Portada Directorio Buscador Álbum Redacción Correo
La insignia
24 de setembro de 2002


Brasil

A reta final


__Especial__
Brasil: Eleições 2002
Laerte Braga
La Insignia. Brasil, setembro de 2002.



É um exercício de adivinhação tentar definir quem vai disputar o segundo turno das eleições presidenciais brasileiras com Luís Inácio Lula da Silva, tanto quanto se vai ou não acontecer esse segundo turno. A onda Lula é uma realidade, como os esforços dos três principais adversários do petista para tentar detê-la.

São duas semanas, 13 dias, que antecedem o 6 de outubro, data da primeira votação e até Ciro Gomes, aparentemente em quarto lugar, tem chances reais e concretas de ser o adversário de Lula.

O contrário da onda Lula é o esvaziamento da candidatura de José Serra. O candidato oficial tem procurado de todas as formas criar a impressão de que a segunda vaga é sua, exatamente por saber que não está assegurada.

O melhor indicador para análises das eleições brasileiras é o "Jornal Oficial", dito "Nacional" da "Rede Globo", a maior rede de televisão do País. O noticiário de segunda-feira abriu quase dois minutos de espaço para um discurso de FHC em que o presidente/capataz fala dos feitos do seu governo mas, no duro mesmo, procura demonstrar a inviabilidade de um modelo de política econômica diferente.

Fernando Henrique acostumou-se de tal forma a ser servil ao capital estrangeiro, à vontade imperial dos Estados Unidos, que tenta criar nos brasileiros o medo de que qualquer mudança signifique, por exemplo, a volta da inflação. O curioso é que com ou sem inflação quem sempre paga a conta é o trabalhador.

Um outro dado observado durante a última edição do "Jornal Oficial" foi o volume de propaganda de agências e órgãos governamentais. É uma tentativa de socorrer José Serra. O colunista José Simão, da "Folha de São Paulo", tem perguntado com insistência em sua coluna diária, onde o IBOPE e a "Globo" tiram os votos que as pesquisas mostram para Serra. Isso porque ninguém acha tantos votos assim do candidato oficial.

Lula e o comando de sua campanha parecem ter percebido o risco de tentar jogar tudo numa vitória no primeiro turno. O risco de entrar debilitado no segundo, até pela insinuação jogada de forma sub reptícia pelos adversários de que ganha o primeiro e perde o segundo, é um risco real.

Serra foi vaiado num dos seus comícios, num estado da região Centro-Oeste do Brasil. O tucano tem conseguido levar público às praças públicas por conta de apresentações de artistas consagrados e pagos à peso de ouro. Atrasou-se para um desses eventos, chegou à meia noite e o público impaciente lascou vaia. É que se os artistas cantam antes do candidato ninguém fica para ouvi-lo depois. Em qualquer circunstância perca ou ganhe (ganhar só com fraude) é de longe a figura mais ridícula dessa campanha eleitoral.

Garotinho não tem nada a perder em circunstância alguma. Está elegendo a mulher para o governo do Estado do Rio, atua como franco atirador e de repente, com os votos dos evangélicos, pode assustar. Pouco provável, pelo menos hoje, mas pode.

Há uma reação, se capaz de levá-lo ao segundo turno ou não é outra história, do candidato Ciro Gomes. Os ataques de Serra perderam-se na constatação pura e simples do eleitor que o candidato oficial não tem proposta alguma, só a fantasia de 8 milhões de empregos e efeitos especiais, além do veneno da presunção e do desatino.

Não tem como recobrar a imagem de sensato, de melhor preparado (Serra). Ciro ao contrário não pode sequer tocar nesse assunto de preparo. Imagine se acontece alguma coisa com ele, supondo que possa ser eleito, e o vice Paulinho tenha que assumir.

Dois dados importantes: FHC não faz outra coisa que não garantir foro privilegiado para enfrentar a avalanche de inquéritos contra ele por prática de corrupção. Criar uma barreira para evitar uma prisão, tal e qual aconteceu com Menem, tem sido uma prática obsessiva do presidente/capataz. Sabe o ferro que malha, sabe onde a coisa desanda.

O outro foi o efeito da pesquisa do "Data Folha": deixou o IBOPE vulnerável em suas armações. Vai ficar difícil manter as pesquisas segundo os interesses dos que pagam, no caso o "governo" e todo o seu aparato oficial e semi oficial.

A urna eletrônica ainda é, e como é, uma preocupação. Especialistas de todos os cantos e matizes ideológicos e partidários têm dito que o sistema não é a prova de fraudes e dá o resultado que o governo quiser, pois, afinal, quem tem a chave do negócio além do comitê pró Serra TSE, é a ABIN - Agência Brasileira de Informações -. Neste momento o papel dessa turma seria garantir a ida de Serra ao segundo turno.

A "Globo", no "Jornal Oficial" de segunda-feira iniciou uma nova série de entrevistas com os principais candidatos. Ciro foi o primeiro.

Permanece uma disfunção qualquer no robô/apresentador William Bonner: não gosta de ouvir outras pessoas falando. Quer o centro do palco, atalha, intervém no que o entrevistado diz e chegou a ser irônico ao final, quando Ciro declarou que Paulinho, seu vice, havia mudado de idéia sobre a flexibilização das leis trabalhistas, como condição para ser o seu companheiro de chapa.

A impressão que fica é que Bonner é uma espécie de trunfo da "Globo" para qualquer eventualidade. Por exemplo, ter que, numa eleição futura, inventar um novo Collor. Tem todo o perfil. Foi montado, peça a peça para cumprir esse papel. Tem até uma aparência de Jerry Lewis nos seus momentos mais imbecis como comediante. Só que o excelente ator norte-americano fazia comédias e Bonner cumpre o papel de difundir as mentiras globais, fazer a cabeça das pessoas. Vira tragédia para o Brasil e os brasileiros.

Na reta final um dos fatores que estão diminuindo a força da onda Lula correm por conta das alianças feitas com setores da direita. No caso de Minas Gerais, por exemplo, as notícias que partidários de Aécio Neves começam a optar pelo petista, despertam reação na militância, já que a candidatura de Nilmário Miranda é jogada fora. A presença de Hélio Costa no palanque em Juiz de Fora, depois de um incidente com dirigentes do partido na cidade, teve repercussões negativas junto a quem assistiu. E pior não acrescentou nada, pois o deputado global foi vaiado.

Aécio Neves é um bad boy que, oportunista e aliado ao tresloucado governador de Minas, Itamar Franco, colocou sua prancha na onda Lula, como antes havia colocado na onda Ciro, sempre com a onda Serra, ondinha, de reserva. É difícil dizer quem é pior, se Newton Cardoso ou Aécio Neves. O petista tem que tomar cuidado com essas mancadas.

A alta estúpida do dólar foi montada pelos especuladores para tirar a candidatura Serra do fundo do poço e assustar os brasileiros com a vitória de Lula. Deu errado. José Dirceu, presidente do PT, numa jogada primorosa do ponto de vista tático e estratégico, telefonou para FHC e perguntou, oficialmente, por que o dólar estava subindo tanto. O presidente/capataz não teve alternativa: a conjuntura mundial diante da perspectiva de guerra contra o Iraque. Serra passou recibo. Enfureceu e reclamou do gesto de José Dirceu. Como todo desatinado perdeu a compostura se é que teve alguma algum dia.

A reta final promete. E a disputa é "pelo vice campeonato", como afirma um deputado do PFL que não sabe mais o que fazer: já foi Ciro, virou Serra, agora não fala contra Lula, espera indicativos mais preciso para saber ou o que falar, ou onde votar. Pelo visto vai ter que ficar quieto e como ele próprio diz: "tratar do meu que o resto está muito confuso".



Portada | Iberoamérica | Internacional | Derechos Humanos | Cultura | Ecología | Economía | Sociedad | Ciencia y tecnología | Directorio | Redacción