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28 de dezembro de 2003 |
Felipe A. P. L. Costa (**)
Pesquisadores encontraram nas Montanhas Brandberg, Namíbia (Sul da África), exemplares vivos de uma ordem inteiramente nova de insetos. Dessa vez, não se trata apenas de encontrar e descrever uma espécie nova ou mesmo um gênero até então desconhecido - eventos relativamente corriqueiros em entomologia [1] -, mas de descobrir um novo padrão de organização, um jeito inteiramente novo de ver os insetos. Algo semelhante não acontecia desde 1914-1915, quando a diminuta ordem Grylloblattodea (hoje com cerca de 25 espécies) foi estabelecida.
Em termos taxonômicos, todos os insetos estão reunidos em uma única classe (Insecta), subdividida por sua vez em 30 ordens, com destaque (pelo número de espécies que abrigam) para as ordens Coleoptera (cerca de 300 mil espécies de besouros), Lepidoptera (120 mil espécies de mariposas e borboletas), Hymenoptera (110 mil espécies de vespas, abelhas e formigas), Diptera (90 mil espécies de moscas e mosquitos) e Hemiptera (60 mil espécies de cigarrinhas e percevejos). A partir de agora, a classe Insecta passa a contar também com a ordem Mantophasmatodea; por conta dessa novidade, não seria nenhum exagero dizer que, da noite para o dia, todos os livros-texto de entomologia tornaram-se obsoletos! Aliás, algum editor brasileiro podia aproveitar a oportunidade e publicar um livro bom, abrangente e atualizado sobre o assunto. É vergonhoso dizer, mas o melhor e mais abrangente livro-texto de entomologia já publicado no país está com mais de 30 anos de atraso em relação à edição original [2]. A honrosa descoberta africana de agora coube ao entomólogo alemão Oliver Zompro, do Instituto Max Planck de Limnologia. Zompro, um especialista em bichos-pau, vê combinados na nova criatura traços de insetos de três ordens diferentes: Phasmatodea (bichos-pau e bichos-folha), Mantodea (louva-a-deuses) e Orthoptera (gafanhotos e esperanças). O novo inseto, entretanto, não possui patas raptoriais, como ocorre entre os louva-a-deuses, nem patas saltatórias, como é regra entre os gafanhotos (fotos suas podem ser vistas na Rede: procure por "Mantophasmatodea" nos sítios da National Geographic (http://www.nationalgeographic.com) e do Planet Ark (http://www.planetark.org), por exemplo). Além disso, embora sua aparência geral lembre um bicho-pau, seus hábitos alimentares são bem diferentes: enquanto os bichos-pau são todos exclusivamente herbívoros, o fundador da nova ordem Mantophasmatodea é um animal carnívoro. Zompro já estava convencido de que tinha uma grande novidade pela frente enquanto estudava exemplar fóssil desses insetos. A princípio, no entanto, imaginou que se tratava de mais uma ordem de insetos composta exclusivamente por espécies extintas (já existem algumas ordens assim); ele só mudou de idéia depois que teve a chance de examinar exemplares guardados em duas importantíssimas coleções entomológicas, a do Museu Britânico de História Natural e a do Museu de Berlim. O desafio, então, passou a ser encontrar o animal vivo! Após receber uma resposta positiva a uma indagação que fez ao Museu de História Natural da Namíbia, ele foi para as Montanhas Brandberg (região de procedência dos exemplares examinados em museu), onde integrou uma equipe de campo formada por alguns cientistas. Lá, ele conseguiu capturar alguns indivíduos vivos, levando-os consigo para estudá-los em laboratório, na Alemanha. Agora, ao que tudo indica, ele já tem planos para retornar e estudar com mais calma o animal no lugar onde realmente importa: em seu hábitat natural, na Namíbia.
Notas
(*) Versão original deste artigo apareceu na edição No. 2006, de 04/04/2002, do JORNAL DA CIÊNCIA E-MAIL. Oliver Zompro mantém um sítio eletrônico |
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