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25 de setembro de 2002 |
Chegou a hora!
La Insignia. Brasil, 24 de setembro.
Lembro-me da comoção que criei entre os conhecidos, os amigos e os familiares quando, em 1989, nas semanas que antecediam a eleição presidencial, coloquei uma faixa da propaganda eleitoral de Lula na fachada de minha pequena livraria, em Jundiaí, uma cidade de porte médio, distante poucos sessenta quilômetros de São Paulo. Foi um pequeno escândalo, restrito ao meu círculo pessoal, é verdade, mas com um sabor deliciosamente revolucionário.
A revolução, para mim, sempre foi, antes de qualquer coisa, esse conjunto de pequenos gestos cotidianos, a grande maioria deles solitários e silenciosos, com os quais moldamos o nosso dia-a-dia, o nosso comportamento e as nossas mais simples opções, tendo por parâmetro os ideais que, em momentos marcantes da vida, ousamos desfraldar como estandartes, anunciando, aos quatro ventos e a todos os olhares, que somos capazes de sonhar. A faixa daquela histórica campanha não está mais na frente da livraria. Nem mesmo a livraria existe... Mas o sonho da construção da utopia persiste, não só em mim, mas em milhões de outras consciências, que, neste momento, fazem do seu cotidiano, dos aparentemente insignificantes detalhes de suas vidas, sinais de afirmação de um ideal que jamais será derrotado. Aos grandes, com certeza, parecemos desprezíveis, e é exatamente esse o melhor erro que eles podem cometer. E sempre cometem. Nós, os sonhadores, somos como aquelas diminutas formigas que habitam os lugares mais inesperados da casa: o veneno pode ser, momentaneamente, eficaz, mas elas sempre reaparecem. São incansáveis. Tantos de nós já morreram... Tantos, por não suportarem mais a dor ou a humilhação, acabaram por se matar... Fomos silenciados das maneiras mais aviltantes... E, no entanto, estamos aqui, vivos, com os olhos postos num ponto do horizonte para o qual os donos do poder estão cegos desde sempre, a não ser que seja para destruí-lo, é claro. Agora, uma nova eleição presidencial se aproxima. E o que não foi feito, entre nós, brasileiros, com a força das armas, pode começar a ser feito com a força dos votos. As mudanças e as reformas que, nos últimos anos, têm se repetido em centenas de cidades, de todos os tamanhos, espalhadas pelo território brasileiro e governadas pelo Partido dos Trabalhadores - PT, podem passar a acontecer em todo o país. A ética no trato com os negócios públicos, a idoneidade administrativa, a transparência no ato de governar e a visceral democratização das decisões políticas e administrativas podem começar a tornar-se características da nação inteira. Não tenho mais a livraria para estender a faixa na qual brilha, com inextinguível força, a estrela vermelha, símbolo universal de igualdade e justiça radicais. Por essa razão, repito o gesto com que, em toda a minha vida, tenho afirmado meus ideais: escrevo. E convido todos os que sonham com um Brasil menos desumano e mais igualitário, a fazerem o mesmo, nestas poucas semanas que antecedem as eleições. Os que preferem, como eu, escrever, escrevam. Os que se sentem melhor falando, falem, mas também proclamem em alto e bom som. Os que preferem cantar, abram os pulmões, soltem a voz. Os que apreciam a pintura, enfeitem de vermelho todos os muros, todas as calçadas, todos os postes, todas as nuvens. Os que preferem apenas sonhar, sim, sonhem, mas transformem seus sonhos em promontórios de onde, desfraldada, a bandeira do PT - e, nela, o nome de Lula - possa cobrir, como um sinal de esperança, todas as cidades, todas as esquinas, todas as consciências. Chegou a hora!
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