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La insignia
5 de junho de 2004


A dor de ser brasileiro


Fausto Wolff
La Insignia. Brasil, junho de 2004.


Meus quase 50 anos de jornalismo profissional ensinaram-me a não acreditar em números oficiais nem nas manchetes da grande imprensa. Os números oficiais mentem sempre a favor do governo. Os dois principais motivos são os seguintes:

1) a grande imprensa é sócia dos Três Poderes, como provou ao quase pedir a beatificação do presidente das Organizações Globo por ocasião da sua morte; 2) não há ninguém interessado em checar esses números e, se houver, ele não terá onde publicar o que descobriu. Quanto às manchetes, são sempre positivas. O aumento da gasolina, dos impostos, da luz, do telefone, dos preços em geral é sempre dado em uma ou duas colunas. Quando, depois de subir 50%, o dólar cai 0,5% vira manchete: baixou o dólar. O mesmo vale para mercadorias que dobram de preço e, porque o país é pobre, a oferta passa a ser maior do que a procura, baixam 5% ou 10%: Cai o preço dos remédios.

Trinta anos de ditadura oficial e mais 17 de ditadura branca alienaram o povo que não lê e não sabe. Quando por acaso lê e sabe, não tem condições para fazer nada, pois está procurando um emprego para alimentar a família. Só conheço no Brasil um único caso de um cidadão que levou seus direitos às últimas conseqüências e está processando o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso por crime de lesa pátria, devido ao escabroso contrato que, praticamente, dá de presente a base de lançamento de foguetes ao governo americano. Este homem chama-se Mário Barbosa Villas Boas, engenheiro e advogado residente em Florianópolis, e o caso, se já não foi, deve ser julgado pelo Supremo Tribunal Militar por esses dias.

As remessas ilegais superam a casa dos US$ 60 bilhões e são apenas um sintoma da corrupção sistêmica decorrente do sistema econômico A verdade é que dói ser brasileiro e ver o Judiciário, o Legislativo, o Executivo, a imprensa e o poder econômico torturando o povo e ele não poder fazer nada. A organização de Bin Laden (Al Qaeda), sempre que ele e ela existam, clamou para si a autoria do apagão que deixou Nova York, toda a Nova Inglaterra e parte do Canadá às escuras. Segundo eles, a operação de sabotagem teria custado US$ 7 mil e o prejuízo foi de US$ 10 bilhões. A grande imprensa, mancomunada com o neoliberalismo enlouquecido, não deu detalhes de saques, mortos, feridos. Ao ler isso, pensei: "Bem menos que os US$ 30 bilhões que os ladrões da CC5, via Banestado, mandaram para o exterior". Fiquei com lágrimas nos olhos ao ler o artigo do professor Adriano Benayon, professor de Economia da Universidade de Hamburgo e autor do livro Globalização versus Desenvolvimento, onde ele declara que as remessas ilegais superam a casa dos US$ 60 bilhões e são apenas um sintoma da corrupção sistêmica decorrente do sistema econômico, sob comando externo, implantado desde 1954, coincidentemente o ano da morte de Getúlio Vargas. Trata-se de um filme de terror. Em 2001, havia 90 mil brasileiros com patrimônio superior a US$ 1 milhão, grande parte com dezenas de milhões.

Nas declarações de Imposto de Renda daquele ano, entretanto, o patrimônio brasileiro no exterior era de apenas US$ 12 bilhões. Segundo Jean Ziegler (relator da ONU para o direito à alimentação), em 1992, havia US$ 60 bilhões procedentes do Brasil na Suíça. Se isso representava 40%, teríamos naquele ano US$ 150 bilhões roubados do povo brasileiro. Segundo a Polícia Federal, saíram ilegalmente do país de 1992 a 1998, US$ 124 bilhões. Façam as contas e vejam quantas reformas agrárias poderiam ser feitas com esse dinheiro, mas, lembrem-se, que isso não é nada se comparado ao que as grandes transnacionais, subvencionadas pelo nosso governo e os serviços privatizados, mandam para suas matrizes. Com os aplausos da grande imprensa e o apoio da quase totalidade do Congresso passou a reforma tributária, pois as transnacionais e seus capachos brasileiros não estão contentes com o butim atual. É o poder contra o povo, pois ainda não vi o presidente Lula se pronunciar sobre o assunto.

Esses sonegadores são assassinos. Cada vez que roubam (e roubam o tempo todo) cometem genocídio, matam famílias inteiras. E o genocídio, na opinião deste jornalista, deveria ser punido com pena de morte em praça pública. Mas quem se importa? Trata-se apenas do povo.



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