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La insignia
4 de setembro de 2002


Brasil

Eleições sem lei


Laerte Braga
La Insignia. Brasil, setembro de 2002.



Aquela conversa que mentira não pega, acaba sendo descoberta, soa como afirmação reacionária, típica das elites que, há muito, perceberam que a mentira é o melhor instrumento de dominação sobretudo em períodos eleitorais.

O debate entre os candidatos, os quatro principais, na televisão, o segundo debate, mostra isso com clareza. Não deixa nenhuma dúvida sobre quem é destemperado, quem mente, quem corre à margem do processo democrático, montado no processo da farsa: José Serra, candidato dos banqueiros, das corporações multinacionais, de Washington, apoiado pelo desgoverno FHC. O que de fato acontece é que "a mentira repetida várias vezes vira verdade". Serra é a prova disso.

O aparato montado pelos principais controladores do Brasil, a partir inclusive da afirmação de George Soros, que eleitor não conta, conta a vontade deles, os donos, entrou em fase decisiva desde a semana passada, quando as pesquisas IBOPE e Vox Populi despejaram os números da "reação" de Serra.

De lá para cá tem corrido solto, sem qualquer restrição, com total e absoluta infringência da lei eleitoral, desapreço e desrespeito pela verdade, pelo Brasil e pelos brasileiros.

Mentiroso, cínico, o candidato disse ontem que em 2003 vai aumentar a verba para a saúde por conta de suas ações quando era ministro, bem como de todo o conjunto de projetos sociais do "governo".

O jornal "Folha de São Paulo", na manchete de primeira página, edição de 3 de setembro, afirma o seguinte: "Projeto corta gastos da área social do próximo governo". E em sub título: Ao contrário do anunciado, setores como educação e saúde são atingidos".

O fato já havia sido, mais ou menos, denunciado pelo candidato Anthony Garotinho, no mesmo debate, ao dizer que FHC reservara, no orçamento do próximo ano, 11 reais de aumento para o salário mínimo, quase 4 dólares, num salário de 60 dólares e mais de 70 bilhões para pagamento dos chamados serviços e principal das dívidas públicas (interna e externa).

O debate promovido pela televisão Record, ligada à Igreja do Evangelho Quadrangular, do bispo Edir Macedo, dirigido e apresentado pelo jornalista Borys Casoy, com imparcialidade diga-se de passagem, mostrou um Serra comportando-se como presidente, como superior de todos os demais, como alguém que sabe tudo em meio a quem não sabe nada, sem preocupação com respeito a nada ou ninguém (nem sabe o que é isso, é um alucinado), a um ponto tal que o próprio apresentador chegou a irritar-se com suas interferências, tanto quanto Lula e Garotinho, o próprio Ciro, pela forma agressiva, brutal e mentirosa com que o candidato de Washington comportava-se.

Impressiona-me a facilidade com que os candidatos, todos, entram no jogo desvairado e solerte de Serra: o jogo dos números, dos dados. O candidato apresenta como oficial os dados que quiser. Do jeito que quiser. Integra a principal quadrilha que tomou de assalto o Estado brasileiro. São bandidos treinados, capazes, sem qualquer escrúpulo.

Basta que alguém cite um dado, um dado qualquer não importa, que Serra tem os números "oficiais" na ponta da língua.

Falta de memória. Há cerca de dois meses, ou mais um pouco, foram revelados os dados da reforma agrária no Brasil, segundo o Ministério da Reforma Agrária, um paspalho lá estava e pretendia ser, nem sei se é, candidato a deputado, todos falsos e desmentidos.

Não há uma só verdade no "governo" FHC a começar pelo próprio. O processo eleitoral lembra os velhos filmes de faroeste, quando as quadrilhas de uma determinada região apossavam-se de uma cidade, compravam o prefeito, o juiz, o xerife e o povo ficava esperando John Wayne aparecer para libertá-los. A diferença é que nos filmes John Wayne chegava e resolvia. Aqui não. John Wayne é do lado dos bandidos.

Serra faz o que quer. A lei eleitoral é só para os seus adversários. A justiça eleitoral é presidida por um compadre do candidato, ex ministro de FHC, um sujeito sem qualquer escrúpulo inclusive em conceder liminares madrugada à dentro para favorecer seu amigo.

A isso somam-se os meios de comunicações, os fartos recursos para a campanha de Serra e, na ponta, os institutos de pesquisa para criar a ilusão, que acaba virando verdade, pois repetida diariamente, de virada do candidato. Não duvido nada que após ultrapassar Ciro Gomes, ainda no primeiro turno, a persistir a política de arrasa quarteirão das quadrilhas, impunes e amparadas por quem deveria cuidar do respeito à lei, que gerem uma situação de empate técnico com Lula, para entrar no segundo turno com mais calma e tranqüilidade.

Os gastos previstos para a saúde, em 2003, crescem cerca de 5%, segundo proposta de FHC, menos que a inflação anual que é de pouco mais que 9%. Serra disse o contrário no debate; Disse que ele, repito, ele, conseguiu deixar a saúde com mais dinheiro para o ano que vem.

Os gastos com reforma agrária, saneamento básico e habitação sofrem uma redução de 60%. Há uma queda nos investimentos públicos da ordem de 30%, caindo de 11 para cerca de 7 bilhões de reais. Já o pagamento de juros pula de 54,6 bilhões de reais, para 67,5.

As afirmações destemperadas, cínicas de José Serra no debate, passaram por cima desses números e o candidato apresentou os números que quis. Mostrou o cenário que entendeu e do jeito que achou melhor.

A questão brasileira não está nos números, senão para mostrar a mentira, a farsa, desmascarar os caras que fingem que nos governam enquanto entregam o País. A questão é política, só política. Não há como prosseguir com o modelo atual e nem há como deixar de planejar a ruptura com tudo o que está aí. O que Serra, na hipótese de virar presidente/gerente, ou capataz, está em moda depois da eleição do texano, vai fazer é apenas aprofundar o processo de recolonização do Brasil. Só isso. Consolidar tudo o que FHC fez e está fazendo.

Imagine que o candidato Garotinho, do alto de seu total desconhecimento da fórmula da água e das características de sua candidatura de fancaria, até ele, pegou Serra. Claro, não tem compromisso com coisa alguma e nadou de braçadas.

Garotinho fez a conta dos 8 milhões de empregos prometidos por Serra, 2 milhões por ano de mandato e chegou a 160 mil, aproximadamente, por mês, isso no País do desemprego, no "governo" que o apoia. Ato contínuo, pediu ao candidato tucano que não espere sua "vitória", mas comece logo, já que é homem do Palácio, explicando a fórmula e permitindo que, nesses quatro meses finais de seu "padrinho", FHC, sejam gerados 640 mil empregos. E tem um detalhe: por mais que Ciro seja complicado, tenha alianças um tanto difíceis, mas Lula também tem, em nenhum momento de sua vida pública o candidato da dupla ACM/Brizola, foi acusado de corrupção. Ao contrário, Serra transpira corrupção e mentira.

O que Serra fez foi colar no seu principal adversário no primeiro turno, um rótulo, prática velha mas eficaz e deitar rolar. É preferível fazer assim, dá resultados imediatos, sabe que os veículos de comunicações depois vendem

Xuxa, Sílvio Santos, Gugu (ganhou canais de tevê do governo), Big Brother, Ilha da Sedução, essas coisas assim e amarram tudo no "Jornal Oficial", dito Nacional, que o povo compra. Boa parcela do eleitorado brasileiro, boa bota boa nisso, é susceptível de acreditar que se acender velas para a estabilidade todos os dias, sai do buraco.

É duro mas é verdade.

Se não houver reação, ampla mobilização, inclusive dos principais candidatos à presidente, Serra chega lá sem problemas.

A propósito, Vox Populi e IBOPE/Rede Globo divulgaram hoje os resultados de novas pesquisas. No Vox Populi, o do cunhado de Collor, Ciro caiu para 20% e Serra chegou a 19% das intenções de votos. No outro, o IBOPE, o do "governo", há um empate numérico entre ambos: 17%. Como sempre, Lula e Garotinho mantiveram seus percentuais. Não houve nenhuma alteração. Tudo dentro do planejado por eles.



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