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18 de janeiro de 2004 |
O relatório do conselheiro Zacarias (II)
Maria Tereza Piacentini (*)
É incontestável a predominância da ênclise:
1) Um pardinho, seu escravo, matou-o a facadas. Nem mesmo o pronome relativo QUE atrai o pronome átono em todas as ocasiões:
3) E na verdade assim foi, pois descobriu-se o cadáver do infeliz sepultado defronte de sua casa, e soube-se que, recolhido uma noite ao seu quarto, foi, quando profundamente dormia, acometido pela mulher, que descarregou-lhe um golpe de machado, de que instantaneamente perecera, ajudada nesse horrível crime, e no ato de sepultar o cadáver, pela filha, que acompanhou-a na fuga. Pela norma canônica, não se deve usar a ênclise quando se tem a seqüência QUE + VERBO PRINCIPAL. No entanto, por maior que seja a censura nesse ponto, é cada vez mais comum no séc. 21 esse uso tão criticado no séc. 20 e habitual no séc. 19. Mas eis que aparece o emprego considerado “puro”: 5) Recebiam do abastado e humano fazendeiro provas de amizade nos presentes que lhes dava. Também casos de próclise tornam-se visíveis no relatório do Conselheiro Zacarias:
6) [...] recursos com que, provavelmente, por algum tempo ainda se há de contar na província. [A preferência brasileira hoje seria “ainda há de se contar”.] Não é “proibido” usar a ênclise com verbos no pretérito imperfeito do subjuntivo, tempo em que estão conjugados os três últimos verbos, mas de fato não soaria bem escrever “postasse-se, pusesse-se”. Vale lembrar: o que preside a colocação pronominal é antes de tudo a eufonia. Por fim, mais duas locuções verbais: a de número 12 confirma a ênclise usual quando o verbo principal está no infinitivo. Encontrando um particípio (com o qual jamais se usa a ênclise), o redator juntou (frase 13) o pronome átono ao verbo auxiliar, a despeito da negativa em frente: 13) A catástrofe de fevereiro felizmente não tem-se reproduzido [...]. Nós brasileiros, de acordo com nossa pronúncia, hoje escreveríamos assim: “felizmente não tem se reproduzido”. (*) Maria Tereza de Queiroz Piacentini, autora dos livros "Só Vírgula" e "Só Palavras Compostas", é diretora do Instituto Euclides da Cunha (www.linguabrasil.com.br). |
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