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30 de setembro de 2002 |
Ciro nem vai nem fica
La Insignia. Brasil, setembro de 2002.
A aventura de Ciro Gomes termina de maneira melancólica. O candidato
que chegou a ser ameaça a Lula está em quarto lugar e só não é o último
em função dos chamados partidos pequenos. Tem 11% das intenções de votos
e a maior parte dos seus principais apoiadores começa a cair fora. O
último deles o ex governador Leonel Brizola. Quer que Ciro renuncie para
apoiar Lula já no primeiro turno. Na prática, correr atrás do tempo
perdido.
O jurista Celso Antônio Bandeira de Mello, um dos mais respeitados no País, entrou com petição junto ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), dirigida ao vice presidente daquela corte, ora transformada em comitê pró Serra, pedindo o afastamento do ministro Nelson Jobim. Alega e fundamenta que Jobim não é isento na condução do processo eleitoral e favorece ao candidato oficial. Celso Antônio Bandeira de Mello afirma que o faz em "causa própria e como patrono" e, aí, uma longa de juristas de primeira linha: Fábio Konder Comparato, Gofredo Silva Telles e Gofredro Silva Telles Jr, Dalmo Dalari e outros. A petição afirma de pronto que quer "argüir a suspeição do Exmo. Sr. Presidente do TSE, Ministro Nelson Jobim para presidir as eleições próximas futuras à Presidência da República, em razão de sua amizade íntima com o candidato José Serra, na conformidade dos termos que seguem..." A alegação do jurista, um dos mais respeitados no País, é a de que o "Código de Processo Civil, em seu artigo 135 estatui: "reputa-se fundada a suspeição de parcialidade do juiz quando: I - amigo íntimo ou inimigo capital de qualquer das partes". Esclarece que o artigo 137 torna o disposto no artigo 135 aplicável a todos os juizes, em qualquer instância. O pedido de suspeição não fala nas denúncias sobre as urnas eletrônicas. Vários técnicos e especialistas aumentaram o tom das denúncias e há afirmações explícitas de que o papel de Jobim agora é assegurar o segundo turno e a presença de José Serra. É aí que entra Brizola e sua proposta de apoio imediato a Lula. O ex governador adverte que um segundo turno fará com que "terríveis forças internacionais" busquem assegurar a vitória de Serra, num segundo turno, a qualquer preço, inclusive através da "fraude". Raimundo Faoro, ex presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) já havia feito semelhante denúncia em entrevista que concedeu à imprensa de um modo geral. Faoro é considerado um dos mais importantes pensadores brasileiros. O estilo agressivo e desvairado de José Serra fazem crer que o candidato esteja escorado na certeza que as urnas eletrônicas irão garantir sua presença no segundo turno. Há notícias, publicadas em todos os grandes jornais, que o candidato tucano contratou, só para Minas Gerais, onde está perdendo segundo as pesquisas em proporções elevadas, 30 mil pessoas para a boca de urna. Nelson Jobim, compadre e amigo de Serra, há menos de dois dias disse que "a boca de urna é ilegal". Soa como Armínio Fraga advertindo especuladores pouco antes de ir jogar golfe num clube da nata da elite brasileira. Ou seja: com os especuladores. Devem ter dado gargalhadas. O FMI acha que um arrocho maior resolve o "problema" do Brasil. Quer dizer, dos banqueiros internacionais. É a receita do Fundo para o próximo governo. FHC, na moita, enviou mensagem ao Congresso modificando os artigos da Constituição que dizem respeito a telecomunicações, petróleo, gás canalizado, distinção entre empresas brasileiras e de capital nacional, recursos minerais e hidráulicos e navegação de cabotagem e interior. Quer abertura total ao capital estrangeiro. Começa o processo de privatização, por exemplo, da Petrobrás. Com o País mergulhado no debate eleitoral a grande imprensa esconde o assunto e os pilantras da base governista, em fim de mandato (muitos dos quais não serão reeleitos) podem aprovar as propostas como tudo nesse governo: à custa de muito dinheiro, o balcão de negócios montado na chamada base governista e na calada da noite. Há uma sensação que o País desmanchou. Isso faz com que as chances de Lula ganhar no primeiro turno sejam maiores. O brasileiro como quê corre contra a certeza que FHC ultima a entrega do País e tenta tornar o processo de recolonização inevitável, a camisa de força sobre quem quer que vença. Mas há uma sensação pior: a de que uma fraude monumental esteja em marcha para primeiro levar José Serra ao segundo turno e depois derrotar Lula. A despeito dos riscos, nada é impossível em se tratando de FHC, de Serra, de tucanos de um modo geral, das quadrilhas que ocupam o Planalto há oito anos. O sistema eletrônico de votação não permite recontagem em caso de dúvida, pois não ficam registros que ensejem essa prática. As duas mil urnas que servirão como garantia, espalhadas aleatoriamente, menos de 2% do total, têm esse "aleatoriamente" decidido por Nelson Jobim. Dá na mesma. Foi a forma que o presidente do TSE, nesta altura do campeonato o principal comitê eleitoral de José Serra para tentar mostrar que as urnas são seguras. O próprio PT embarcou nessa conversa e agora começa a perceber que não é bem assim. O presidente do partido, deputado José Dirceu, sabe que, neste instante, na hora decisiva, os caras jogam tudo e como não têm escrúpulo algum, vendem as mães se preciso for. Vai ser uma semana tensa, até porque setores da opinião pública, da chamada sociedade civil organizada, começam a reagir e uma fraude desse porte pode desembocar numa grande frustração nacional, a certeza que Lula já tem a maioria absoluta dos votos válidos. Fazem 10 anos que o bandido Collor de Mello foi afastado da presidência da República e desde então o capitalismo não comete erros primários, como foi a escolha do "caçador de marajás". Sofisticou-se, organizou-se e trabalha com várias frentes, a principal delas, agora, o TSE. Serra, segundo noticiam os veículos de comunicações, tem programas gravados contra Lula, contra Garotinho, de paz e amor e vai decidir, a partir das pesquisas internas, o que fazer, quais utilizar. Sua fala em qualquer lugar que esteja é uma só: "estou no segundo turno". Tenta carimbar a fraude. O pedido do jurista Celso Antônio Bandeira de Mello deverá ser julgado pelo pleno do TSE (todos os seus ministros) antes das eleições e, certamente, será rejeitado. Mas o registro, por si só, servirá para reagir à fraude caso consigam perpetrá-la. As eleições de 2002, na reta final, ganham contornos de emoção e risco maiores que as de 1989, um final dramático entre Collor e Lula. Neste momento o brasileiro vai optar por sobreviver como nacional, ou colonizado de uma conjuntura mundial orientada e comandada pelo terrorismo da Casa Branca e pelo capitalismo internacional. Isso a maioria já percebeu. Esse clima provocou a ressurreição de uma das principais líderes fascistas do País, a ex deputada Sandra Cavalcanti que, para atingir Lula, fala em "ingovernabilidade" sem maioria no Congresso. Sutil como um elefante. Para fechar, o ex governador e atual vice governador de Minas, Newton Cardoso, candidato do PMDB ao governo do Estado, deve acusar o candidato tucano e líder nas pesquisas, Aécio Neves, neto do ex presidente Tancredo Neves, de viciado em drogas e ligado ao tráfico. Vai ser o último trunfo de Newton para tentar reverter o favoritismo do tucano. As denúncias já circulam entre jornalistas e não são propriamente novidades. Serra vai começar a semana jogando pesado em Minas. |
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