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22 de setembro de 2002 |
TSE, Globo e Ibope reforçam esquema de Serra
Laerte Braga
Há um visível desencontro entre os velhos esquemas das classes
dominantes. O IBOPE, instituto de pesquisas especialista em fraudar
resultados de seus levantamentos com o intuito de induzir o eleitor,
criar realidades falsas, divulgou um dos seus trabalhos, esse feito para
a CNI (Confederação Nacional da Indústria), mostrando queda de Lula,
ascensão de Ciro e Garotinho (este em terceiro) e Serra estável nos 19%.
Lula "caiu" dentro da chamada margem de erro, algo em torno de 2%.
O esquema funciona dentro de uma rotatividade interessante. A "Globo" atua por linhas outras, tais como fazer coincidir suas reportagens sobre temas de interesse público, saúde, educação, desemprego, com o que José Serra fala. Reforça de forma direta, de maneira indireta, a necessidade de alguém "preparado" para enfrentar esses desafios. As pesquisas que a rede divulga, em seu "Jornal Oficial", dito "Nacional", todas do IBOPE, diferem daquelas que o IBOPE faz para a CNI, por exemplo. As datas diferentes justificam e prestam-se a refutar argumentos de fraudes, como agora, diante das acusações de Ciro Gomes e Garotinho, que desejam auditar os trabalhos do instituto. É uma forma de confundir e, ao mesmo tempo, cumprir o papel de veículo oficial das elites. O desencontro ocorre, neste momento, quando determinados e importantes setores do empresariado brasileiro correm a apoiar explicitamente o candidato do PT, Luís Inácio Lula da Silva. São anunciantes e isso complica um pouco um jogo. É preciso disfarçar. A face visível desse desencontro está, por exemplo, na pesquisa do "Data Folha", divulgada sábado à noite e que mostra crescimento de Lula, chegou aos 44%, que representam mais de 48% dos votos válidos, é um dado importante e mostram queda de 2% nos índices de Serra. Para desespero do "vampiro brasileiro" (como o notável jornalista José Simão chama o tucano - "quer sangue, mais sangue"), o candidato Anthony Garotinho chegou, conforme os números do "Data Folha" a 15% por cento, o que, numa pesquisa com margem de erro de 3%, significa empate técnico. O próprio Ciro, com 13%. Isso, na prática, significa o que qualquer eleitor sabe sem necessidade de toda essa armação do IBOPE e da "Globo": Lula lidera, pode ganhar no primeiro turno (difícil mas pode) e se houver segundo turno, qualquer um dos outros três dentre os principais candidatos pode ser o seu adversário. A fixação de Serra que vai ser ele decorre tanto do seu desatino, sua arrogância, como da outra parte do esquema, no tricô TSE (Tribunal Superior Eleitoral), "Globo" e IBOPE. O TSE sob a batuta do compadre de Serra, Nelson Jobim, entra no esquema tanto com as urnas eletrônicas (sem qualquer chance de conferência dos votos) e, num outro lado, garante ao candidato oficial o direito de falar o que bem entende em seu programa, tanto quanto censura os demais. Ou seja: transforma a Justiça Eleitoral, uma excrescência em qualquer país democrático de verdade, em comitê eleitoral. Essa parte do filme "Serra a qualquer custo" ficou um pouco prejudicada com as denúncias de Ciro Gomes e a repercussão internacional, até porque o partido daquele candidato enviou farta documentação a organismos internacionais pedindo observadores para as eleições no Brasil. Mas isso é mais ou menos como a mão direita do dr Strangelove, no filme de Kubrick: num dado momento a tal mão escapa e sai o grito de heil Hitler. O que está em curso nesta reta final da campanha é a operação destinada a primeiro garantir o segundo turno e em seguida, que Serra seja o adversário de Lula. A tarefa fica facilitada, pois não há necessidade de criar a situação de empate técnico entre o petista e o "vampiro". Só garantir que Lula não tenha mais de 50% dos votos válidos. Ou seja: a realidade perceptível nas ruas não é contrariada. Lula ganha o primeiro turno e os caras arrebentam no segundo. Essa advertência foi feita por Raimundo Faoro, ex presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), responsável por avanços fundamentais quando do governo Geisel (fim do Ato Institucional nº 5, volta do habeas corpus e o processo de anistia), figura que costuma-se chamar de reserva moral de um País, uma nação. Impoluta sob todos os aspectos. TSE, IBOPE e "Globo" são três comitês de Serra de decisiva importância na reta final. Faltam duas semanas para o primeiro turno. Vão tentar de tudo para impedir a vitória de Lula já no primeiro turno. Se há um desencontro entre as elites, está claro que alguns setores preferem Lula, até porque não sobrevivem no modelo atual, existe um outro aspecto que não pode ser ignorado. A campanha do petista está provocando o renascimento de esperanças que o brasileiro tinha perdido desde o início do governo FHC, o pior de todos os governos da história do Brasil: pilantragem e entreguismo do jeito mais deslavado que se possa imaginar. Há um quê no brasileiro, em cada brasileiro, que faz com que todos pressintamos um abismo sem volta se o presidente não for Lula. O velho discurso reacionário, arbitrário de que a vitória de um operário possa vir a significar um risco de ruptura no chamado processo democrático (farsa com FHC), volta-se contra Serra. Nota-se em cada rosto, em cada fala, em cada expressão, o que Sartre chamou de "esperança esperante" e a barra forçada ao limite do exagero pode desencadear um processo de reação popular sem precedentes na história. Até porque, timidamente, o brasileiro começa a descobrir que a reeleição de FHC, em 1998, foi uma fraude monumental. Ninguém tem maioria absoluta com menos de 1/3 do eleitorado. Só nas urnas eletrônicas de Jobim. As duas semanas que faltam serão decisivas. A lógica, levando em conta a total falta de escrúpulos do tucano e dos que o cercam, um desatinado acima de tudo, é que Serra seja o segundo. Se vão conseguir garantir o segundo turno é outra história. A propósito, não existe ninguém mais contraditório que Ciro Gomes. Ficou de quatro com as ataques de Serra. Falou um monte de besteiras do tipo "o papel da minha mulher é dormir comigo". Apresentou-se como candidato de centro esquerda. Criticou o mercado: "não vou ser escravo do mercado" e agora desanda a criticar o candidato do PT, numa clara manobra para ajudar Serra. Diz que é o contrário, mas só ele que acha isso. É um caso puro de sem vergonhice. Falta de brio. Canalhice da pior espécie. E nem podia ser de outra forma: veio do tucanato. Ou tucanalha como diz o povo. É a agonia, são os últimos estertores de um equivocado. Os comitês de Serra estão aí. Vai depender e muito da mobilização da sociedade organizada, do movimento popular, dos sindicatos, impedir que uma grande fraude frustre as esperanças da maioria dos brasileiros e leve o País a uma situação de desespero. Serra só é um bandido, nada mais. Representa os piores interesses que existem por aí. O azar do IBOPE foi a pesquisa "Data Folha", um dia depois. Um outro dado: a pesquisa IBOPE que fala em queda de Lula foi encomenda por setores da CNI ligados a Ermírio de Moraes. O falso nacionalista. Dono do maior grupo empresarial do Brasil, o Votorantim e senhor de trabalho escravo em muitas de suas empresas espalhadas pelo País afora. |
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