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11 de setembro de 2002 |
«O botão de desligar»
Laerte Braga
William Bonner, editor chefe do "Jornal Oficial", dito "Nacional",
apresentado pela "Globo" diariamente no horário das 20 horas, explicou em
entrevista a um programa de variedades da própria rede, como é feito o
principal instrumento da informação deformada e com propósitos certos. O
principal objetivo agora é andar pari e passo com a campanha de José Serra e
preparar a grande impostura da "democracia" de FHC para eleger seu sucessor.
É de impressionar a mediocridade do tal "editor chefe". Assentado como se o mundo estivesse na expectativa de sua opinião, do relato de seu trabalho, começou dizendo que tem que chegar às 10 horas da manhã para começar a preparação do jornal. Uma equipe que, ao todo, mobiliza cerca de 200 pessoas. O noticiário internacional é chupado da "CNN". A cobertura do 11 de novembro foi feita toda ao "vivo", com retransmissão das imagens da rede norte-americana. O máximo que se permitiram foi ouvir alguns especialistas, mesmo assim escolhidos a dedo, para não fugirem muito à linha da emissora. Ou seja: total submissão aos interesses dos Estados Unidos. Esse noticiário, um bloco, via de regra, toma no máximo 10 minutos do jornal que dura de 30 a 45 minutos (neste período dura 30 minutos, por força do chamado horário eleitoral). Restam então de 20 a 35 minutos, com alguns intervalos comerciais. Pautado, rigorosamente, no modelo de tele jornalismo das principais redes de televisão do Tio Sam (são colonizados), mostra, ainda, a previsão do tempo, algo em torno de 2 minutos e as chamadas matérias pagas. Aquelas que chegam disfarçadas de notícias. Via de regra são sobre novos medicamentos capazes de curarem tudo, ou máquinas revolucionárias para diagnosticar doenças inimagináveis e indicativas de um mundo melhor. Mais 2 ou 3 minutos. Uma das formas de manter a opinião pública sensibilizada com o drama do brasileiro, é pinçar algum anônimo que esteja numa situação de abandono, abrindo espaço para que, na edição seguinte, o problema venha a ser solucionado, com destaque, ou por alguma empresa privada, ou por algum órgão do "governo". Esse anônimo, em boa parte das edições, é alguém de alguma cidade, ou algum estado onde o prefeito ou o governador seja oposição ao que a rede representa e defende. Restam aí, nesses tempos de 30 minutos, 15minutos para o noticiário nacional, nos tempos de 45 minutos, 25 minutos. A exibição do editor chefe sobre a trabalheira que isso acarreta para ele, sua equipe, toda aquela parafernália, isso na tal entrevista, cujo objetivo em tempos que começam a surgir críticas ao jornal, com pose de sumidade, porta voz da verdade absoluta, é uma eloqüente demonstração de como a mediocridade tomou conta da tevê e pauta a vida da grande maioria dos cidadãos. A audiência média do "Jornal Oficial", dito "Nacional", é de 37, 38 pontos percentuais. Boris Casay, sozinho e sem essa embrulhação toda tem 7 a 9% no "Jornal da Record". O noticiário nacional é uma espécie de jardim alcatifado de flores, como nos velhos tempos de Olavo Bilac, onde tudo é maravilha, até os problemas enfrentados pelo brasileiro. Nesse tempo de eleição a rede gasta um a 2 minutos com cada candidato, a respectiva campanha, obedecendo o critério de igualdade de tempo para todos. O pulo do gato começa no que Bonner chama de "notícias principais", "primeira página", "páginas interiores". Por exemplo: quando o candidato Ciro Gomes chamou um eleitor de "burro" numa entrevista numa rádio, ao que parece na Bahia, Serra usou o fato à larga mas não diretamente. O PMDB, uma das quadrilhas que o apoiam e, geralmente encarregada do serviço sujo, usou seu tempo eleitoral para fustigar Ciro. O "Jornal Nacional" transformou o fato em notícia, o que realmente foi mas, foi editado e apresentado logo após a fala de Ciro esclarecendo-o (pouco importa se com razão ou sem) e criticando José Serra. Tal e qual aconteceu quando da frustrada tentativa de derrubar o presidente da Venezuela, Hugo Chavez, quando o tal jornal ao dar a notícia advertiu os eleitores para "presidentes que não conseguem cumprir promessas de campanha", o noticiário nacional do "Jornal Oficial", cobre todos os atos de governo. Toda a movimentação dos dois principais funcionários norte-americanos no Brasil, Pedro Malan e Armínio Fraga e, nestes tempos, tem apresentado séries de reportagens sobre os principais problemas do Brasil. Tudo bem, até aí. Só que quando o jornal fala em saúde, trata do assunto, o candidato José Serra, em sua propaganda eleitoral em rede nacional também trata do mesmo assunto. Quando o tema é educação, a mesma coisa. E assim por diante. Se alguém se der ao trabalho de prestar atenção no conteúdo das tais reportagens estafantes para o editor chefe e olhar o que Serra fala vai perceber que não há coincidência. O que há é repetição. Um e outro falam a mesma coisa. A televisão brasileira, antes do vídeo tape, teve vida inteligente. No próprio jornalismo. "Jornal de Vanguarda", apresentado pela extinta rede Excelsior, com jornalistas do porte de Luís Jatobá, Vilasboas Corrêa, Sérgio Porto, Nelson Rodrigues, o próprio Gláuber Rocha andou por lá uns tempos, isso em plena ditadura militar (foi a razão pela qual acabou), sem um décimo dos recursos técnicos que a "Globo" dispõe e com editor chefe, muitas vezes, chegando duas horas antes para dar uma repassada nos fatos. Jornal de notícias, opinião, sem qualquer censura ou sem pretender senão informar de maneira decente, eu fico pensando o que significa ser editor chefe do "Jornal Oficial"? É a mediocridade da televisão. O cara confunde notícia com efeitos especiais. Com serviços a quem paga. Bonner, nos tempos em que no jornalismo brasileiro pontificavam jornalistas na acepção da palavra e não robôs produzidos em série pela "Globo", teria sérias dificuldades em conversar com qualquer um dos que citei acima. E nenhum dos grandes jornalistas da televisão brasileira, ficou muito tempo na área, são poucos os que ainda resistem. O cara precisa maquiar-se para dar entrevista e explicar como é feito um jornal. A própria matéria um efeito especial sobre a mentira sofisticada e travestida em verdade oficial. A "Globo" sempre teve sérias pretensões a "grande irmão" e Bonner, a locutor oficial. A morte de Paulo Francis e a saída de Lilian Witte Fibe da rede sepultaram vestígios de vida inteligente por ali. Continua valendo a frase de Sérgio Porto: " o melhor da televisão é o botão de desligar". Da "Globo", então, nem se fala. A propósito: no 11 de setembro, o noticiário da "Globo" na tevê a cabo, foi, em vários horários, apresentado por um aprendiz de Bonner com a gravata com as cores dos Estados Unidos. |
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