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La insignia
10 de agosto de 2005


Dez motivos para não matarmos baleias


Felipe A. P. L. Costa (*)
La Insignia. Brasil, agosto de 2005.



Ao contrário do que possa parecer, boa parte da pressão de caça que nós, seres humanos, exercemos sobre populações naturais nada tem a ver com o atendimento de nossas necessidades fundamentais. Exemplos? Gorilas e elefantes africanos ainda hoje são mortos para atender a um mercado internacional macabro e de gosto para lá de duvidoso: a confecção de bijuterias. (O que me diz de ter em casa a mão embalsamada de um gorila servindo como cinzeiro?) Rinocerontes e tigres asiáticos são mortos por conta de supostas propriedades afrodisíacas de partes do seu corpo (cifres e testículos, respectivamente). Araras e papagaios são abatidos em diversas regiões brasileiras por causa das penas, usadas na confecção de cocares, vestimentas etc. Tubarões são mortos por causa da cartilagem do corpo, consumida por alguns em uma tentativa (ao que tudo indica, inútil) de prevenir ou mesmo combater o câncer.

Nesses tempos sombrios em que vivemos, vale a pena ficar de olhos abertos, mesmo em se tratando de questões que aparentemente já foram "resolvidas" pela sociedade. Um exemplo disso é a caça às baleias no litoral brasileiro. Embora esse tipo de caça de fato já esteja proibido, talvez seja oportuno e instrutivo divulgar aqui os termos de uma campanha pública, empreendida há cerca de 25 anos, em favor da proibição. (Não custa lembrar que teremos ainda em 2005 um referendo sobre a proibição ou não da venda de armas de fogo em todo o país.) A referida campanha foi promovida pela Liga Brasileira dos Direitos dos Animais (RJ), em uma época na qual a única ONG verde com certa expressão no país era a Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza. O lema geral foi "10 motivos para não matarmos baleias", cujos termos eram os seguintes:

1. A caça da baleia, em todo o mundo, sempre foi uma atividade depredatória, que levou a maioria das espécies existentes à beira da extinção.

2. A caça da baleia no Brasil [1] não tem significação social e econômica expressiva para o país, e apenas beneficia uma pequena indústria nipo-brasileira [2].

3. Os métodos empregados na caça à baleia são cruéis e submetem os animais a grande sofrimento, às vezes por longo tempo.

4. Todos os produtos obtidos das baleias podem facilmente ser substituídos por outros, provenientes de outras fontes.

5. A área de caça à baleia no Brasil [ver nota 1] é local de acasalamento e a maioria das baleias capturadas são fêmeas fecundadas.

6. O Brasil [ver nota 1] e o Peru são os únicos países das três Américas que ainda capturam baleias para fins comerciais, sendo que o Peru já anunciou sua intenção de suspender a caça desses animais [3].

7. Os países que ainda caçam baleias comercialmente no mundo, entre eles o Brasil, são cada vez mais acusados de vandalismo nos meios conservacionistas mundiais [4].

8. Um enorme número de cientistas e conservacionistas, em todo o mundo, condenam veementemente a continuação da caça à baleia.

9. As baleias são animais extremamente interessantes, que habitam os mares há mais de 40 milhões de anos e seu extermínio seria uma perda irreparável para o patrimônio comum da humanidade [5].

10. Os dados científicos de que se dispõe não permitem a execução de uma captura racional de baleias, que não ponha em risco a sua existência.

Atualmente, Japão e Noruega são os maiores promotores da caça às baleias, enquanto a Coréia do Sul, Rússia e China pressionem a Comissão Baleeira Internacional pela liberação imediata. (Há uma moratória mundial, em vigor desde 1986.) No momento, nenhum país do Hemisfério Sul promove a caça às baleias [6].


Notas

(*) Biólogo meiterer@hotmail.com, autor do livro ECOLOGIA, EVOLUÇÃO & O VALOR DAS PEQUENAS COISAS (2003).
1. Como informei antes, a caça às baleias foi posteriormente proibida pela legislação brasileira.
2. Referência à famigerada Copesbra, que operou entre 1910 e 1986, ano em que a caça foi finalmente proibida no país. Em pouco mais de 75 anos de operação, segundo registros da própria empresa, foram mortas mais de 20 mil baleias de várias espécies. Trocando em miúdos, isso equivaleria a matar cerca de cinco baleias por semana, durante todo o ano, ao longo de 75 anos consecutivos.
3. O que de fato terminou ocorrendo.
4. A luta contra a caça às baleias também foi um dos objetivos do grupo fundador de uma ONG hoje mundialmente famosa, o Greenpeace; ver Capriles, R. 2005. A Mãe-Terra levou o espírito do Guerreiro do Arco-Íris. Eco-21 102: 4-7.
5. Cerca de 80 espécies de baleias, botos e golfinhos formam a ordem Cetacea: (1) os cetáceos com dentes (sub-ordem Odontoceti), onde estão os botos, golfinhos, narval, orca, cachalotes e outras baleias; e (2) os cetáceos com barbatanas e sem dentes (sub-ordem Mysticeti, onde estão as baleias filtradoras, como a gigantesca baleia azul. Os cetáceos surgiram há pelo menos 50 milhões de anos. Para detalhes, ver Pough, F. H.; Janis, C. M. & Heiser, J. B. 2003. A vida dos vertebrados, 3a edição. São Paulo, Atheneu Editora; e Evans, P. G. H. 1987. The natural history of whales and dolphins. NY, Facts on File.
6. Para detalhes, ver Baleias http://www.pick-upau.com.br/mundo/baleias/baleias.htm e Cetacea http://www.cetacea.org/.



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