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La insignia
20 de julho de 2003


Não tropece na língua!

Socorro! Pontuação em excesso


Maria Tereza Piacentini
Língua Brasil, julho de 2003.


"Gostaria de saber se é correta a colocação de ponto final no término de frases que tão-somente indicam a data em que o documento foi elaborado." Daniel, Florianópolis/SC

"Gostaria de saber se se usa ponto final no fim de datas, como por exemplo: Joinville, 9 de abril de 2003". P. I. P. C., Joinville/SC

Márcia, de São Paulo, também solicitou a abordagem do assunto, bem como Júlio César Ramos, de Florianópolis, pois "me deparei com situações inéditas referentes à pontuação".

Usa-se um ponto para marcar fim de frase. Pode-se dizer de outro modo, à maneira de Carlos Goes (Método de Análise, 24 ed., Liv. Francisco Alves, 1961): a frase começa sempre por letra maiúscula e termina por ponto-final, ponto-de-interrogação, ponto-de-exclamação ou reticências. O autor chega a fazer uma nota para deixar bem claro que a frase termina por exclamação ou interrogação "quando estes coincidem com o ponto final" (ibidem, p.12).

Inferência básica: não se usa ao mesmo tempo a interrogação e o ponto-final, ou a exclamação e o ponto-final. Basta um deles para marcar o término da frase. Portanto, é inadequada, por excessiva, a pontuação encontrada nos seguintes casos:

A menina ficou aos prantos: Socorro! Socorro!.
Admirou-se: "O presidente não gosta de assistir à televisão?".
A pontuação fica perfeita assim:
A menina ficou aos prantos: Socorro! Socorro!
Admirou-se: "O presidente não gosta de assistir à televisão?"

Observe que é redundante esse ponto-final mesmo quando existem aspas depois da interrogação ou exclamação. Repito um bom exemplo:

Após uma exibição privada de Sunset boulevard, título original deste filme, Louis B. Mayer, o ex-chefão da Metro, virou-se para o diretor polonês Billy Wilder e gritou: "Canalha!" Para o executivo, era demais...

Excetua-se da regra, naturalmente, a exclamação ou interrogação que faz parte de um nome próprio e que por coincidência venha no final da frase:

"Eu não quero presente. Eu quero é dinheiro." Dercy Gonçalves, atriz que acaba de completar 96 anos, em entrevista no A Casa É Sua, da Rede TV!.

E o ponto da data, para que serve? Configura a data uma frase? Se não é frase, nada de ponto. Frase - resumindo o que dizem as gramáticas - é qualquer enunciado com sentido completo, contenha verbo ou não. Pode ser feita de uma só palavra ou uma reunião delas, e seu sentido é dado pelo contexto. São exemplos de frases sem verbo (o que nos interessa agora): Fogo! Silêncio! Oi, tudo bem? Tudo certo. Muito obrigada pelas flores, meu anjo. Que maravilha... Grandes amores, grandes tormentos.

Em princípio, uma data é um fragmento de frase. E fragmento não leva ponto. Se isso não convence, posso acrescentar que não se pontuam os títulos [de livros, capítulos, artigos, matérias de jornal etc.], as assinaturas, nomes de cargos, endereços e todo o cabeçalho de uma correspondência ou redação. Se a data aparece numa dessas circunstâncias, não é necessário tascar-lhe um ponto-final. Eu não chegaria a afirmar que é erro, pois não me agradam as camisas-de-força em termos de linguagem. Mas particularmente economizo esse pontinho nas datas que escrevo.



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