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19 de setembro de 2002 |
Gabriel Perissé
Perguntar é o melhor instrumento de que dispomos para aprender, e quem não pergunta é porque não quer nem saber.
Quem não quer saber desistiu de usar o anzol da pergunta - o sinal de interrogação (?) parece um anzol, não parece? - para pescar os diferentes peixes que nadam por aí. Nesta pesca intelectual, captamos informações, opções, abordagens, realidades, argumentos, motivos, surpresas, verdades e mentiras, decisões, idéias, soluções inusitadas, dúvidas e certezas, inspirações, sugestões, teorias, novas perguntas, um cardume sem fim. Perguntar não ofende, perguntar fende o muro da mudez. Perguntar traz à tona o que ninguém sabia, nem aquele que resolveu responder. Ninguém nasce sabendo, e todos morreremos sem saber se não soubermos fazer as perguntas certas, perguntas que são o começo das soluções. A editora Campus publicou um livro do jornalista Andrew Finlayson - Perguntas que resolvem -, cujo enfoque empresarial não deixa de ser estimulante para quem deseja fazer da sua vida uma pesquisa intelectual, filosófica, existencial. Os diálogos socráticos eram um pingue-pongue de perguntas e respostas, de respostas que funcionavam como perguntas implícitas, e o papel da educação é este, em sua essência: estimular-nos a pensar a partir de perguntas, despertar a paixão pelo questionamento inteligente, aquele que sabe ouvir as respostas. Uma boa pergunta é: que perguntas devo fazer? Martin Luther King tinha uma repergunta - "A pergunta mais urgente é: o que você está fazendo pelos outros?" Perguntas incomodam porque nos arrancam de nosso comodismo. Perguntas esclarecem ao próprio perguntador o que ele está pronto para saber. Quais são as suas perguntas urgentes? Você nunca se perguntou sobre isso? Por que foge delas? Até quando? Em que acredito? O que eu faria se soubesse ser hoje o meu último dia de vida? Que perguntas decisivas eu deixei de fazer? Quando pretendo fazê-las? E a que pessoas eu devo fazer essas perguntas? Se uma definição define o definidor, as perguntas que faço me definem também. Minhas perguntas demonstram o grau de interesse que tenho por esse estranho, por esse maravilhoso fato de viver. Eu sou as perguntas que faço. Andrew Finlayson recolheu um ditado nigeriano - "Não saber é terrível; não querer saber é ainda pior". De fato, não perguntar é morrer de fome aos poucos, sem desconfiar de nada. E para não terminar, nada melhor do que uma última pergunta. Você não acha? |
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