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La insignia
17 de abril de 2005


Ecologia urbana


Felipe A. P. L. Costa (*)
La Insignia. Brasil, abril de 2005.


Mais da metade da população mundial (aproximadamente 6,4 bilhões de pessoas) vive hoje em áreas urbanas, boa parte concentrada em grandes cidades. Pelo menos 300 grandes cidades em todo o mundo abrigam mais de 1 milhão de habitantes, 14 das quais são megacidades, cada uma com mais de 10 milhões de habitantes [1]. A maioria dessas metrópoles está em países do Terceiro Mundo, onde o descontrole, a falta de planejamento e as taxas elevadas de crescimento populacional tendem a ser ainda mais problemáticos, transformando muitos aglomerados urbanos em lugares verdadeiramente caóticos.

Cerca de 80 por cento da população brasileira vive hoje em cidades. O país, que na primeira metade do século 20 era uma sociedade essencialmente rural, chegou ao final do século passado como um dos países mais urbanizados do mundo. Foi uma transformação profunda e acelerada. Para se ter uma idéia, em 1950, a cidade de São Paulo contava com 2,4 milhões de habitantes. (A maior cidade do país era a capital federal de então, o Rio de Janeiro, com 2,9 milhões.) Naquele ano, as cinco maiores cidades do mundo eram Nova York (12,3 milhões de habitantes), Londres (8,7), Tóquio (6,9), Paris (5,4) e Moscou (5,4). Em 1975, São Paulo já aparecia como uma das cinco maiores cidades do mundo, com pouco mais de 10 milhões de habitantes; as outras eram Tóquio (19,8 milhões de habitantes), New York (15,9), Xangai (11,4) e Cidade do México (11,2). Outros 25 anos se passaram e então, em 2000, as cinco maiores cidades do mundo passaram a ser Tóquio (26,4 milhões de habitantes), Cidade do México (18,1), Bombaim (18,1), São Paulo (17,8 milhões) e New York (16,6 milhões).

É possível notar que, entre 1950 e 2000, algumas cidades cresceram mais depressa do que outras, pois o ritmo de crescimento mudou. Entre 1950 e 1975, por exemplo, a taxa de crescimento anual da cidade de São Paulo foi de cerca de 5,8 por cento, o que implica em uma duplicação do efetivo populacional em um intervalo de apenas 12 anos. Algo, obviamente, muito acelerado; significa, por exemplo, que uma criança nascida em 1950 teria, ao completar seus 12 anos de idade, duas vezes mais vizinhos do que tinha quando nasceu; nesse mesmo ritmo, aos 24 anos de idade, o número de vizinhos teria duplicado de novo. Quer dizer, quando chegasse aos 24 anos, nosso personagem hipotético teria quatro vezes mais vizinhos do que tinha quando nasceu. Entre 1975 e 2000, a taxa de crescimento anual da cidade de São Paulo caiu para cerca de 2,3 por cento, elevando o tempo de duplicação do efetivo populacional de 12 para 30 anos [3]. As previsões dos estudiosos são de que essa taxa continue caindo. (Mesmo em cidades do Terceiro Mundo, a taxa de crescimento anual tende a cair à medida que a cidade se torna maior.)

A urbanização acelerada e massiva do país não esteve, claro, restrita à cidade de São Paulo. Mesmo na região Norte, tida ainda hoje como um lugar "remoto e selvagem", a população é essencialmente urbana: nos sete estados que integram a região (Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins), os índices de urbanização variam de 52 (Pará) a cerca 81 por cento (Amapá) [2]. Em outras palavras, a noção de que a Amazônia brasileira é povoada principalmente pelos chamados "povos da floresta" (índios, caboclos, extrativistas etc.) é em linhas gerais um grande equívoco.

Com a desvalorização da vida no campo e a continuidade do êxodo rural, os percentuais referidos acima só tendem a crescer, não só na região Norte, mas em todo o país. Nesse sentido, vale notar que, graças ao êxodo rural, os aglomerados urbanos podem continuar crescendo, mesmo quando a taxa de crescimento populacional do país está, digamos, equilibrada. Não há nada de bom no êxodo rural; ao contrário, enquanto alguns camponeses são criminosamente expulsos de suas terras, outros simplesmente abandonam o lugar onde nasceram em busca de uma vida mais "fácil e glamourosa" na cidade grande. A ilusão destes últimos não dura muito tempo, mas a maioria prefere permanecer na cidade, levando uma vida de privações e necessidades, ao invés de regressar para a zona rural.


Generalistas versus especialistas

"Cidades" e "áreas urbanas" são termos comumente definidos de acordo com a densidade populacional (número de habitantes por unidade de área). Além do adensamento populacional, no entanto, também se caracterizam pela acentuada divisão de trabalho. Nesse sentido, as cidades bem poderiam ser definidas como lugares onde há um bocado de pessoas morando juntas (sem serem necessariamente parentes, como é próprio da zona rural) ou mesmo apinhadas, em prédios de apartamentos. E mais: para sobreviver, boa parte do estrato adulto da população que vive nas cidades exerce uma atividade profissional bastante especializada. Já na zona rural predominam os generalistas. E não é muito difícil entender o motivo: para sobreviver em lugares remotos, o sujeito precisa saber fazer um pouco de tudo; caso contrário, suas chances de persistência prolongada são diminutas. (Na luta pela sobrevivência, em uma ilha remota, Robinson Crusoé transformou-se em um famoso generalista!)

Algo assim também deveria ocorrer no mundo de nossos ancestrais, quando cada indivíduo eventualmente precisaria ser capaz de executar as funções do grupo. Na verdade, a especialização é uma tendência relativamente recente na história de nossa espécie, algo que se acentuou depois da invenção da agricultura, há cerca de 10 mil anos. No fim das contas, não deixa de ser irônico que os grandes aglomerados urbanos do mundo moderno, povoados por um número crescente de especialistas, sejam tão dependentes de um número cada vez mais reduzido de camponeses generalistas. De uma perspectiva ecológica, as cidades se comportam como verdadeiros parasitas da zona rural - afinal, é de lá que retiram os recursos vitais que consomem, como alimentos e energia, sem os quais logo entrariam em colapso e pereceriam.


Notas

(*) Biólogo, autor do livro Ecologia, evolução & o valor das pequenas coisas (2003)

1. A fonte de muitas estatísticas populacionais citadas neste artigo foi o sítio eletrônico da Organização das Nações Unidas http://www.un.org, em especial o documento "World Urbanization Prospects: The 1999 Revision", que pode ser consultado no endereço http://www.un.org/esa/population/publications/wup1999/wup99.htm. Uma expectativa contida nesse documento era a de que, em 2000, o número de megacidades chegasse a 19 e, juntas, abrigassem cerca de 4,3 por cento de toda a população mundial. Em 1995, as 14 megacidades eram (em ordem decrescente de tamanho): Tóquio, Cidade do México, São Paulo, Nova York, Bombaim, Xangai, Los Angeles, Calcutá, Buenos Aires, Osaka, Pequim, Lagos, Seul e Rio de Janeiro.
2. Para detalhes, ver IBGE. 1997. Anuário estatístico do Brasil. RJ, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
3. Para os padrões dos países desenvolvidos, no entanto, a taxa de crescimento de São Paulo permanece elevada. Por exemplo, no período entre 1950 e 2000, a população de Paris (França) se comportou de modo, digamos, bem mais equilibrado, aumentando de 5,4 milhões (1950) para 8,9 (1975) e, daí, para 9,6 (2000). Entre 1950 e 1975, a taxa de crescimento anual foi de aproximadamente 2 por cento; já entre 1975 e 2000, essa taxa caiu para 0,3 por cento (menos de um terço de 1 por cento). Neste último caso, a população está quase que apenas se recompondo.



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