Tilden Santiago: Sérgio Buarque de Holanda

A Câmara dos Deputados iniciou, semana passada, a série de homenagens que Sérgio Buarque de Holanda fará jus pela passagem de seu centenário de nascimento. Nascido a 11 de julho de 1902, ele deixou um legado que dificilmente será igualado em termos de qualidade, competência, ética e radiografia de um país, até hoje, em busca de seu destino.

É o autor do inigualável "Raízes do Brasil" - publicado em 1936 -, esta que é uma obra referência em todas as universidades brasileiras e de tantos "brazilianistas" que pretendem conhecer e entender este país, sua gênese e seu futuro. "Raízes do Brasil", "Casa Grande e Senzala", de Gilberto Freire e "Formação do Brasil Contemporâneo", de Caio Prado Júnior, são "as chaves que exprimem a mentalidade ligada ao sopro de radicalismo intelectual e análise social que eclodiu depois da Revolução de 1930 e não foi abafado pelo Estado Novo.

Sérgio Buarque enfrentou duas ditaduras - a de Getúlio Vargas e a militar de 1964 - tendo sido um dos integrantes da Esquerda Democrática, que culminou na fundação do Partido Socialista Brasileiro. Nos anos 80, ao lado de Antonio Cândido e de Mário Pedrosa, foi um dos intelectuais que fundaram o Partido dos Trabalhadores ao lado do metalúrgico Lula. Em seus últimos anos de vida, sem jamais perder o bom humor, Sérgio dizia aos amigos que, depois de lecionar por várias universidades - daqui e de outros países -, passou a ser orgulhosamente conhecido simplesmente como "o pai do Chico", devido à imensa e merecida notoriedade do filho.

Foi antes de tudo um homem simples. Sua inteligência e seu brilho jamais foram ofuscados por quaisquer resquícios de arrogância ou pedantismo intelectual. Como sentenciou Frei Betto, Sérgio era um homem que "não acreditava em Deus, mas cumpriu seus desígnios". O Brasil agradece e reverencia Sérgio Buarque de Holanda por sua obra, por sua brasilidade. Que as novas e as futuras gerações mirem-se no seu exemplo.

(*) Tilden Santiago (PT-MG) é deputado federal