madri, com 2,2 graus, seguida de Luxemburgo com 2, Estocolmo com 1,5 grau e Bruxelas, Roma e Viena com 1,2. Nos últimos cinco anos, as temperaturas médias de verão em 13 das 16 cidades estudadas aumentaram, pelo menos, um grau em comparação às registradas entre 1970 e 1975. O trabalho do WWF ressalta o papel do setor energético no aumento das temperaturas. "Este setor é responsável por 37% das emissões de dióxido de carbono em todo o mundo, mais do que qualquer outro", diz o documento. "Cientistas prevêem que as emissões de gases causadores do efeito estufa pela humanidade estão duplicando o risco de ondas de calor extremo, como a sofrida pela Europa em 2003, que matou mais de 40 mil pessoas", alertou Mathew Davis, diretor da campanha Parem o Caos Climático, do WWF. Esta campanha exorta o setor energético a reduzir suas emissões de dióxido de carbono em 60% até 2020. "Este relatório demonstra que as cidades européias estão ficando mais quentes e que, se essa tendência continuar, nossas cidades se converterão em lugar pouco apto para se viver, com clima cada vez mais caótico", afirmou Davis. A década de 90 foi o período de mais calor na Grã-Bretanha no século XX. Até 2080, as temperaturas médias anuais nesse país podem aumentar entre dois e 3,5 graus, e até cinco graus em Londres e na região sudeste do país, segundo o WWF. De fato, o Departamento de Saúde britânico já prevê aumento de 250% nas mortes relacionadas ao calor até 2050. |
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