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27 de setembro de 2002 |
A opção pela Argentina
Linha Aberta. Brasil, setembro de 2002.
Uma frase mal interpretada não irá mudar minha opinião sobre a Argentina e sobre o papel que a aliança com esse grande país terá na política externa de meu governo, caso vença as eleições presidenciais do próximo dia 6 de outubro.
A prioridade número um de minha política externa será a reconstrução do Mercosul, instituição fortemente abalada pelas crises que sacudiram todos seus países integrantes. Quando estive pela última vez em Buenos Aires, em agosto de 2000, escrevi nas páginas de Clarín artigo em que afirmava que a crise do Mercosul era fundamentalmente a crise vivida por Brasil e Argentina. Tinha claro naquela ocasião - e hoje tenho mais ainda - que a superação dessas duas crises locais, apesar de ser uma tarefa principal de argentinos e brasileiros, dependerá, em grande medida, de um esforço comum para dar ao Mercosul uma outra dimensão. Há candidatos nas eleições brasileiras que não acreditam no Mercosul. Um deles pensa que devemos congelá-lo, retrocedendo para uma zona de livre comércio. Penso o contrário. O Mercosul deverá ser uma área de convergência de políticas industriais e agrícolas. Deverá integrar projetos de ciência e tecnologia. Deverá pensar estrategicamente uma infra-estrutura comum para todos seus países e um Banco de Fomento ao Desenvolvimento. Inspirando-se, ainda que não mecanicamente, no modelo de construção européia, o Mercosul deverá construir sólidas instituições. Ter uma Secretaria Executiva dotada de efetivos poderes e instrumentos de ação, afinar mecanismos de solução de controvérsias e, no momento devido, criar um parlamento eleito pelo voto direto. O Mercosul precisará ter uma política externa concertada para poder fazer face aos complexos desafios das negociações em torno da ALCA, para relacionar-se com a União Européia e outros blocos e países do mundo e, sobretudo, para atrair outros sócios na América do Sul. É necessário que o Mercosul articule as políticas macroeconômicas de seus países tendendo à constituição de um Banco Central comum e a uma moeda única, o que em muito contribuirá para uma efetiva estabilidade da região. Finalmente, mas não menos importante, o Mercosul deverá ampliar a cooperação cultural e ampliar as relações entre suas instituições universitárias e de pesquisa, ao mesmo tempo em que poderá criar canais comuns de rádio e televisão. O processo de reconstrução do Mercosul tem de ser comandado pela idéia de desenvolvimento, o que implica não só o crescimento acelerado de nossas economias como uma efetiva distribuição de renda que ponha fim às graves desigualdades sociais que afetam nosso continente. A complementaridade de nossas economias é evidente e a expansão de nossos mercados beneficiará a todos. Não basta abrir nossas fronteiras físicas. Temos de ampliar nossas fronteiras sociais, incluindo dezenas de milhões de irmãos nossos que foram excluídos da produção, do consumo e até mesmo da cidadania pelos modelos econômicos que infelicitaram nossos países nos últimos anos. Que fique claro: nosso projeto de desenvolvimento nacional só terá êxito se puder articular-se com o projeto de desenvolvimento argentino e dos demais países da região. Tenho insistido nos últimos anos que o sucesso do Mercosul está em grande medida ligado à qualidade que venham a ter as relações entre Brasil e Argentina, para nós a prioridade número um. A Argentina é um grande país, com enorme potencial econômico, com uma população culta e politizada. Suas dificuldades atuais são passageiras e o Brasil deverá empenhar-se a fundo para que sejam superadas no prazo mais breve possível. Isso exige decisão e generosidade de nossa parte e um esforço comum de nossos dirigentes. Tenho certeza que não faltará aos políticos argentinos e brasileiros a capacidade para levar adiante esse projeto de união entre nossos países. A única coisa que nos separa definitivamente é o futebol. Essa separação é irreversível. Mas os conflitos nesse campo duram apenas 90 minutos. O resto do tempo poderemos dedicar à construção de um grande sonho comum que garantirá a nossos países uma presença distinta e soberana no mundo turbulento em que vivemos. |
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