Mapa del sitio Portada Redacción Colabora Enlaces Buscador Correo
La insignia
12 de junho de 2004


O brasileiro da Kodak


Luís Nassif
Folha de São Paulo. Brasil, junho de 2004.


Está certo que Santos Dumont é herói nacional. Os mais velhos se lembrarão de Carlos Chagas ou de César Lattes, que quase foi nosso Nobel. Mas os cientistas e inovadores têm pouco espaço na nossa cultura. O imaginário popular está focado em esportistas, políticos, advogados, músicos em geral.

Por isso, quando soube da concessão do prêmio da Fundação Conrado Wessel para cinco cientistas brasileiros, me animei. Mas quem era esse tal Conrado?

Nascido na Argentina em 1891, com um ano de idade Conrado tornou-se cidadão de Sorocaba, para onde se mudou sua família alemã. A Escola Politécnica tinha acabado de ser montada, e o pai de Conrado, Guilherme Wessel, convidado para ser professor de física.

A escola era próxima do Jardim da Luz, local preferido dos paulistanos para tirar fotografias, a nova moda que grassava por meio dos lambe-lambes. Desde os tempos de estudante, em Hamburgo, na Alemanha, Guilherme se interessava pela fotografia, como negócio, mas também como tecnologia.

Depois de algum tempo, adquiriu uma loja de fotografias na rua São Bento. Foi a primeira de uma série de lojas de fotografias fundadas por casais europeus naquela rua, precedendo a Casa Cosmos e a Fotoptica.

Desde cedo Conrado se interessou pelo tema e, adolescente, ganhou dois prêmios de fotografia em concurso promovido pela Secretaria da Agricultura de São Paulo. Durante seis meses foi assistente de um cinegrafista da Gaumont, que em 1908 veio filmar fazendas de café para a propaganda do produto na Europa -nos tempos em que o café brasileiro ainda sabia se promover. Com esse trabalho, conseguiu a primeira carteira de cinegrafista emitida no país.

O pai apostou do talento do filho e, em 1911, o enviou para estudar fotografia na K. K. Lehr und Versuchs Antsalt, em Viena. Lá, ele se especializou em clichês para revistas e jornais.

Voltou dois anos depois com a idéia de montar uma fábrica nacional de papel fotográfico.

Para se aprofundar no tema, decidiu se matricular como aluno ouvinte da Poli. Após muitas experiências, chegou à fórmula ideal.

Em março de 1921, inaugurou a primeira unidade da fábrica, em um pequeno prédio de seu pai na Barra Funda. Adquiriu algumas máquinas, importou papel da Alemanha, e a tecnologia desenvolvida por ele permitia fixar a emulsão de sais de prata na base do papel.

Conseguiu a patente, concedida pelo então presidente Epitácio Pessoa, e batizou o produto de Postal Jardim, para atrair os lambe-lambes do Jardim da Luz. Os papéis da Fábrica Privilegiada de Papéis Photograficos Wessel levaram algum tempo para conquistar mercado. Fez campanha entre os fotógrafos, mas, apesar de melhor e mais barato, não conseguia superar o fascínio que o produto estrangeiro sempre exerceu sobre nossos consumidores. Salvou-o a Revolução dos Tenentes, em 1924, que deixou São Paulo isolada e os lambe-lambes sem papel fotográfico.

Aí começaram a comprar o Postal Jardim. Quando a revolução terminou, os estrangeiros tentaram recuperar o mercado, até oferecendo produto pela metade do preço. Para combater a invasão, Wessel lançou o mesmo papel, mas com nome diferente e preço menor ainda. Surpreso, constatou que os fotógrafos faziam questão do original, mais caro.

Passou a ser assediado por todas as empresas estrangeiras. Acabou fechando um acordo com a Kodak, pelo qual a empresa construiu uma fábrica nova no bairro de Santo Amaro e concedeu a administração a ele por 25 anos. Ao final do período, fábrica e patentes passariam para o controle da Kodak.

Wessel virou um empresário nacional rico. Fosse norte-americano, teria virado multinacional. Adquiriu vários imóveis, inclusive a área onde está o Shopping Pátio Higienópolis. Morreu em 1993, aos 102 anos, sem herdeiros e com o sonho de criar um prêmio que fosse o Nobel brasileiro.

Está na hora de o país começar a cultuar os seus tecnólogos, os homens que, apesar de tudo, de governos incompetentes, do bacharelismo de advogados e economistas, da torcida nacional pelo fracasso, lograram empreender e deixar uma obra.



Portada | Iberoamérica | Internacional | Derechos Humanos | Cultura | Ecología | Economía | Sociedad Ciencia y tecnología | Diálogos | Especiales | Álbum | Cartas | Directorio | Redacción | Proyecto