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15 de setembro de 2002 |
Idas e vindas das eleições no Brasil
Laerte Braga
Fernando Henrique não pode discordar das posições de Bush. Não tem
como. Corre o risco de ficar sem ração. Está apavorado com as
conseqüências de uma guerra que sequer começou ainda: o preço do
petróleo.
Em dias da semana passada o capataz designado para o Brasil chamou o presidente da Petrobrás e pediu que não houvesse aumento de preços dos combustíveis antes das eleições para não atrapalhar o crescimento de José Serra. Será preferível dar uma paulada nos consumidores depois das eleições. Não contava com a loucura de Bush, seu superior. Não tem como evitar a alta. Talvez não tenha como segurar os preços até outubro. Ciro Gomes reage a Serra. Reação tardia mas quem sabe? A promessa do tucano de criar oito milhões de empregos começa a virar seu calcanhar de Aquiles, mesmo quando usa toda a parafernália tecnológica de efeitos especiais, em seu programa de tevê, para tentar convencer o eleitor. Há um quê de filme já visto. A mão estendida de FHC, na campanha de 1994, quando cada um dos dedos significavam entre outras coisas, emprego. São doze milhões de desempregos criados ao longo dos oito anos. Está acontecendo alguma coisa com a "Globo" e o "Jornal Oficial". A edição de sábado do jornal que chamam de "Nacional", mostrou os efeitos devastadores da globalização na agricultura. Tecnologia de ponta gerando desemprego e aumentando a concentração de renda e de terras. Foi mais além: mostrou que um trabalhador no estado do Maranhão executando a mesma função e com a mesma qualificação de outro trabalhador em São Paulo, ganha cerca de 30% menos que o paulista. Só pode ser alguma armadilha. Ou... Ao contrário da opinião pública a rede conhece os dados reais das pesquisas que monitoram as eleições no Brasil. Pode estar percebendo, sabendo mesmo, que as coisas não são como apresenta em seu "Jornal da Mentira". Pode estar adequando-se para continuar crescendo com dinheiro público, como sempre fez. A campanha no Brasil continua sem deixar claro quem será o adversário de Lula no segundo turno. Serra não está tão convicto disso e continua jogando pesado. Mas não corre sozinho. Há uma onda "Garotinho" que raspa alguns votos nas chamadas periferias e pode complicar a vida do tucano. Cada vez mais o tucano depende das urnas eletrônicas e da fraude óbvia no processo. Além das urnas de Brasília, neste final de semana foram feitas novas apreensões de urnas, desta vez na Bahia. O mais curioso de todas as urnas apreendidas é que só contêm votos para Serra. Jobim não tem nada a ver com isso. Deve ser coincidência. Como coincidência o fato de ser compadre de Serra e ter dividido apartamento com o senador em Brasília. O que assusta o comando petista é a perspectiva que, sendo Serra o adversário no segundo turno, todo o estilo "Fernandinho Beira Mar" seja derramado sobre Lula. Os caras não têm tido contemplação com ninguém. Eliminam quem se opõe aos propósitos da quadrilha. Os jornais noticiam que num dos armários do comitê central do candidato tucano, onde são gravados os programas de tevê, estão sendo montados dossiês para o segundo turno. Lula foi ovacionado por militares e parte da esquerda não gostou. Besteira. Não há revolução sem a participação das forças armadas. Se Lula fizer só o que disse aos generais já terá feito muito. Rever o acordo militar que cede a base de lançamentos de Alcântara. Reativar a indústria bélica no Brasil e dotar as forças armadas de capacidade operacional para garantir soberania e integridade territorial. É cada vez maior o número de militares que percebe a necessidade de mudanças estruturais no País, mais que simples reformas. Mudança de modelo econômico. Num determinado momento de nossa história, à época do golpe de 64, cerca de 2 500 oficiais e sargentos foram afastados das três armas. Eram de esquerda. Isso não significa que não existam as vivandeiras de 64, como Jarbas Passarinho. O marechal Teixeira Lott, um dos militares mais íntegros de nossa história, dizia que "o major Passarinho é um homem destituído de qualquer princípio. É indigno de usar a farda". O marqueteiro Duda Mendonça, artífice do "Lula paz e amor", segundo Ciro Gomes, está preocupado com a onda de vencer no primeiro turno. Teme que isso não aconteça, aliás, acha essa hipótese muito remota e jogar tudo numa vitória assim poderia debilitar o candidato no segundo turno. A foto mais curiosa já publicada na imprensa nos últimos tempos, tempos de campanha, foi a de Aécio Neves, neto de Tancredo (vive politicamente só por isso e mais nada) e candidato ao governo de Minas, ao lado de Lula, no centenário do nascimento de JK. É que Itamar apoia Lula e Aécio por conta de suas febres. O governador e ex presidente presidiu as solenidades comemorativas na terra natal do ex presidente, Diamantina, em Minas. Carlos Heitor Cony, um dos mais notáveis escritores contemporâneos do Brasil, há cerca de duas semanas, quando José Serra e FHC pretenderam comparar-se a Juscelino, escreveu uma crônica memorável dizendo que ambos são o oposto de JK. Os caras não medem esforços na mentira e na cretinice. Cony era amigo do ex presidente e conviveu com ele, quase que diariamente, nos seus últimos anos. Sabe das coisas. O olho de Serra está cada dia mais arregalado. O candidato tucano parece ter tomado o tal de "red bull", que segundo uma campanha publicitária "dá asas". Qualquer dia sai voando e não volta mais. Seria ótimo. A última pesquisa do Instituto Vox Populi coloca o tucano em segundo lugar, mas registra empate técnico entre ele e Ciro. Especialistas de vários matizes e grupos entendem que não há definição de quem vai disputar o segundo turno com Lula. Segundo afirmam o que, neste momento, tem maiores chances é Serra, mas cresce lentamente e não consegue consolidar o segundo lugar. Só no IBOPE e na "Globo". Fora isso só uma novidade alvissareira: Tarso Genro livra vantagem de um ponto sobre o bandido Antônio Brito, fac totum da "Globo", no Rio Grande do Sul. Um ponto e meio para ser preciso. É empate técnico, mas há duas semanas estava cinco pontos atrás. Nem os institutos "oficiais" ou a sórdida imprensa gaúcha conseguem esconder a queda de Brito. Ainda assim é uma eleição indefinida. Por fim, Serra está divulgando comunicado que monta-se uma grande campanha contra ele. Sabe que descobriram mutreta da grossa e teme que vindo à tona mostre que canalha nessa história toda é ele. Começa a defender-se antes de ser acusado. É uma tática velha, surrada. Tudo indica que mentira transformada em verdade oficial começa a desmoronar. A proporção que as eleições vão ficando mais próximas os espertos de sempre, meios de comunicação, institutos de pesquisas, políticos de partidos como o PFL, o PMDB, o PPB, começam a pular fora dos barcos que ameaçam naufragar e correm para as imediações dos barcos que podem chegar a um porto seguro. Era esperado, é esperado em todas as eleições e são o sinal mais preciso de quem vai e quem fica. Como a coisa está embaralhada, alguns estão com um pé em reduto de Serra e outro, no de Ciro. E há quem esteja com os pés no ar, esperando para correr para Lula. Um retrato da campanha eleitoral no Brasil. |
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