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La insignia
20 de outubro de 2002


Não tropece na língua!

Em vez disso... quando mais não seja


Maria Tereza Piacentini (*)
Língua Brasil, outubro de 2002.


"Gostaria de receber informações sobre o uso das formas: em vez de e ao invés de." Luiz Antonio Caldeira Coelho, Belo Horizonte/MG


Na teoria, temos o seguinte:

- em vez de significa em lugar de; dá idéia de substituição: ficar em casa em vez de ir à escola; beber cerveja em vez de refrigerante; usou 11 cadeiras em vez de 12;

- ao invés de significa ao contrário; indica situação oposta: ao invés de ajudar-me, seu gesto me prejudicou; subiu ao invés de descer; compareceu a direita ao invés da esquerda.

Isso é o que dizem os livros e manuais de gramática. Na prática, porém, nem sempre essa distinção é clara, isso porque toda idéia de oposição implica uma coisa no lugar de outra, o que dá margem ao uso de "em vez de" - ou mesmo "no lugar de" - em qualquer situação. Vamos conferir:

- Seu gesto me prejudicou em vez de me ajudar.

- Ela subiu a rampa em vez de descê-la.

- Em vez da direita, quem compareceu ao comício foi a esquerda.

O gramático Napoleão Mendes de Almeida (Dicionário de Questões Vernáculas, 1981:26) diz textualmente: "A primeira locução - em vez de - pode ser usada nos dois casos; a segunda, que se prende ao étimo inverse (inversamente), denota sempre contraste, oposição; não pode ser empregada como simples sinônima da primeira." Daí se conclui que utilizar apenas (ou pelo menos em caso de dúvida) a expressão "em vez de" significa estar sempre certo. Simples, não?

E para quem sabe inglês, devo chamar a atenção de que a tradução de ambas as locuções é uma só: instead of, o que mostra mais uma vez o artificialismo da "diferença" entre elas. Portanto, chega de insistir o professor em rotular de erro o que não é.

***

¨ "Nunca sei se devo escrever 'quando mais não seja' ou 'quanto mais não seja'." Marisa Pinto, São Paulo/SP


"Que valor semântico possui a expressão 'tanto mais não fosse' [ou 'seja', no presente] que eu encontro principalmente nos clássicos da literatura?" N.M., João Pessoa /PB

Use a primeira, com d. Há duas opções corretas, com quando e com tanto (daí o cruzamento que leva a "quanto"): "quando mais não seja" e "tanto mais não seja".

Essa locução tem valor condicional ou concessivo. Vale aproximadamente por "se não for (para) outra coisa, nem que seja/fosse". Exemplos:

- Convém protestar, quando mais não seja para provar que estamos vivos. - Embora sonolenta, pretende recitar todos os versos de cor, tanto mais não seja para agradar à tia, empertigada na primeira fila.

- Gomes até recebera oferta para trabalhar com um primo riquíssimo que morava em Santos; disse que iria aceitá-la, tanto mais não fosse para provar aos parentes que tinha o seu valor.

¨ "'Personagem' é um substantivo comum de dois? Diz-se um personagem e uma personagem?" F. G., Belo Horizonte/MG

Sim. Já que se trata de substantivo de dois gêneros, podemos dizer um/o personagem ou uma/a personagem, indiferentemente, seja a referência a homem ou mulher.


(*) Maria Tereza de Queiroz Piacentini, autora dos livros "Só Vírgula" e "Só Palavras Compostas", é diretora do Instituto Euclides da Cunha - www.linguabrasil.com.br



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