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17 de setembro de 2002 |
JK: Planejamento e democracia
Luiz Inácio Lula da Silva
Recebi com orgulho e alegria a Medalha Juscelino Kubitschek das mãos do governador de Minas Gerais, Itamar Franco, nesta última quinta-feira, data comemorativa do centenário do nascimento de JK. O evento foi realizado em Diamantina, cidade natal do grande presidente mineiro, na praça que leva o seu nome.
Fiquei sensibilizado com a multidão, carente de esperança, que ocupou todo o espaço da cerimônia. Juscelino Kubitschek (1902-1976) foi o último presidente da República que exerceu o cargo com otimismo. Ele deixou na memória popular um gosto de anos dourados, até hoje lembrados com um misto de nostalgia e de perda. Juscelino iniciou o governo em 1956/57 e passou o cargo em 1961. Mais que a faixa, entregou um outro país: construiu uma nova capital em três anos e meio. Recusou-se a aceitar a tutela do FMI (Fundo Monetário Internacional), que queria engessar seu Orçamento e interromper a construção de Brasília. Abriu 20 mil quilômetros de rodovias, 3 mil de ferrovias. Aumentou em 15 vezes a produção de petróleo. Elevou em 80% a produção industrial. Presidente com fama de pé de valsa e seresteiro, JK enfrentou oposição tanto à direita como à esquerda. Uns, porque desconfiavam que fosse um continuador do varguismo e avesso à ortodoxia monetária e fiscal - que ele sabia subordinar aos sonhos, não o inverso. Outros, por suspeitarem de sua política de abertura ao capital estrangeiro. Descrito por Nelson Rodrigues como "o presidente que devolveu a gargalhada à política", Juscelino enfrentou críticas e levantes militares com diálogo, mas não afrontou a Constituição. Hoje, seguramente, seria visto como um marciano, pelo discurso sisudo e sombrio da lógica financeira, para a qual o único futuro que interessa é o que não altera o presente. JK, ao contrário, convenceu o Brasil de que tudo estava por fazer. E que era possível tornar o amanhã algo mais que uma repetição do hoje. Por isso seu nome confunde-se com a palavra esperança e assim ficou gravado na memória popular. Aquele menino pobre que saiu de Diamantina para se tornar o principal político brasileiro teve como maior feito, na minha opinião, devolver a auto-estima ao país. Mais que isso, devolveu o sonho de que era possível crescer. JK fez de seu governo um gerador de esperança. Ao final de seu mandato, a produção brasileira de aço tinha aumentado 100%. A indústria metal-mecânica crescera 380%. O PIB crescera em média 7% ao ano. E o que é mais notável, a renda per capita brasileira crescera três vezes mais que a média de todos os países da América Latina. Mas o que melhor explica a capacidade empreendedora de JK foi o fato de ele ter inaugurado o planejamento público no Brasil. Ele acreditava no que fazia. E planejava o longo prazo com base nesse otimismo. Falta planejamento hoje ao Brasil. JK demonstrou que planejamento não é incompatível com democracia. Ao contrário, ele fez o Brasil crescer com alegria e com diálogo, incentivando o povo a participar da administração pública. Se o governo atual tivesse seguido o exemplo de JK, o Brasil não teria sido surpreendido pelo apagão - e a abertura irresponsável de nossa economia não teria quebrado vários setores. Os jovens de hoje, que enfrentam as adversidades decorrentes da crise econômica, devem se inspirar em Juscelino para não esmorecer e não perder a fé no futuro. Parabéns a Diamantina, parabéns a Minas Gerais, parabéns ao Brasil por ter produzido um homem da qualidade política e ética de JK. |
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