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1 de junho de 2004 |
Leonardo Boff
As imagens de torturas a prisioneiros iraquianos, aliás cotidianas, segundo o NYTimes de 31 de maio, nas prisões norte-americanas, são reveladoras do descalabro ético a que chegamos. Elas tem a ver com a crise de nosso paradigma civilizatório. Com efeito, a era que está terminando se fundou na vontade de conquista e dominação dos outros e da natureza, quase sempre com o recurso da violência direta. O capital, a acumulação privada de bens materiais, o consumismo, a competição, a exaltação do indivíduo e a espoliação dos recursos naturais caracterizam esta era. Junto a valores irrenunciáveis, não se pode desconhecer um legado perverso: uma humanidade barbarizada e dividida entre incluidos e excluidos, uma Casa Comum depredada e uma máquina de morte montada, capaz de destruir o projeto planetário humano e de afetar profundamente o sistema da vida. Tudo indica que ela já realizou suas virtualidades históricas. Sem capacidade de persusão, precisa usar a violência para se manter, o que agrava sua situação. Se quisermos garantir nossa presença no processo evolucionário precisamos de outro arranjo civilizatório que nos crie condições de futuro e de sustentabilidade.
Em outras palavras, precisamos de uma revolução no sentido clássico da palavra, vale dizer, do estabelecimento de uma nova utopia, de um novo rumo com outras estrelas-guias que orientam a caminhada, desta vez, da humanidade como um todo. Embora com pretensões universalistas, todas as revoluções anteriores foram regionais. Agora importa que ela seja global porque globais são os problemas que exigem um equacionamento global. E ela é urgente, porque o tempo do relógio corre contra nós. Ou a faremos dentro de um tempo limitado (a ONU estabelece até o ano 2030, Joanesburgo até 2050) ou será tarde demais. O sistema-Terra-Humanidade perderá sustentabilidade. O impensável pode virar provável. Sobre que base se fará esta revolução?Cristovam Buarque, nosso político-pensador, nos acenou para a pista verdadeira. Referindo-se à segunda abolição, a da pobreza, escreveu: precisamos de "uma coalizão de forças que se fará por razões éticas, muito mais do que por razões políticas". Pensando na situação mundial equivale dizer: precisamos urgentemente de uma ética planetária para garantir nosso futuro comum. Como se fará isso? Não será em poucas linhas que desenharemos seu perfil, coisa que tentamos em nosso ensaio, fruto de muitos intercâmbios, Ethos Mundial, um consenso mínimo entre os humanos (Sextante 2004). Mas precisamos antes de tudo uma utopia: manter a humanidade re-unida na mesma Casa Comum contra aqueles que querem bifurcá-la fazendo dos diferentes desiguais e dos desiguais dessemelhantes. Em seguida, precisamos potenciar o nicho onde irrompe a ética:a inteligência emocional, o afeto profundo (pathos) onde emergem os valores. Sem sentir o outro em sua dignidade, como semelhante e como próximo, jamais surgirá uma ética humanitária. Depois importa viver, no dia a dia, para além das diferenças culturais, três princípios compreensíveis por todos: o cuidado que protege a vida e a Terra, a cooperação que faz com que dois mais dois sejam cinco e a responsabilidade que zela pelas consequências de todas as nossas práticas para que sejam benfazejas. E por fim, alimentar uma aura espiritual que dará sentido ao todo. A nova era ou será da ética ou não será. |
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