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5 de setembro de 2002 |
Multidão aplaude Lula na Universidade de Brasília
Júnia Lara
Atento, o estudante de ciências contábeis Rafael Alcântara, 20 anos, suportou com mais de cinco mil pessoas um calor de 40 graus no Centro Comunitário da Universidade de Brasília para ouvir na manhã de ontem o candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, traçar as linhas gerais de sua proposta de governo. Ao final, o estudante avaliou o encontro.
"O discurso do Lula foi mais voltado para as políticas sociais, que é o que o Brasil mais necessita atualmente. O do Ciro, a que eu também assisti, ficou no economês, com termos técnicos demais. E no mais, foi uma festa, nunca vi tanta gente reunida na Universidade", afirmou. Várias vezes Lula teve o seu discurso interrompido por aplausos da platéia, em especial quando o candidato disse que o seu programa para o setor baseava-se no princípio de que educação não deve ser pensada como custo, mas como investimento. "Um mesmo governo que tem dinheiro para financiar a vinda de uma multinacional para o Brasil, tem de ter coragem para garantir crédito educativo a quem não pode ou não consegue entrar numa universidade pública. Este país só vai ser dono do seu nariz quando investir em pesquisa e tecnologia", disse Lula. Para Lula, não é possível que a universidade pública seja cada vez mais um nicho de privilégio para pouca gente. "É preciso sentar em uma mesa com reitores, estudantes, professores e governo para tomar uma decisão de ampliar as vagas nas universidades públicas", afirmou. "Se a gente não oferecer a esta juventude oportunidades de trabalho, de estudo, de ter acesso ao esporte e à cultura, estamos entregando de graça esse jovem para o narcotráfico e para o crime organizado. É preciso ter consciência de que os reais que deixarmos de investir na educação, vamos ter que investir na construção de cadeias e Febens", finalizou. "Menos boca e mais ouvido" No encontro ocorrido ontem com estudantes, professores e reitores na UnB, Luiz Inácio Lula da Silva foi taxativo ao explicar como pretende governar: "Para executar nosso programa, teremos que fazer algumas reformas. De forma diferente do que acontece hoje, os nossos ministros vão ter que aprender que muitas vezes é preciso mais ouvir do que falar. Em determinado momento as pessoas no governo deverão ter menos boca e mais ouvido para permitir que a sociedade brasileira diga como quer as reformas, a começar pela tão sonhada reforma tributária". Lula disse que, apesar de tão defendida, a reforma tributária não é realizada porque cada segmento da sociedade tem uma proposta na cabeça. "Se eleito, no primeiro semestre do próximo ano vamos envolver a sociedade brasileira na elaboração de uma proposta tributária baseada no fato de que política tributária é uma forma de fazer justiça social. Isso significa que quem ganha mais vai ter que pagar mais, para fazermos políticas públicas para quem ganha menos", ressaltou. O candidato citou também a reforma sindical. "Os sindicalistas que se preparem, porque vai acabar aquela história de ficar de fora apenas criticando o governo. Eu vou juntar os sindicalistas e dizer: meus caros, não é só reivindicar, é ajudar a fazer e construir o Brasil que nós precisamos, sem abrir mão de suas reivindicações", salientou. Paz e amor Lula arrancou risos da platéia ao falar sobre a reforma agrária. "Eu estava no Rio de Janeiro, em um comício e fui falar de reforma agrária. Eu estava tão eloqüente, eu falei tão alto, gritei demais. Quando saí do palanque, uma senhora de cabelos brancos se aproximou de mim e disse: ô Lula, não dá para você falar a mesma coisa, mas baixinho, porque eu iria entender do mesmo jeito, eu não iria ficar com medo de você, porque se colocarem você na televisão gritando do jeito que você gritou, quem tiver um terreno de 25 metros quadrados já pensa que você vai tomar. E como disse outro dia que estou na fase de Lula Paz e Amor, eu tenho dito aos companheiros do MST que vou fazer a reforma agrária sem ter uma ocupação de terra e nenhuma violência contra os trabalhadores brasileiros", garantiu. Quanto à previdência, Lula defendeu a criação de um sistema universal de previdência de aposentadoria única do setor público e privado, com respeito aos direitos adquiridos, que seria elaborado em comum acordo com a sociedade. Sobre a reforma política, disse: "É bobagem imaginar que este país vai ter a sua democracia consolidada se não tiver partido político forte. As pessoas não podem trocar de partido como quem troca de camiseta, se a gente quiser moralizar a política desse país, é preciso ter financiamento público e proibir dinheiro da iniciativa privada para campanha eleitoral". Na saída do debate, o estudante de filosofia e relações internacionais José Romero, 28 anos, resumiu o sentimento da platéia que entoava o jingle de campanha do candidato: "Confirmei meu voto. O Lula está cada vez mais eloqüente, mostra-se cada vez mais preparado, tratou de todas as questões importantes para a sociedade de forma brilhante. Espero que o povo brasileiro acredite nessa possibilidade de mudança". |
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