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12 de março de 2002 |
Brasil RS constrói centro pioneiro de microeletrônica na América Latina
Marco Aurélio Weissheimer
O governo do Rio Grande do Sul assinou nesta semana uma parceria com a empresa texana Spectra, uma divisão da Kinetic Systems, sediada na Califórnia, para a elaboração da planta do primeiro núcleo de prototipagem de circuitos integrados da América Latina. A empresa californiana tem um prazo de onze semanas, a contar da publicação do contrato no Diário Oficial do Estado (DOE), para apresentar o projeto definitivo. Após esta etapa, a Secretaria de Ciência e Tecnologia (SCT) deve abrir licitação para a escolha da empresa que executará o projeto. O governo gaúcho vai investir US$ 234 mil no projeto de engenharia. A cerimônia de assinatura da parceria contou com a presença do governador Olívio Dutra (PT) e do diretor regional de Semicondutores para o Conesul da Motorola, Antônio Calmon. A planta integrará o Centro de Excelência em Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec), resultado de uma parceria entre o governo gaúcho e a empresa norte-americana de microeletrônica Motorola.
O Ceitec será o único centro da América Latina com capacidade para desenvolver todas as etapas de produção de circuitos integrados. O empreendimento tem custo total de R$ 92 milhões, divididos em R$ 11 milhões do Estado, R$ 44 milhões do Ministério da Ciência e Tecnologia e R$ 34 milhões da Motorola, devendo estar concluído até 2004. O projeto é apoiado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Pontifícia Universidade Católica (PUC/RS) e Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Durante a assinatura do convênio, nesta quinta-feira, o governador Olívio Dutra afirmou que o Ceitec permitirá o domínio da fabricação e circuitos integrados de alta tecnologia, inovando a matriz tecnológica do Estado e, por extensão, do Brasil e da América Latina. Além da produção de chips, o Ceitec vai trabalhar também na formação de recursos humanos na área de microeletrônica. O projeto é a âncora do Programa Nacional de Microeletrônica, lançado em 2001 pelo governo federal. Os componentes eletrônicos ocupam hoje o segundo lugar na pauta de importação brasileira, ficando atrás apenas do petróleo. O Brasil gasta, anualmente, de U$ 4 a U$ 6 bilhões na compra destes componentes. A criação do Ceitec é considerada uma condição indispensável para a instalação de fábricas destes componentes, que exigem investimentos milionários. Segundo o secretário executivo do Programa Nacional de Microeletrônica, Reny dos Santos Filho, se uma fábrica desse gênero quisesse se instalar no Brasil hoje não haveria engenheiros capacitados para trabalhar na área de microeletrônica. Ele acredita que, através da implantação do Ceitec, as chances de instalação de uma fábrica em médio prazo são de quase 100%. Governo gaúcho atraiu projeto que São Paulo não quis A instalação do Ceitec é resultado da política do governo gaúcho de priorizar a atração de empresas e investimentos em setores estratégicos e geradores de tecnologia. As áreas de microeletrônica e biotecnologia foram escolhidas como duas das principais prioridades. Inicialmente, o projeto do Ceitec deveria estar ligado à Universidade de São Paulo. No entanto, a proposta foi considerada "muito acadêmica" pelo governo Mário Covas. A Motorola, que está interessada em ocupar o vácuo existente na cadeia produtiva de eletroeletrônicos na América Latina, estava transferindo o projeto para o México, quando foi contactada pelo governo gaúcho que apresentou uma nova proposta à empresa. Segundo esse projeto, formulado por pesquisadores da USP, o Ceitec deve ser transformado em uma instituição pública, não-estatal, comandada por um conselho gestor formado por representantes de centros de pesquisa, universidades, empresas privadas, prefeitura de Porto Alegre e os governos estadual e federal. A Motorola fará a doação inicial dos equipamentos e será responsável pela transferência e atualização de tecnologia e treinamento de pessoal. Os primeiros profissionais a trabalhar no Ceitec serão pesquisadores ligados a universidades com passagens pelo mercado. O Centro de Excelência em Tecnologia Eletrônica Avançada é um complexo para a fabricação de protótipos de circuitos integrados com pelo menos um milhão de transistores. Para a implantação do Ceitec, será construído um prédio com cerca de 7.300 m2 em Porto Alegre. Ele terá uma sala limpa de 800 m2, com ambientes classe 100 e classe 10, onde será instalada uma completa linha de equipamentos, abrangendo todas as etapas de um processo produtivo industrial. O prédio incluirá áreas de escritórios e laboratórios para o desenvolvimento de projetos com parceiros nacionais e internacionais, com o objetivo de fomentar a criação, atração e consolidação de empresas de base tecnológica. Ceitec produzirá circuitos integrados de apenas 0,3 micron Sala limpa é o nome genérico para caracterizar um ambiente com controles rígidos de temperatura, umidade e grau de impureza no ar. É uma área totalmente isenta de interferências externas. Quanto menor o número da classe da sala limpa, maior o grau de pureza do ambiente. Assim uma sala Classe 100 possui, no máximo, 100 partículas maiores que 0,5 micron por pé cúbico de ar. Quando existem apenas 10 partículas maiores de 0,5 micron, a sala recebe a classificação de Classe 10. O micron é a unidade de medida em microeletrônica. Cada micron significando um milionésimo de metro. O Ceitec terá a capacidade de produzir circuitos integrados de apenas 0,3 micron. O grande benefício esperado com a implantação do Ceitec tem caráter nacional. Através da sua instalação, o país terá condições para a fabricação local de componentes eletrônicos, que atualmente demanda a importação anual de US$ 6,6 milhões, com projeção de dobrar em cinco anos. Com o Ceitec, o custo de desenvolvimento de produtos eletro-eletrônicos será menor, o que aumentará a competitividade da indústria gaúcha e brasileira. A previsão é que o Centro estimule a formação de uma rede de prestação de serviços técnicos e tecnológicos que possibilitem a qualificação de produtos e processos do complexo eletro-eletrônico. O Ceitec permitirá também o aumento do intercâmbio entre pesquisadores de alto nível, vindos de setores acadêmicos e empresariais, tanto nacional como internacional. A ação conjunta entre o Ceitec e as instituições de ensino superior possibilitará um significativo acréscimo na capacidade estadual, e mesmo nacional, de realização de projetos de pesquisa e de formação de recursos humanos, nos mesmos padrões dos melhores centros internacionais. |
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