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9 de setembro de 2002 |
O cunhado bonzinho e o cunhado canalha
Laerte Braga
O Ministério Público leva à frente 182 investigações sobre
empresas que criaram um “cartel antitrabalhador”. Buscam, no endereço do
TST (Tribunal Superior do Trabalho) e nos TRTs (tribunais regionais) os
nomes de trabalhadores que reclamam naquela justiça especializada direitos
não cumpridos pelos empresários. Formam a lista daqueles que não
devem ser empregados de forma alguma.
É impossível um mundo justo, solidário e livre com empresa privada. É só dar uma olhada em qualquer país latino-americano. Fomos todos privatizados nesses últimos anos. São os mais altos índices de desemprego, subemprego, pessoas vivendo abaixo da linha da miséria, exclusão em todos os sentidos, coisificação do ser. Estamos sendo transformados em objetos, meros adoradores da divindade mercado. Quando o poeta irlandês Irvin S. Cobb disse que o “homem foi feito à imagem e semelhança de Deus, mas às vezes se esquece que é apenas imagem e semelhança”, com toda certeza anteviu deuses de pés de barro, mas nem por isso menos perigosos ou cruéis que Bush, Sharon, ou figuras menores que se acham tais como FHC, Serra, coisas assim. Eu tenho certeza que Muhamad Ali não imaginava que Joe Frazier fosse lutar da forma que lutou, em 1971, o célebre combate do Madison Square Garden, quando o maior de todos foi derrotado. Ali havia visto, dias antes, Angelo Dundee seu técnico chamara sua atenção para isso, que Frazier lutaria como Rocky Marciano, sem dar tréguas, batendo o tempo todo. Frazier foi um campeão intermediário, ou seja: nem entre os melhores, nem dos piores, nada além disso. Foi o que Ali pensou. Uma semana antes da luta um computador daqueles pesadões e fascinantes, à época, misturou e pesou os dados de Ali e Marciano e concluiu que Marciano venceria. Bobagem que Frazier levou a sério. Ao curso da luta o ator Burt Lancaster, que comentava e embate para a rede norte-americana “ABC”, disse que Frazier parecia “um tanque Sherman. Não pára nunca”. E o fez com transparente felicidade. Ali era negro e Frazier, branco de pele negra. Foi por isso que Duke Ellington (músico notável) foi tocar na festa de Frazier e Countie Basie desfiou a tristeza da batalha perdida por Ali. O campeão, o eterno, derrotou Frazier nas duas outras vezes em que lutaram. Ciro Gomes não é Ali e portanto não foi capaz de reagir a todas as baixarias de Serra. Esse silêncio, ou a reação tardia custou-lhe caro e talvez venha a custar a chance de ir para o segundo turno. Foi pego de surpresa e ficou atordoado. Custou a correr atrás de profissionais como Bornhausen ou ACM. Ou mesmo Brizola. A luta agora está equilibrada. E a bem da verdade Frazier não deu golpes baixos. Serra não. Transformou o encontro em vale tudo. José Serra lembra o cunhado bonzinho, coitadinho, que estava presente em muitas histórias do extraordinário Nelson Rodrigues. O cara trabalhava certinho, chegava em casa à hora certa, ajudava a mulher, essas coisas de todo bonzinho. Em contrapartida o Quintanilha, era esse um dos nomes que o jornalista e teatrólogo costumava usar, enchia a cara, jurava amor eterno à mulher enquanto beliscava a bunda da mulher do cunhado bonzinho e piscava o olho matreiro (matreiro aqui é essencial), no momento que entregava um queijo minas para a sogra. Quem chegasse ao fim da história iria perceber quão santa era a canalhice do Quintanilha, quão podre a bondade medíocre do cunhado bonzinho. Cunhado bonzinho foi feito para emprestar dinheiro, levar chifre e nada mais. A mulher do cunhado bonzinho, pia, imaculada, refestelava-se nas canalhices benditas do Quintanilha e isso salvava o sagrado matrimônio. Serra, quando secretário de Governo de Franco Montoro, em São Paulo (1983/87), baixou portaria determinando que as aparas de papel fossem reaproveitadas como rascunho para evitar desperdício. Nada demais, pelo contrário. Demais era sair dando batidas para saber se a portaria estava sendo cumprida em todas as instâncias de governo. O cara é desses que compra um rolo de papel higiênico, chega em casa abre e mede, metro a metro, para saber se tem de fato os 40 metros anunciados na embalagem. Depois passa o dia inteiro enrolando com zelosa paciência para deixar como intacto. E pior: consegue enrolar em uma dobra. Aí dá a missão por cumprida. Um porre de mediocridade com aparência de brilho. Falso. Pedra colorida nada além disso. Vidro fajuto, quebra e esfarela sem resistência alguma. Qualquer candidato, exceto o Serra lógico, o cunhado bonzinho, pode falar o que quiser, desde que não fale mal do governo (onde?) de FHC. Se isso acontecer o cara que brinca de isenção e preside o Tribunal Superior Eleitoral, Nelson Jobim, tasca uma liminar, ou o que seja, para garantir a “lei”. A história das urnas eletrônicas está parecendo filme de pastelão, não fosse um fato grave, um crime contra a democracia. As tais urnas apreendidas em Brasília, já com votos para Serra e o candidato a governador, Joaquim Roriz (um dos maiores corruptos do País), estão à frente das urnas do TSE em termos de tecnologia. São modelos semelhantes aos que o TSE não quis, pois permitiam recontagem, garantia do voto. Quer dizer: garantir só o voto do Serra. Pode alguém estranhar por que cunhado bonzinho, se o cara além de medíocre só conseguia passar em portas com mais de 2 metros e mesmo assim abaixando a galharia. Uma forma de piedade, tanto quanto de execrar o panaca. Mostrá-lo por inteiro. O cunhado bonzinho é daquele tipo de matava mosquito arrancando as asas e continua a fazê-lo, mas escondido. É o próprio Serra. O grupo Meryl Lynch fala que o próximo presidente vai assumir num clima de “stress econômico”. As pesquisas feitas sofregamente por várias entidades empresariais para saber com quem contribuir na reta final mostram que Ciro cai mais um pouco, mas Serra sobe lentamente. Deve estar enrolando o rolo de papel higiênico. |
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