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La insignia
6 de junho de 2004


As ligações (cirúrgicas) perigosas


Millôr Fernandes
La Insignia. Brasil, junho de 2004.


Mulher linda, sensual, altamente desejável. Além disso, e evitando o "mau" uso dessas características, era devota, crente, caridosa. Por isso (*) um dia Deus lhe apareceu. Ela se prostrou (**) diante dele, maravilhada e contrita. E Deus lhe disse: "Por todas tuas virtudes morais e religiosas, jamais anuladas pelas tentações físicas, você vai viver 100 anos." Estimulada pela promessa divina, a mulher caprichou cada vez mais nas suas práticas humanistas. Mas, não querendo que seu esplendor físico se distanciasse muito de suas qualidades morais, aos cinqüenta anos fez uma operação plástica. Em nome de Deus. Aos cinqüenta e cinco anos achou que devia manter os resultados positivos conseguidos aos cinqüenta e fez outra plástica. Outra aos sessenta. Outra aos sessenta e cinco. Um dia, aos setenta, quando ia saindo da clínica do Dr. Pitangui, catrapum!, foi atropelada por uma ambulância da AMIL (***). Ao abrir os olhos estava no céu. Diante de Deus! Foi insopitável a cobrança: "Mas, Senhor meu Deus, o Senhor tinha me prometido..."

E Deus, um tanto ou quanto contrafeito: "Perdão, minha filha, eu não a reconheci."


(*) Pelas qualidades espirituais, ou pruma olhadinha pro bumbum, uma paquerada? As opiniões divergem. Uns acham que Deus é Deus. Outros acham que ninguém é perfeito.
(**) No bom sentido. Não no maroto, aquele do "ajoelhou tem que rezar".
(***) Podia ser qualquer outro veículo. Mas a AMIL é sempre uma ameaça.

MORAL: É PRECISO SER RECONHECIDA POR DEUS. NÃO BASTA SER RECONHECIDA AO CIRURGIÃO PLÁSTICO.



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