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La insignia
9 de setembro de 2002


Não tropece na língua!

Conhecer, pisar, chegar


Maria Tereza Piacentini (*)
Língua Brasil, setembro de 2002.


"Nos tribunais, é usual a seguinte expressão: '...não conhecer do recurso'. Não conhecer é utilizado no sentido de não admitir, não ser recebido para discussão do mérito. Pode ocorrer por ser inadequado, intempestivo ou porque não foi recolhida a quantia do denominado 'preparo'. Comenta-se que no Superior Tribunal de Justiça ocorreu grande polêmica a respeito dessa expressão e por isso formulo a consulta: a) ...não conhecer do recurso ou b) ...não conhecer o recurso?" T.N.V., Florianópolis/SC.

O verbo conhecer, nos seus significados mais comuns de "saber, ter idéia, informação, consciência ou experiência, apreciar, conviver com", é transitivo direto, ou seja, é usado sem nenhuma preposição; e neste caso o pronome objeto é o/a, e não 'lhe':

- Conheço bem os seus defeitos.
- O desembargador conhece Português como poucos.
- No ano passado conhecemos o sul da Espanha.
- Já não a conheço?
- Vou assistir, em Porto Alegre, à conferência de Maffesoli, pois eu o conheci em Paris há dois anos.

É igualmente possível usar o verbo como transitivo indireto, preposicionado - porém com o sentido mais restrito de"informar-se, procurar saber":

- Precisamos conhecer das condições de venda do imóvel.

E também, na área jurídica, usa-se conhecer de significando "ter (juiz ou tribunal) competência para intervir num processo; tomar conhecimento de uma causa ou recurso e dar-se competente para julgá-la", conforme palavras dos dicionários; ou não conhecer de com o sentido explicitado pelo leitor catarinense:

- O juiz decidiu conhecer do pedido.
- O Supremo não conheceu do recurso.
- Nos termos do voto do relator, à unanimidade, conheceram do recurso para negar-lhe provimento.

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"Qual a expressão correta: Não pise na grama; Não pise a grama; ou Não pise à grama. Esta última me pareceu bastante estranha, mas foi vista no jardim de um órgão público federal." Ednaldo João Ariane Silva, Salvador/BA

O verbo pisar, no sentido de "pôr os pés no chão, andar, caminhar", pode ser tanto transitivo direto quanto indireto, com a preposição "em". Isso significa que a prep. "a", no caso de "à grama", foi mal empregada. É possível dizer:

- Pisar a grama. ou Pisar na grama.
- Pisar as flores. / Pisar nos amores-perfeitos. / Pisar em ovos. / Pisar nos calos.

***

"Qual das formas é a correta: 'Estou chegando em Santos' ou 'Estou chegando a Santos'?" João Francisco, São Paulo/SP

O verbo chegar rege a preposição a: chegar ao lugar certo/ à frente/ às vias de fato/ chegar a uma conclusão. Todavia, no Brasil usa-se muito a preposição 'em' diante de complemento de lugar, sobretudo cidades, assim como se usa 'em', corretamente, com o complemento 'casa': chegar em casa.

Já no tempo do português arcaico (séculos XIV a XVI) havia grande emprego de verbos de movimento com a preposição "em" no lugar de "a". Portanto, nada de novidade em "chegou em São Paulo, chegaram na Bahia". De todo modo, fica a distinção:

formal: Estou chegando a Santos
coloquial: Estou chegando em Santos.


(*) Maria Tereza de Queiroz Piacentini, autora dos livros "Só Vírgula" e "Só Palavras Compostas", é diretora do Instituto Euclides da Cunha - www.linguabrasil.com.br



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