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La insignia
30 de abril de 2005


A guerra fria de Rumsfeld


__EUA em guerra__
2001-2002 2003 2004 2005
Tiago Soares
La Insignia. Brasil, abril de 2005.



Numa nova mostra de peculiar capacidade analítica, o Secretário de Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, deu, dia 27 de abril último, sua parcela de "contribuição" ao esforço mundial para a não-proliferação nuclear. Em audiência perante subcomitê do Senado, Rumsfeld, um dos principais artífices da "Guerra ao Terror" de Bush, pressionou o Congresso do país pela aprovação de verbas para o desenvolvimento de uma nova geração de armas nucleares. O Secretário de Defesa argumenta que, ao sinalizar com novos armamentos, Washington intimidaria a corrida de nações inimigas e grupos terroristas para a pesquisa de armas químicas, biológicas e, especialmente, nucleares.

O novo dispositivo defendido por Rumsfeld, de nome Robust Nuclear Earth Penetrator, é uma espécie peculiar de bomba nuclear- de intensidade mais baixa, desenvolvida para explosões no subsolo. Conhecida como "bunker-buster" (em inglês, algo como "caça-bunker"), trata-se de bomba que, antes de explodir, perfura o solo, tendo seu impacto sentido principalmente abaixo da terra. A idéia por trás do investimento nesse tipo de armamento é de que, por supostamente ser menos intenso e de efeito subterrâneo, ele seria perfeito para o ataque a instalações secretas científicas ou militares. Bunkers onde, acredita-se, é realizada boa parte do esforço armamentista dos países visados por Washington, bem como de grupos terroristas.

O apelo de Rumsfeld não é coisa nova - os falcões vêm, desde 2003, tentando emplacar verbas para a pesquisa de novas armas nucleares. Em novembro de 2004, o Congresso estadunidense retirou do orçamento do país cerca de US$ 27 milhões destinados ao desenvolvimento da bomba. O argumento para o corte foi que, ao tocar este tipo de experimento, os EUA estimulariam outras nações a fazer o mesmo, colocando em risco o Tratado de Não-Proliferação Nuclear. O último armamento nuclear estadunidense foi desenvolvido em 1988.


Freando os ânimos

No mesmo dia em que Rumsfeld tentava emplacar sua nova corrida armamentista, duas das mais prestigiadas instituições científicas estadunidenses, o National Research Council e a National Academies, trouxeram a público estudo jogando por terra os argumentos do falcão. Produzido a pedido do Congresso dos EUA, o estudo afirma, segundo notícia de 28 de abril publicada na New Scientist, que bombas com as características defendidas por Rumsfeld poderiam, quando utilizadas, "matar um devastador número de pessoas (civis)". Para se ter uma idéia, se utilizada numa zona urbana (onde, segundo analistas, estariam concentrados metade dos alvos estratégicos do Pentágono), o "bunker-buster" poderia, dependendo da densidade populacional e do clima, causar a morte desde "milhares até mais de um milhão de pessoas".

Isso aconteceria pelo mais prosaico dos motivos: a bomba simplesmente não funciona como planejado. Pelos cálculos do cientistas, ela não seria capaz de penetrar na terra o suficiente para conter subterrâneamente o impacto da explosão - e, por conta disso, nada ficaria a dever para um ataque nuclear sobre o solo.

Além disso, o tipo de armamento proposto, de até 5 kilotons (cerca de um terço do poder de destruição da bomba jogada sobre Hiroshima), não seria fisicamente capaz de atacar as instalações pretendidas por Washington. Para ser efetiva em instalações enterradas entre 100 e 400 metros (a média, em se tratando de alvos desta espécie), o poder do bunker-buster deveria variar entre 300 kilotons e 1 megaton.


Rumo ao precipício?

O debate sobre a nova corrida nuclear dos EUA acontece paralelamente ao pedido, dia 26 de abril último, de aquisição, junto ao Pentágono, de 100 bombas convencionais de efeito subterrâneo por Israel. O possível acordo, no valor de US$ 30 milhões, teria o intuito de equipar a força aérea israelense com armamento capaz de atacar (sem tanta intensidade) instalações como as visadas por Rumsfeld.

O assunto causa inquietação no Oriente Médio. Parceiro estratégico dos EUA e, acredita-se, dono do único arsenal nuclear de sua região, Israel teria sido, em janeiro deste ano, sondado pelo vice-presidente estadunidense Dick Cheney como possível aliado num ataque às instalações nucleares iranianas - o Irã, vale lembrar, é suspeito de coordenar programa secreto de armas atômicas. O governo de Israel, porém, nega, segundo o diário isrealense Ha'aretz, que esteja planejando um futuro ataque ao Irã.

Apesar da negativa de Israel, há espaço para dúvida. Os EUA têm jogado pesado com as pretensões atômicas dos países considerados "inimigos" -- especialmente após o anúncio, em 10 de fevereiro último, da fabricação de armamento nuclear pela Coréia do Norte (um dos alvos preferenciais de Bush). Resta, agora, saber se, ao apertar o jogo e aumentar a tensão no xadrez nuclear, Washigton vai colocar na linha os "rogue states" ou, simplesmente, empurrar um pouco mais ao precipício a segurança global.


Fontes

Reuters - Rumsfeld asks Congress to fund nuclear-bomb study
http://www.reuters.com/newsArticle.jhtml?type=topNews&storyID=8320041
New Scientist - Bunker-busting nukes could devastate civilians
http://www.newscientist.com/article.ns?id=dn7318
ABC News - Bush seeks cash for bunker-buster nuk
http://www.abc.net.au/news/newsitems/200502/s1298463.htm
British American Security Information Council - Leading by the Wrong Example: New Nuclear Weapons Developments in the United State
http://www.basicint.org/nuclear/NPT/2005rc/brief14.htm
Ha'aretz - Israel to purchase American-made `bunker-busters'
http://www.haaretz.com/hasen/spages/569793.html



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