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La insignia
27 de setembro de 2002


Brasil

PT e Igreja da Libertação


__Especial__
Brasil: Eleições 2002
Leonardo Boff
Adital. Brasil, setembro de 2002.



Quatro forças principais entraram na construção do PT, partido que se apresenta como o portador de um novo sonho de que um outro Brasil é possível. A primeira é representada pelo novo sindicalismo brasileiro, donde vêm Lula e seus companheiros. Ela conferiu ao partido o sentido de classe, em oposição ao sistema do capital, hoje globalizado, sempre em luta com o trabalho. A segunda força é constituída pela esquerda libertária que estava nos respectivos partidos, nas universidades ou que retornava do exílio. Ela deu ao PT o sentido universalista, de uma democracia a ser sempre construída.

A terceira força é o movimento social popular. Engloba centenas de organizações como o MST. Construi-se como força social a partir de uma nova consciência, de organização e de um projeto de Brasil diferente. O MST ajudou a fundar o PT, como força político-partidária, para viabilizar uma alternativa, capaz de ocupar o poder central. O partido é visto como um instrumento para se realizar um estado verdadeiramente democrático, com políticas sociais justas, no qual todos possam caber, coisa que a política tradicional das elites sempre inviabilizou. Essa força fez o PT popular e lhe conferiu a característica de resistência e de libertação.

A quarta força é a Igreja da Libertação. Por Igreja da Libertação entende-se aquela porção das Igrejas (católica e outras Igrejas evangélicas) que compreendeu a íntima associação entre evangelho de justiça social e que, em razão disso, fez uma clara opção pelos pobres, contra a pobreza e a favor de sua libertação. Essa porção, significativa mas não majoritária, ensejou as milhares de comunidades eclesiais de base, centenas de milhares de círculos bíblicos, centenas de centros de defesa dos direitos humanos e organizou a assim chamada pastoral social (pastoral da terra, dos índios, dos negros, da saúde etc).

Os integrantes deste novo modo-de-ser-Igreja se entendem como parte do movimento social com o qual estão sempre articulados. Por isso, assumiram o projeto do movimento social, evitando, destarte, a pretensão de ter um projeto próprio. Logicamente, o projeto da fé inclui mais que um novo Brasil. Ele quer uma nova humanidade e ainda a ressurreição da carne, coisa que nenhuma política pode dar. Mas a utopia da fé mostra profunda co-naturalidade com o projeto do movimento social e com o projeto do PT. Em outras palavras, o evangelho não é só bom para nos prometer a vida eterna, mas é bom também para nos ajudar a construir a vida terrena mais justa e espiritual.

Esses cristãos novos não entraram no PT. Ajudaram a fundá-lo porque viram nele um instrumento, embora não único, de realizar o projeto popular e de acercar-se mais ao sonho cristão. Em razão disso, criou-se, no Rio, em 1989, o Movimento Fé e Política, com as assinaturas de políticos e cristãos como Benedita da Silva, Chico Alencar e outros.

Esses cristãos e políticos entendem a política como um instrumento para realizar os bens do Reino que são a justiça, a fraternidade e a paz e viram o Reino como horizonte utópico da política, na medida em que a política supõe uma utopia social. Essa força deu ao PT uma mística de luta e lhe transferiu o cabedal de generosidade, própria dos discípulos de Jesus. A força do PT consiste em manter organicidade com essas forças geradoras na sua origem. Elas lhe dão singularidade e vitalidade, elevando a cultura política do Brasil. Esse partido merece chegar ao poder e dar a este um sentido verdadeiramente social e libertário.



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