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La insignia
17 de setembro de 2002


Brasil

JK: Todo cuidado é pouco


Laerte Braga
La Insignia. Brasil, setembro de 2002.



A campanha de Lula, paradoxalmente, entra num momento delicado. A última pesquisa do IBOPE, feita para "Rede Globo", mostra que o candidato do PT atingiu a 42% das intenções de voto, contra 17% de José Serra e 13% de Ciro Gomes e Garotinho. Se os números são reais ou não é outra história. O fato principal é que nem um instituto semi oficial como o IBOPE, consegue evitar o que salta aos olhos dos cidadãos em todos os cantos: Lula sobe e os outros tubulam.

Jogar tudo numa vitória no primeiro turno? É arriscado. Lula não pode, neste momento da campanha, em que Serra vê-se envolvido em denúncias de corrupção, Ciro perde o rumo e Garotinho tenta viabilizar-se para um futuro que tomara não se concretize nunca, fazer uma aposta precipitada, do tipo tudo ou nada.

O processo de desintegração do "governo" FHC é real, visível a olho nu, não há como disfarçá-lo e o País indica que cansou-se do modelo neo liberal, corrupto e esse é um outro dado que reforça a perspectiva de vitória do petista.

O pânico das elites, com a notícia da nova pesquisa IBOPE, hoje a bolsa caiu, o dólar teve alta acentuada, é apenas a conseqüência do temor de virem a perder toda a sorte de privilégios acumulados ao longo de toda a história do Brasil. Não muda em nada a situação do trabalhador, da classe média, do camponês.

A "Globo" não divulgou a pesquisa. Preferiu mostrar que Geraldo Alckimin, governador tucano de São Paulo, ultrapassou Paulo Maluf e vence o candidato no segundo turno. Ficou registrado o crescimento da candidatura do petista José Genoíno e não será surpresa se o segundo turno for entre ele e Alckimin. Ou a pesquisa em que o petista Wellington Dias vence o liberal Hugo Napoleão, no Piauí.

Repete o procedimento de 1989, quando escondeu a pesquisa que revelava que Lula havia ultrapassado Collor de Mello e abriu espaço para toda a sorte de baixarias arquitetadas e divulgadas pela próprio rede, que resultaram na vitória do maluco bandido de Alagoas.

É essa soma de fatos que faz com que Lula veja-se na contingência de seguir à risca o velho ditado de que "todo cuidado é pouco". Está lidando com bandidos da pior espécie e que até o último momento tentarão tudo o que for possível para evitar sua vitória.

É como se fosse uma luta de box em que determinado lutador vai acumulando pontos e num determinado momento pode até tentar o nocaute, mas nunca de forma irresponsável que possa expô-lo a um contragolpe que coloque tudo a perder. O que Lula tem que fazer, nesses últimos rounds é administrar uma vitória que parece inexorável, seja no primeiro ou no segundo turno.

A própria divulgação do propósito do procurador Luís Francisco de ingressar em Juízo com ação contra diretores do Banco do Brasil, dentre eles, um dos principais tesoureiros de José Serra e dos tucanos de um modo geral, figura de proa no processo de privatização da Cia. Vale do Rio Doce e nas empresas do setor de telefonia, soa estranha. Não é característica da rede divulgar um fato contrário aos interesses que representa com tanta riqueza de detalhes, do ponto de vista de um jornal televisivo.

Foi um golpe na candidatura Serra. O tucano começa a provar de seu próprio veneno. Se desandou algum esquema, tudo é possível, vamos saber mais tarde, como sempre. O próprio FHC chegou a ligar para redações de jornais e redes de tevê pedindo que a matéria não fosse divulgada. Mas foi.

E nem a caracterização do procurador como alguém que até seu ingresso no Ministério Público, era filiado ao Partido dos Trabalhadores, atenua o impacto do que qualquer um sabe: Serra foi e é partícipe do "governo" mais corrupto dentre todos de nossa história. A reação do candidato, irada, demonstrando o grau de transtorno com o fato, por si só, mostra também o quanto sabe que sua candidatura está abalada.

Há qualquer coisa que não está batendo no noticiário dos principais meios de comunicações do Brasil, todos comprometidos até a medula com o esquema FHC. É por aí que Lula precisa de toda a cautela possível. Os caras não mudaram e talvez estejam apenas esperando sinal verde do juiz, o juiz é deles, para começarem com os golpes baixos.

De qualquer forma alguns acontecimentos recentes foram e continuam a ser decisivos para que a arrancada de Serra terminasse, como parece estar terminando de forma melancólica para o candidato e os tucanos. O primeiro deles o próprio Serra. Sua proposta de 8 milhões de empregos com carteira assinada soou como mentira deslavada. Seus vínculos com FHC e suas tentativas de negá-los, ou guardá-los num limbo qualquer, despertaram no eleitor a convicção que tudo não passava de um jogo de cena, do tipo lobo mau, boca grande para engolir a vovó.

O envolvimento do candidato em negócios escusos era algo que existia na cabeça de cada brasileiro, precisava apenas vir a público com a força da documentação do procurador Luís Francisco.

Serra usou a política de terra arrasada para liquidar Ciro Gomes e agora não tem como voltar. Daqui para a frente vai ser só baixaria. É típico dele, um tresloucado que não admite que alguém possa ser melhor que ele. Discípulo de FHC em todos os sentidos, até no acreditar-se divindade, bênção lançada ao povo.

Esse estupor de Serra, sua incompreensão, de como o povo pode rejeitá-lo, logo ele, um intelectual de primeira linha. O caráter provinciano da candidatura Ciro e as trapalhadas de Garotinho, que acabam rendendo-lhe susceptíveis de sua demagogia populista e a forma organizada, consciente e tranqüila com que Lula vem se postando, mostrando-se ao eleitor, acabam por estabelecer uma certeza para o eleitor: três candidatos têm compromissos com interesses das elites. Um candidato tem compromissos com o Brasil.

Se esses compromissos, os propostos, são passíveis de discussão, é outra conversa. O fato é que existem e a vitória de Lula significa a perspectiva real e clara de retomarmos o destino do Brasil em nossas mãos.

O que bolsa de valores e especulação com dólar representam, neste momento, são apenas tentativa das elites de tumultuar o processo, criar a sensação que tudo vai ruir, quando, na verdade, ruem apenas interesses e privilégios de notórios bandidos, de políticos corruptos que percebem que escapa por entre os dedos o controle do Estado brasileiro, privatizado em função de seus interesses, dos interesses daqueles que lhes pagam, o capital internacional.

O processo eleitoral no Brasil começa a afunilar-se. Fica claro que as dificuldades do oficialismo são muitas e grandes. FHC trata de negociar a aposentadoria do ministro Ilmar Galvão no STF (Supremo Tribunal Federal), para poder indicar um quarto ministro, Geraldo Brindeiro (um acinte, o cara é corrupto até a medula) e assegurar sua impunidade caso todo o processo fraudulento que caracterizou seu "governo" venha a público e desmontem sua pose de estadista, prejudicando seus "negócios" na ONU. É um sinal que não há certeza alguma, mas só temores.

O risco que Lula corre é esse. O de que os caras estejam criando situações aparentemente positivas, para, logo em seguida, em cima da hora, despejarem a costumeira chuva de mentiras e calúnias e levarem a eleição para o tal empate técnico. É só o que precisam. A urna eletrônica faz o resto. Faltam só 20 dias, mas são o bastante para quadrilheiros experientes como os que controlam o Estado brasileiro. Ate porque não têm compromisso com nada.

Jogar tudo no primeiro turno é correr o risco de chegar debilitado no segundo turno, montado na impressão (que procuram criar) que Lula sempre ameaça ganhar, mas, acaba perdendo.

A hora, agora, é de vitória. As circunstâncias, a conjuntura, são outras O perigo corre por conta das tais elites. Via de regra essas caras não têm mãe. São filhos da grande chocadeira de Wall Street.



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