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La insignia
13 de junho de 2004


Não tropece na língua!

Antes de mais nada, na verdade é correto


Maria Tereza Piacentini (*)
Língua Brasil, junho de 2004.


"Gostaria de saber algo a respeito da expressão 'antes de mais nada', que usualmente é utilizada na abertura de discursos, pois na minha opinião, a expressão em si nada significa. Gostaria de saber se é correta essa utilização e até, se possível, a origem dessa expressão."
-J.C.A., Florianópolis/SC-

Para começar, a língua não se comporta racionalmente, ou seja, ela tem sua lógica própria. Por isso não adianta falar em expressões vazias, que não têm sentido, não dizem nada. Tudo tem sentido. Os falantes vão criando expressões e modos de dizer que atendam às suas necessidades de comunicação. Eu poderia ter iniciado este parágrafo, além do modo como o fiz, com "Primeiramente, Em primeiro lugar, Antes de tudo, Primeiro que tudo, ou mesmo o mal falado Antes de mais nada" - sem preconceito.

Se não é possível precisar a sua origem, é importante destacar que "antes de mais nada" é uma locução adverbial antiga na língua portuguesa. O escritor luso Camilo Castelo Branco já a empregava nos idos de 1800:

"Vamos ver quem geme antes de mais nada."

E também já foi utilizada por Rui Barbosa, na Réplica (1902):

"Ora, antes de mais nada, se essa dissonância fosse inevitável, eu não a teria notado."

Assim, não é preciso mudar a expressão quando o corretor ortográfico a grifa de verde e sugere "antes de tudo / antes de qualquer coisa". Pensando bem, esta última não parece pior?

***

"Na verdade: fenômeno atual ou vício? No ano de 1993 escutei e prestei a atenção pela primeira vez na expressão 'na verdade' falada por uma amiga residente em Brasília. A data me é precisa exatamente porque considerei aquilo estranho aos meus ouvidos. Atualmente, se prestarmos atenção, o na verdade é usado em mais da metade das respostas dadas a repórteres ou entrevistadores, na TV. E é usado com enorme freqüência em diálogos informais do cotidiano, particularmente acadêmico. Minha pergunta é a seguinte: trata-se essa expressão de um vício disseminado por algum 'vírus lingüístico', que faz uma imensa parcela da população usá-lo para impor-se perante seus interlocutores?"
-F. S., Curitiba/PR-

Além da locução comentada no primeiro item ["antes de mais nada"], o livro "Locuções Adverbiais", de Schwab A. (UFPar, 1985), também contempla a locução "na verdade", que quer dizer "realmente, certamente, de certo, por certo" e já foi usada até por Machado de Assis no romance D. Casmurro:

"Na verdade, Capitu ia crescendo às carreiras."

O fato é que não se pode fugir dessa locução quando se trata de linguagem coloquial. É uma expressão de reforço, usual e lícita. Agora, se as pessoas atualmente exageram na sua aplicação, aí sim pode ser um caso para os psicólogos, e não para os lingüistas.

***

"Estão dizendo que não se usa a abreviatura 'Profa.' para professora. Todo mundo, na universidade, é 'Prof.' E aí, como é que eu faço para saber se é ele ou ela, um autor ou autora, quando me deparo com um trabalho escrito por Prof. Enéas, Prof. Darci, Prof. Roseli, Prof. Alcione?"
-JU, Florianópolis/SC-

Para quem lê não há solução, a não ser que as pessoas passem definitivamente a usar a abreviatura indicativa de feminino quando se referirem a uma mulher: Profa. Enéas, Profa. Darci, Profa. Roseli, Profa. Alcione. Aliás, o bom e correto é usar esta abreviatura para todas as mulheres professoras, podendo o 'a' final ser elevado: Profa. Maike, Profª Helena, Profª Nora Silva.


(*) Maria Tereza de Queiroz Piacentini, autora dos livros "Só Vírgula" e "Só Palavras Compostas", é diretora do Instituto Euclides da Cunha (www.linguabrasil.com.br).



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