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La insignia
17 de novembro de 2002


Não tropece na língua!

Próximo e seguinte, (nem) tampouco


Maria Tereza Piacentini (*)
Língua Brasil, novembro de 2002.


A leitora Irene Taitson, de Brasília/DF, escreve: "Tenho visto as palavras 'próximo/a' e 'seguinte' sendo usadas indistintamente quando a pessoa se refere a tempo. Entendo que há uma diferença sutil entre elas e gostaria de saber mais sobre isso."

Há diferença de uso entre os dois adjetivos, sim:

PRÓXIMO é usado para indicar aquilo que se segue ou acontecerá numa situação futura; trata-se do seguinte ao atual, de fato posterior ao momento em que se escreve ou fala:

-Poderias ficar em silêncio pelo menos nos próximos dois minutos?
- Na próxima semana iremos a Brasília cumprimentar o presidente eleito.
- O diretor quis ver o novo regimento, pelo qual deve pautar suas próximas ações.
- Este número da revista já está fechado - seu artigo sairá no próximo.
- E 2002 chega ao fim. O que nos trará o próximo ano?

SEGUINTE quer dizer subseqüente, posterior a outro, ou seja, que vem ou ocorre depois (de um fato anterior que serve de referencial):

- Na primeira semana do ano visitamos as cidades históricas, retornando ao Rio na semana seguinte.
- Ignorando o plano, a Secretaria assentou, como estava habituada a fazer, suas ações seguintes no quadro de prioridades do seu próprio planejamento.
- Guga foi bem no primeiro set mas falhou nos dois seguintes. Assim, não aconteceu a partida seguinte, que seria com um adversário russo. O tenista espera recuperar os pontos perdidos no próximo torneio. [que ainda não aconteceu]

O adjetivo SEGUINTE em geral está relacionado ao tempo passado, mas pode ser usado com verbo no futuro desde que haja essa relação de seqüência a um referencial anterior:

- Seu próximo ato será a escolha dos assessores; o seguinte será sua nomeação.
- Primeiramente vamos revogar a portaria. O passo seguinte será fixar novos juros.

**

O leitor Airton Santos, de São Paulo/SP, pergunta qual a diferença entre tampouco e tão pouco. E A.K., de Brasília/DF, consulta: "Sobre a expressão nem tampouco, gostaria de saber se é erro a repetição da negativa, ou apenas uma questão de estilo ou ênfase."

Tampouco é um advérbio que significa também não. Sua grafia vem de tam (= tão) + pouco, que em Portugal se escreve tão-pouco.

Tão pouco, separado, são duas palavras distintas que querem dizer aproximadamente muito pouco, por exemplo: "Faz tão pouco tempo que estão casados e já pensam em divórcio. O salário mínimo compra tão pouco! [= tão pouca coisa]".

Quanto a NEM TAMPOUCO, não se trata de erro, mas sim de recurso lingüístico de reforço da negação; não só lhe dá mais ênfase como serve de elemento sonoro de ligação (conectivo) entre as orações ou partes da oração, sobretudo na linguagem falada. Assim, é considerado uma alternativa menos formal a TAMPOUCO, não havendo necessidade de corrigir os outros quando falam ou escrevem com o acréscimo da negativa. Exemplos:

-Não concordamos com a redação do anteprojeto. Tampouco aceitamos as emendas apresentadas.
- O deputado não compareceu às sessões, tampouco justificou sua ausência.
- Não proibimos fumar no jardim nem tampouco andar na grama.
- Não quis provar o doce, nem tampouco teve curiosidade a respeito dos ingredientes. - Ela não saiu; eu tampouco.
- A mãe não conseguiu encontrar a boneca que a filha pedira e tampouco viu nas lojas um brinquedo ideal para o menino.

No "Mundo das Palavras" nº 3.264, Celso Luft deu este exemplo: "Não lê, (nem) tampouco escreve", o que significa que ele considerava facultativo o uso da partícula nem nesse caso.


(*) Maria Tereza de Queiroz Piacentini, autora dos livros "Só Vírgula" e "Só Palavras Compostas", é diretora do Instituto Euclides da Cunha - www.linguabrasil.com.br



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