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28 de setembro de 2002 |
O voto do coração
Adital. Brasil, setembro de 2002.
O Programa do Partido dos Trabalhadores (PT) promete mudanças. Não as mudanças de Fernando Henrique Cardoso (FHC), que fizeram o Brasil andar para trás.
Trata-se de diretrizes envolvendo, fundamentalmente, as questões sociais, democráticas e nacionais. Essas questões foram negligenciadas pelo atual governo de FHC, cujo candidato oficial, José Serra, promete solucionar em 4 anos o que não foi resolvido nos últimos 8 anos. O PT aponta para reformas vitais em habitação, estrutura agrária, previdência, comércio exterior, tributação, energia e infra-estrutura. O contraste com o atual governo e seus projetos continuístas é marcante. A reforma agrária do PT traz uma enorme disposição de desenvolver as zonas rurais, mediante negociação direta com o Movimento dos Sem Terra (MST). Para o PT, a reforma tributária pretende tributar os mais ricos. Esse deverá ser um instrumento fundamental de distribuição não somente de renda, mas também de riqueza. O programa de moradia do PT é profundo e abrangente, visto que trata tanto da questão da regularização do território quanto do financiamento. Lula tem se referido à necessidade de um pacto social e ampla negociação. Lula também promete reformas políticas que deverão configurar o novo pacto social. No plano institucional, o maior desafio talvez seja desenvolver canais de acesso para que novos atores cheguem ao governo e sejam capazes de participar e apoiar ativamente os projetos de mudança. Nesse sentido, o PT propõe mais participação popular por meio de um "orçamento participativo", com maiores verbas destinadas aos mais pobres. Ao longo do governo FHC, a taxa de desemprego aumentou 50%, ao mesmo tempo em que as condições de trabalho se deterioraram. Ninguém mais do que Lula está preparado para encaminhar reformas nas leis trabalhistas. Ninguém melhor do que ele conhece os interesses, os vícios e as manhas da classe empresarial na condução das suas negociações com a classe trabalhadora. Lula tem reiterado a necessidade da negociação. Somente por meio dela é que mudanças serão legitimadas por todos os atores envolvidos -trabalhadores e capitalistas. Lula tem pela frente o desafio de ser o "árbitro" do pacto social. Ele terá que tomar decisões, fazer escolhas, definir quem serão os perdedores e os vencedores. As elites brasileiras entraram em pânico com a última pesquisa eleitoral que aponta a grande possibilidade de vitória no primeiro turno. Isso significa a completa condenação do governo que termina. O candidato governista Serra utiliza toda a máquina pública, inclusive relações pessoais no Poder Judiciário, mais os poderosos meios de comunicação, para tentar levar a disputa para o segundo turno. Há informações de que os porões do governo rebuscam todos os meios para destruir a trajetória ascendente de Lula. Não se tem respeitado nem a memória do prefeito do PT assassinado no município de Santo André, Celso Daniel, com a tentativa de produzir ligações entre o crime organizado e a corrupção com a campanha eleitoral de Lula. José Serra diz de si mesmo que é "parecido com um cão buldogue; quando pego o osso não largo". Diz também que é "megalomaníaco", porque tem "certeza" de que é capaz de "resolver todos os problemas do mundo". Uma certa antipatia e ar de superioridade, entretanto, dificultam a sua propaganda de massas. Lula, ao contrário, com simplicidade e bom humor, transpira simpatia e possui um carisma desconcertante. A opinião pública parece disposta a apostar na esperança e na intuição social transmitida por Lula, do que nos cálculos de Serra, que diz saber, como ninguém, fazer as contas para que as coisas saiam do papel para a realidade. O eleitor demonstra preferir Lula, porque o identifica com quem padeceu as dores dos oprimidos, e não Serra, que demonstra ser capaz de identificar os problemas, mas não consegue transmitir a sensação de que seja capaz de compartilhar as aflições e angústias que desesperam a esmagadora maioria da população brasileira. Tudo indica que, no Brasil, as urnas vão falar pelo coração. |
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